Clima econômico desaba na América Latina
A pandemia da Covid-19 reverteu a tendência de melhora que se desenhava no início do ano – e os indicadores de clima econômico da América Latina sugerem a entrada da região em uma fase recessiva, segundo dados divulgados nesta terça-feira (26) pela Fundação Getulio Vargas (FGV).
O indicador vinha se mantendo em terreno negativo e em queda desde abril de 2018, mas havia recuperado um pouco das perdas na pesquisa de janeiro deste ano, chegando a 14,1 pontos negativos. Em abril, no entanto, essa recuperação foi apagada: o Indicador de Clima Econômico despencou a 60,4 pontos negativos, o pior resultado da série histórica, iniciada em janeiro de 1989.
Houve piora tanto da situação atual, que recuou de -53,8 pontos em janeiro para -89,9 pontos em abril, quanto das expectativas, que caiu de 36,5 pontos para -23,1.
“Os resultados mostram que a América Latina estava numa fase de recuperação do ciclo econômico no começo de 2020, com o indicador de expectativa melhorando e positivo, e o da situação atual, negativo, mas melhorando. Os resultados de abril mostram que a pandemia levou a região direto para uma fase de recessão, com reversão de expectativas e uma piora muito expressiva nas avaliações sobre a situação atual”, aponta a FGV em nota.
Resultados dos países
Apesar da piora ser generalizada, a grande dispersão dos indicadores de expectativas pode refletir as diferentes percepções de como a pandemia está sendo enfrentada em cada país.
O resultado de abril de 2020 mostra deterioração do indicador de clima econômico em todos os países da América Latina. Os maiores recuos ocorreram no Paraguai, de 28,0 pontos positivos para 70,4 pontos negativos, e no Brasil, de 2,0 negativos para 60,9 negativos no mesmo período.
Em relação à percepção sobre a situação atual, os indicadores são negativos para todos os países em abril. No Brasil, o indicador caiu de -52,2 pontos em janeiro para -90,9 pontos abril. Ainda assim, não é o pior resultado da série histórica: ele ficou em -100 pontos entre janeiro e abril de 1991 e de julho de 2015 a outubro de 2016.
A FGV aponta que chama atenção a redução da insatisfação na Argentina, onde o indicador de situação atual passou de 88,9 pontos negativos em janeiro de 2020 para 77,8 pontos negativos em abril.
Já em relação às expectativas, no Brasil o indicador subiu de 45,0 pontos para 65,2 pontos positivos entre outubro de 2019 e janeiro de 2020 e caiu para 22,7 pontos negativos em abril de 2020.
O ano de 2020 iniciou-se com indicadores melhores do que os da Sondagem de outubro de 2019, mas todos os países apresentavam clima econômico desfavorável (saldos negativos), exceto a Colômbia e o Paraguai.
“As expectativas favoráveis de janeiro apontavam para uma possível continuidade da tendência de melhora do clima econômico. O Covid-19 interrompeu essa possível recuperação”, aponta a FGV.
Principais problemas enfrentados pelos países
Em todos os 11 países analisados, falta de inovação e demanda insuficiente são consideradas questões relevantes. Um outro problema na região é a corrupção, avaliada como problema relevante em nove países, não sendo relevante somente no Chile e no Uruguai.
Nove países também apontaram aumento na desigualdade de renda como um fator importante. Somente na Bolívia e no Paraguai este fator não foi avaliado como relevante. Igual número de países consideraram a falta de mão de obra qualificada como restrição ao crescimento, exceto Argentina e Uruguai.
Instabilidade política e falta de capital fazem parte do conjunto de restrições relevantes para seis países. Argentina, Colômbia, México, Paraguai e Uruguai não consideram a instabilidade política como questão relevante. Falta de capital não está presente na lista de questões importantes para o Chile, Colômbia, México e Peru.
No Brasil, em ordem decrescente, os principais problemas são: infraestrutura inadequada; aumento das desigualdades de renda; falta de competitividade internacional; demanda insuficiente; instabilidade política; falta de confiança na política econômica; barreiras legais e administrativas para os investidores; falta de mão de obra qualificada; corrupção; falta de inovação; clima desfavorável para os investidores estrangeiros; e, falta de capital.
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