Com a moeda europeia, comércio entre o Brasil e o bloco subiu 204%
A adoção de uma moeda única na Europa coincide com a expansão do comércio entre o Brasil e o Velho Continente. Segundo Ministério da Indústria, Comércio Exterior e Serviços, o fluxo comercial com a União Europeia saltou de US$ 29,1 bilhões, em 2002, para US$ 88,7 bilhões, em 2015, avanço de 204,8%. O bloco é o segundo maior parceiro comercial do Brasil, com exportações de café, soja e produtos siderúrgicos, atrás da China.
Guito Moreto – Exportações. Soja está entre os produtos que o Brasil exporta para a Europa – Considero o euro uma grande revolução monetária. Criou-se uma nova moeda reserva capaz de acabar com o monopólio do dólar. Para o Brasil, as fontes de recursos externos foram ampliadas. O euro aumentou as exportações para a União Europeia – diz Carlos Langoni, ex-presidente do Banco Central e diretor do Centro de Economia Mundial da Fundação Getulio Vargas.
Para José Augusto de Castro, presidente da Associação de Comércio Exterior do Brasil (AEB), o sucesso do euro como “concorrente” do dólar em transações internacionais é relativo. A criação da moeda coincide com o boom de commodities e não pode ser considerada o único fator por trás do aumento do fluxo comercial. Segundo ele, a participação do euro nas transações comerciais sempre girou de 10% a 15%, não chegando a dividir a participação com o dólar: – O que era para ser uma moeda aparentemente estável mostrou que está sujeita às flutuações do momento, por razões econômicas e políticas. Foi boa a participação do euro nesses 15 anos, embora não tenha alcançado o que se imaginava. O euro não é destaque, mas também não é uma decepção.
Lia Vals Pereira, professora da FGV, concorda: – Moeda única facilita o comércio pelo menor custo de transação. Quando o euro foi criado, a moeda se valorizou, o que facilita exportações para o bloco.
Além do comércio, o euro impulsionou investimento estrangeiro direto (IED) da Europa no Brasil. Segundo dados da Eurostat, o fluxo de recursos para o Brasil cresceu mais de 11 vezes entre 2003 e 2012, alcançando 24,9 bilhões em 2012.
BRASIL ATRAI ESPANHÓIS Luis Afonso Lima, diretor-presidente da Sociedade Brasileira de Estudos de Empresas Transnacionais e Globalização Econômica (Sobeet), diz que a divisa explica esses resultados.
– O ganho mais óbvio é o custo de transação. Ficou mais fácil fazer investimentos em outros países. Algumas economias foram beneficiadas. O caso mais exemplar é o da Espanha, que era um país fechado comparativamente aos outros e, com a adoção do euro, teve uma internacionalização. Isso nos beneficiou. O Brasil acabou virando um grande receptor de investimentos espanhóis – afirma Afonso, acrescentando que a Espanha é o terceiro maior investidor estrangeiro direto do Brasil, atrás de EUA e Países Baixos.
O economista avalia ainda que o Brasil se beneficiou quando a crise internacional atingiu mais fortemente a Europa, em 2011, tornando-se refúgio para companhias europeias.
Langoni, da FGV, avalia que o saldo dos 15 anos é positivo para o Brasil e para o mundo, embora a economia da região esteja diante de desafios importantes: – O saldo é positivo. Se o Reino Unido tivesse aderido ao euro, a saída seria mais difícil, talvez impossível. O impacto da desvalorização acentuada da libra seria importante desestímulo para a onda neopopulista e protecionista que varreu o Reino Unido. Esse efeito vai ser testado nas eleições francesas de março.
Fonte: O Globo
