Clima: brasileiros sob risco são 12 milhões
A revista Exame destaca que fenômenos comuns e previsíveis, como as chuvas de verão, continuam fazendo estragos ano após ano. As chuvas que caíram entre a quinta-feira 23 e a segunda-feira 27 de janeiro em Minas Gerais causaram mais de 50 mortes e desabrigaram 18â000 pessoas. No Espírito Santo, nove pessoas morreram em 11 dias de chuva e outras 10â500 não tinham a possibilidade de voltar para casa. Durante o verão, o risco de que novos desastres como esses ocorram em diversas regiões do Brasil é sempre alto.
O país ainda não conseguiu criar uma cultura de prevenção a fenômenos climáticos. ‘Estamos fracassando permanentemente. Gerir e identificar os riscos são coisas complexas e não temos um mapeamento significativo’, diz Fernando Rocha Nogueira, coordenador do Laboratório de Gestão de Riscos da Universidade Federal do ABC. Logo, os prejuízos só aumentam. Um estudo do Centro de Estudos e Pesquisas em Engenharia e Defesa Civil, ligado à Universidade Federal de Santa Catarina, calculou que o Brasil perde, em média, 7 bilhões de reais ao ano com danos causados por enchentes, cheias, desmoronamentos, entre outros problemas.
Uma tentativa de mudar esse cenário foi feita em 2011 com a criação do Centro Nacional de Monitoramento e Alertas de Desastres Naturais (Cemaden), ligado ao Ministério da Ciência, Tecnologia, Inovações e Comunicações. Em 2018, o órgão calculou que 8,3 milhões de pessoas estavam expostas a riscos de deslizamentos de terra, inundações e enxurradas. Algumas cidades se destacaram negativamente nesse aspecto: Salvador tinha 46% dos cidadãos vivendo em áreas de risco, cerca de 1,2 milhão de pessoas. São Paulo ficou em segundo lugar em número de pessoas expostas: 674â000. No caso de barragens, um relatório da Agência Nacional de Águas estima que 3,5 milhões de pessoas vivam em cidades onde existem diques com risco de rompimento â a soma de brasileiros sob perigo, portanto, sobe para quase 12 milhões.
O Cemaden tenta reduzir o estrago monitorando 958 cidades. Um exemplo é o acompanhamento de 3â100 pluviômetros automáticos espalhados por esses municípios. O instrumento é tido como o melhor para prevenir desastres. Quando chove muito, os aparelhos mandam informações a cada 10 minutos a um sistema que emite alertas para autoridades e para a população em área de risco. No entanto, o próprio Cemaden admite que isso é insuficiente. ‘O Japão, que é um país do tamanho do estado de São Paulo, tem mais que o dobro de pluviô-metros’, diz Regina Alvalá, diretora do órgão. Para piorar, a conservação é precária. Por falta de dinheiro, apenas seis em cada dez pluviômetros têm manutenção anual.
O recomendado são duas intervenções ao ano por aparelho. ‘Precisamos de 22 milhões de reais para a manutenção mínima e recebemos 25% desse valor’, diz Regina. Enquanto isso, as chuvas e os desastres continuam janeiro após janeiro.
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