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Clima faz mercado segurador reavaliar riscos

O mercado segurador global garantiu a cobertura de US$ 125 bilhões em relação a perdas provocadas por catástrofes naturais em 2022 – o segundo ano consecutivo em que os gastos referentes a esses fenômenos excederam os US$ 100 bilhões.

Os números confirmam a tendência de incremento anual médio de 5% a 7% em perdas seguradas nas últimas três décadas, segundo o relatório Sigma Swiss Re divulgado em março.

No Brasil, o relatório destaca as secas severas que afetaram a produtividade do agronegócio, sobretudo nas culturas de soja e milho, que resultaram em perdas seguradas no valor de US$ 1 bilhão.

Os eventos climáticos não são uma novidade para o setor de seguros. Porém, os efeitos das mudanças climáticas, em nível global, têm exigido das companhias uma nova consciência sobre mensuração e precificação de riscos climáticos, pela frequência e severidade dos eventos. “Na visão das seguradoras, o risco ambiental sempre foi um risco financeiro na sua essência, mas esse risco está se intensificando. As seguradoras precisam entender como colocar os aspectos socioambientais na matriz de risco para saberem precificar”, diz Fátima Lima, diretora de sustentabilidade da Mapfre.

Quando se fala em sustentabilidade, Lima ressalta a necessidade de o mercado se aprofundar na gestão de riscos e incluir atuários nessa discussão. Ela destaca a inciativa da Confederação Nacional das Seguradoras (CNseg) para ajudar seguradoras a desenvolverem ferramentas para mensurar riscos climáticos.

Até o fim do primeiro semestre de 2023, a CNseg vai finalizar um projeto para o mapeamento de riscos climáticos em todo o Brasil. O projeto inclui um mapa de calor (heat map) para medir a exposição do país a 12 riscos climáticos físicos.

Desenvolvido pela United Nations Environment – Programme Finance Initiative (Unep- FI), braço financeiro da ONU para questões climáticas, o mapa considera dois cenários climáticos (aumentos de 2ºC e de 4ºC) e dois horizontes temporais, 2030 e 2050.

As seguradoras poderão avaliar os Estados e capitais mais impactados por ondas de calor e de frio, secas, mudanças crônicas de temperatura, enchentes fluviais, costeiras e urbanas, aumento do nível do mar, estresse hídrico, variabilidade sazonal, intensidade do vento e incêndio. “A partir do heat map, seguradoras podem construir uma metodologia de acordo com a realidade do negócio”, afirma Ana Paula Almeida Santos, diretora de sustentabilidade e relações de consumo da CNseg.

Rodolfo Bokel, sócio da corretora Globus Seguros, observa que o aumento severo de riscos climáticos já coloca o Brasil como um ambiente com maior probabilidade de catástrofes naturais. Fred Knapp, presidente da Swiss Re no Brasil, também enxerga um aumento da frequência e da severidade dos eventos climáticos, sendo que boa parte dos eventos não está segurado. “Fora do Brasil temos os seguros paramétricos. Aqui é preciso definir parâmetros, ter dados fidedignos e mapear muito bem quem vai mensurar esses dados para evitar fraudes. Mas, antes de definir os parâmetros, será necessária muita discussão. A Superintendência de Seguros Privados [Susep] tem papel fundamental nesse trabalho junto ao mercado”, afirma Knapp.

No primeiro bimestre deste ano, a Bradesco Seguros registrou, em relação ao acionamento de seguros para alagamentos e enchentes, um incremento de 8,6% no segmento Residencial e cerca de 57% no segmento Auto, em comparação ao mesmo período de 2022.

A preocupação com as mudanças climáticas levou a seguradora a desenvolver estudos com parceiros, como resseguradores. A meta é construir um mapeamento de vendavais e alagamentos voltado ao seguro residencial. “Desenvolvemos a Operação Calamidade desde 2015. Queremos aprimorar o atendimento ao consumidor e aperfeiçoar a oferta para corretores, sobretudo na região Sul. O mercado tem que investir em informações estruturadas para conseguir fazer modelos de parametrização”, diz Saint’Clair Lima, diretor da Bradesco Seguros.

Para Felipe Bastos, sócio do Focaccia, Amaral e Lamonica Advogados que atua no setor de seguros e resseguros, seguradoras e resseguradores precisam ser mais criativos e engenhosos para tornar possível a oferta de cobertura em caráter contínuo. “Essa necessidade é urgente, porque a capacidade de predição de ocorrência de eventos de risco, tanto em termos de frequência quanto em termos de severidade, tem avançado ao longo do tempo, mesmo diante de sua inevitabilidade”, afirma Bastos

Fonte: NULL

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