Catástrofes podem encarecer seguro
EUA têm perdas de US$ 820 milhões no ano; Mapfre pagou R$ 1,5 milhão pelo
ciclone em Piracicaba. A abertura do mercado de resseguros, o seguro das
seguradoras, no Brasil não significa queda de preços para o consumidor. É
certo que uma atividade monopolista e controlada pelo Estado há mais de 60
anos tem gordura para cortar. “Há muita chance de haver queda de preço em
razão da concorrência que se desencadeará no setor, mas não é certo”, disse
Henrique Oliveira, presidente do escritório local da Swiss Re, maior
resseguradora do mundo, em sua palestra “Impactos da abertura de resseguros
no Brasil”, proferida no último dia 28, no evento Seguros e Resseguros,
promovido pelo International Quality & Productivity Center, em São Paulo.
Caso a abertura acontecesse em setembro de 2001, no fatídico atentado
terrorista aos Estados Unidos, o preço do resseguro teria sofrido aumento
mesmo no Brasil, país que não teve sequer um registro de bomba caseira na
época. No entanto, pelo princípio da mutualidade do seguro todos pagam uma
parte das perdas. “Quando o mercado internacional pagou US$ 490 milhões pelo
afundamento da P-36 da Petrobras, com certeza algum segurado da Noruega
pagou uma parcela pelo aumento do preço em seus seguros pessoais”, explicou
Oliveira.
A tendência de preço atualmente é de manutenção, com viés de alta. Só no
primeiro trimestre deste ano, o mercado internacional já calcula perdas de
US$ 820 milhões com um terremoto e um tornado que devastaram cinco estados
dos Estados Unidos. “2005 foi o pior ano para as resseguradoras, sendo que
quatro furacões entraram para a lista das maiores catástrofes ocorridos na
história do setor”, disse Oliveira. Segundo estudos da Swiss Re com
renomadas entidades meteorológicos em todo o mundo, a previsão é de que em
2006 os eventos naturais serão mais intensos do que os ocorridos no ano
passado.
Além do cenário internacional, o Brasil acendeu o farol amarelo do setor. O
ciclone Catarina, ocorrido em março de 2004, atingiu as cidades de Criciúma
(SC) e Torres (RS). Em janeiro deste ano, a cidade paulista de São José dos
Campos foi vítima de um tornado. Apesar de ser uma região muito
industrializada, a principal perda para o setor veio da Embraer, com um
sinistro, ainda em levantamento de custos, estimado em US$ 20 milhões.
Outro exemplo recente foi o ciclone registrado na região de Piracicaba (SP),
com ventos superiores a 150 km/h . O fenômeno, que não acontecia no local há
40 anos, chamou a atenção dos meteorologistas pela força e poder de
destruição. Segundo a Mapfre Seguros, os ciclones causaram prejuízos de R$
1,5 milhão. A Mapfre já atendeu mais de 70 segurados das cidades de
Campinas, Piracicaba, Santa Bárbara D´Oeste, Americana e outros municípios
que foram atingidos pelas tempestades e vendavais do último dia 29.
Pelo clima, tudo indica que poderá haver uma revisão nas taxas de seguros
que oferecem cobertura para bens patrimoniais. Nem mesmo a abertura do setor
de resseguros será capaz de trazer reduções de preço se as catástrofes
naturais e feitas pelo homem continuarem consumindo o lucro dos acionistas.
O retorno médio sobre o patrimônio das resseguradoras ficou em 13% em 2005,
depois de ter ficado negativo em 2002, em razão do 11 de setembro. O preço,
no entanto, é apenas um dos benefícios que abertura do setor pode trazer ao
Brasil, numa listagem que detalha mais de 15 vantagens contidas no estudo da
Swiss Re. René Garcia, titular da Susep, prevê investimentos superiores a
US$ 5 bilhões no mercado de seguros brasileiro com a abertura do resseguro.
Em todo o mundo, apenas Índia e Brasil mantém o setor fechado.
Fonte: Gazeta Mercantil
