Meio Ambiente

Clima: mudanças ameaçam o equilíbrio do setor de seguros

“As mudanças climáticas já são uma questão de saúde pública. Elas afetam o ar, a água, o solo, os alimentos e até a estabilidade emocional das populações”, afirmou a professora Helena Mariko Ueno, da USP, durante o 5º e último workshop da série “Jornada do Setor de Seguros Rumo à COP30”, promovido pela CNseg, cujo tema foi “O impacto das mudanças climáticas em vida e saúde”. O encontro reuniu especialistas para discutir como o aquecimento global está transformando não apenas o campo da saúde, mas também a gestão de riscos e a sustentabilidade financeira das seguradoras.

Em sua apresentação, Helena Ueno destacou evidências científicas e epidemiológicas que relacionam o desequilíbrio ambiental ao aumento de doenças e à deterioração das condições de vida. Ela explicou que o conceito de “saúde planetária” integra dimensões biológicas, sociais e ambientais, mostrando que o bem-estar humano depende diretamente da integridade dos ecossistemas. “Os desastres geram custos materiais, físicos e mentais. Investir em promoção da saúde significa reduzir gastos na assistência”, afirmou.

A docente chamou atenção também para o aumento das doenças cardiovasculares, respiratórias e infecciosas em razão do calor extremo e da degradação ambiental, além dos efeitos sobre a saúde mental das populações atingidas por eventos climáticos severos.

O atuário e consultor independente Bráulio Melo abordou a perspectiva econômica e financeira das mudanças climáticas, destacando que o fenômeno já impacta diretamente o desempenho das seguradoras. “O clima hoje já está redefinindo os nossos riscos, ele já está influenciando os resultados e o balanço das seguradoras”, afirmou.

Melo lembrou que as perdas globais seguradas por eventos climáticos ultrapassam US$ 120 bilhões por ano, com crescimento anual de até 10%, enquanto cerca de 60% das perdas econômicas continuam sem cobertura de seguro. “O inesperado já passou a fazer parte do cenário possível. Antes era improvável, agora é cada vez mais provável”, completou.

O consultor líder da ERM Brasil, Danilo Gurdos, destacou que as mudanças climáticas deixaram de ser uma questão distante para o setor de seguros de vida e saúde. Ele citou estudos recentes que mostram o impacto direto do calor extremo, da poluição e de doenças sensíveis ao clima, como dengue e zika, sobre as taxas de mortalidade e morbidade. “A ciência é unânime: as mudanças climáticas deixaram de ser um risco ambiental e passaram a ser determinantes de saúde”, afirmou. Para Gurdos, o setor deve adotar uma cultura de antecipação, usando dados climáticos para agir antes dos sinistros: “Agir antes também é parte da cura. A adaptação em saúde e vida reduz sinistros e salva vidas.”

O sócio da ERM Brasil, Guilherme Teixeira, reforçou a necessidade de integrar o risco climático às estratégias das seguradoras, destacando o papel do seguro na proteção de pessoas e empresas diante da nova realidade ambiental. “Ainda que a gente perceba mudanças já no presente, isso tem um impacto mais de longo prazo nas atividades de subscrição e no papel de prevenção, especialmente quando falamos de vida e saúde”, afirmou.

O gerente de Sustentabilidade da CNseg, Pedro Werneck, ressaltou que a série de webinars teve como objetivo fortalecer o papel do setor na agenda climática global: “Ainda que no curto prazo o impacto das mudanças climáticas em vida e saúde pareça menos material, no longo prazo ele tem um potencial de transformar também a realidade de negócios das empresas.”

Werneck destacou ainda que a CNseg busca incluir o setor de seguros de forma explícita no documento final da COP30, reconhecendo-o como instrumento essencial das finanças climáticas e da adaptação social frente às mudanças do clima. Com o webinar de 15 de outubro, a CNseg concluiu a série “Jornada do Setor de Seguros Rumo à COP30”, reafirmando o compromisso do setor com a construção de uma economia mais sustentável e resiliente.

Fonte: Sonho Seguro – Denise Bueno

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