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Com juro menor, é preciso economizar mais

 
 
A taxa de juros baixa e a maior e a expectativa de vida da população vão obrigar o brasileiro a aumentar o empenho para garantir a mesma renda na aposentadoria. Estimativa da professora da Fundação Getulio Vargas e planejadora financeira Myrian Lund mostra que, com a rentabilidade de 5% ao ano – comum hoje, com a taxa básica de juros (Selic) em 7,5% ao ano -, uma pessoa que começa a poupar aos 30 anos terá que contribuir mensalmente com R$ 898,49 para conseguir se aposentar aos 65 anos com uma renda de R$ 5 mil. O montante é pouco mais de duas vezes (2,4), ou 143,76%, o valor (R$ 368,59) que precisava ser recolhido todo mês quando a remuneração era de 9% ao ano, em 2011. Mesmo diante do esforço para acumular os recursos, já há planos que vão perder para a inflação este ano, ou seja, não conseguirão nem garantir o poder de compra.
Quanto mais tarde se começa a economizar, maior é o esforço para garantir a aposentadoria.
Aos 40 anos, o valor mensal deve ser de R$ 1.700,33 no cenário atual, ante R$ 938,70 no contexto anterior. Quem começa aos 50 anos precisava de R$ 2.707,96 por mês quando a remuneração era de 9%, montante que subiu para R$ 3.760,76 nos dias atuais, com a taxa a 7,5%.
– Os juros baixos são bons para a economia, mas péssimos para o poupador. É preciso se adaptar a esta nova realidade – afirma o educador financeiro e fundador da Academia do Dinheiro, Mauro Calil.
As taxas de juros perto do menor nível histórico – a despeito do ciclo de alta iniciado em abril – coincidem com uma época na qual os brasileiros vivem cada vez mais. Em 2011, a expectativa de vida era de 74,08 anos, 3,65 anos a mais que em 2000. Junte-se a isso um cenário, pelo menos de curto prazo, de inflação elevada.
– É possível e provável que alguns planos de previdência estejam perdendo para a inflação.
Mas isso não é exclusivo da previdência: é uma questão de toda a renda fixa tradicional. Para garantir uma remuneração maior, é preciso assumir mais riscos – reconhece Calil.
RENDA VARIÁVEL TRAZ GANHOS E RISCOS
Para tentar contornar essa rentabilidade pequena da renda fixa, Myrian Lund explica que é possível se arriscar mais e optar por planos mistos, com renda fixa e renda variável. Hoje, a legislação permite planos de perfil mais agressivo, com até 49% do saldo em renda variável. Como a previdência é um investimento de longo prazo, ganha-se tempo para diluir os riscos.
Quem insistir na renda fixa, deve tomar ainda mais cuidado com a taxa de administração.
É preciso lembrar, ainda, que a previdência privada não é a única alternativa para a acumulação de recursos para a aposentadoria. O planejador financeiro Marcos Brízido, da Iris Investimentos, diz que é preciso pensar em outras opções e sugere que o melhor caminho é manter uma carteira de investimentos diversificada.
– Não vejo a previdência privada como a melhor opção. Além disso, está muito difícil ficar sem trabalhar, então acho que é preciso pensar também em alternativas para continuar com alguma atividade mesmo depois da aposentadoria – afirma Brízido, autor do livro “Dinheiro que dorme a onda leva”.
Se o esforço é cada vez maior para quem começa a acumulação de recursos, a dúvida para quem já está na hora de receber o resultado de seu esforço é como fazer o dinheiro render mais. Especialistas discordam sobre as estratégias de saque dos recursos acumulados no plano de previdência privada. Há quem acredite que o melhor é o resgatar tudo ou parte dos recursos – ainda que a mordida do Imposto de Renda ocorra de uma só vez -, enquanto outros acreditam que o mais indicado, especialmente para quem não tem disciplina financeira, é optar pela renda vitalícia.
– Quem resgata tudo tem que pagar um valor grande de uma só vez ao Imposto de Renda.
Além disso, corre o risco de acabar gastando demais e ficar com pouco lá na frente. Para quem não tem disciplina financeira, o melhor é optar pela renda vitalícia – defende Myrian Lund.
Para Marcos Brízido, a melhor opção é sacar os recursos e administrá-los por conta própria: – A opção pela renda vitalícia acaba sendo uma aposta da empresa que administra o plano.
Se a pessoa morrer antes, parte dos recursos ficam para ela, não para a família do poupador.
Danieli Dagnoni, de 26 anos, começou a contribuir para um plano de previdência privada cedo, aos 21 anos, e já aumentou duas vezes o valor mensal.
– Sei que a aposentadoria será muito importante lá na frente e acho importante me preparar para o futuro – diz Danieli, que trabalha desde os 16 anos e não deixou de pagar a previdência privada nem durante os seis meses durante os quais ficou desempregada.
– É um compromisso, nem conto com esse dinheiro no orçamento.
Um dos riscos de contribuir com valores pequenos, apontam especialistas, é se surpreender com uma renda baixa no futuro. Simulação feita por Myrian Lund indica que quem começou a contribuir aos 30 anos com R$ 100 mensais pode se aposentar aos 65 anos com renda vitalícia de R$ 815,86.
– Não é qualquer contribuição que garantirá tranquilidade na aposentadoria – diz Myrian.
A planejadora frisa que todos devem se preocupar com detalhes do plano, como a tábua atuarial, que projeta as expectativas de vida.
Se a esperança de vida aumenta, a renda mensal diminui, já que a pessoa tende a viver por mais tempo e o plano terá que arcar com esses custos por um período maior. Por isso, as tábuas dos planos mais antigos são mais vantajosas que as dos novos: a expectativa de vida era menor.
As informações sobre as características do plano de previdência devem ser levadas em consideração, ainda, na hora de decidir se vale a pena levá-lo para outro banco ou seguradora.

Fonte: O Globo

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