Câmara aprova troca de juros do cartão de crédito pelo consignado
Teto do endividamento do trabalhador ou aposentado passa de 30% para 40% da renda
O Plenário da Câmara dos Deputados aprovou na noite de quinta-feira passada a Medida Provisória 661/14, que aumenta o limite de descontos autorizados pelo trabalhador na folha de pagamentos – o empréstimo consignado – para incluir despesas com cartão de crédito. A matéria, aprovada na forma de um projeto de lei de conversão, ainda precisa ser votada pelo Senado.
Atualmente, os trabalhadores podem autorizar o desconto relativo a contratos de empréstimo, financiamento ou arrendamento mercantil até o limite total de 30%. A MP acrescenta mais 10% apenas para despesas relacionadas ao cartão de crédito, passando o total a ser de 40% da remuneração.
A amortização da dívida do cartão só será possível para as pessoas que têm esse tipo de cré dito no mesmo banco pelo qual recebem o salário. Mesmo perdendo com os juros baixos do consignado ante as outras duas modalidades, há uma enorme vantagem para os bancos em trocar a dívida porque reduz a inadimplência do cartão de crédito, que hoje está em 40%, segundo dados do Banco Central.
“Isso é muito bom porque autoriza a troca de uma dívida cara, do cartão de crédito, por uma bem mais em conta, do consignado. Se aprovada, essa medida vai ajudar a liquidar dívidas do cartão de crédito, com certeza”, afirma Miguel José Ribeiro de Oliveira, diretor executivo de Estudos e Pesquisas Econômicas da Associação Nacional dos Executivos de Finanças, Administração e Contabilidade (Anefac).
Segundo cálculos da Anefac, os juros médios praticados nas três categorias mais comuns são: consignado de 2,92% ao mês (41,25% ao ano), enquanto o cheque especial é de 9,64% (201,74% ano) e o cartão de crédito é de 12,02% mês (290,43%, ano).
Para Oliveira, a aprovação tem um lado positivo e um negativo. “É importante ter um limite maior com juros mais baixos, até para que o consumidor consiga evitar usar o cheque especial e cartão de crédito. O crédito barato possibilita que as pessoas façam empréstimos mais razoáveis”. O lado negativo, segundo Oliveira, é a falta de consciência na utilização do crédito. “O grande problema é a má utilização do limite. Por que? A pessoa não vive só desse empréstimo e ela vai precisar se organizar. O número de 50% é alto”.
Oliveira explica que é importante conscientizar o tomador de crédito que esse desconto em folha no seu salário diminuiu substancialmente o rendimento. “Em finanças pessoais, há uma recomendação de reserva de 30% do rendimento para gastos com moradia. Uma pessoa que ganha, por exemplo, R$ 1.000, se tiver o consignado máximo de 50% da renda, vai receber R$ 500. Como vai pagar o condomínio, a alimentação, o transporte, a saúde?”, questiona.
Além desses descontos, o trabalhador poderá continuar a autorizar mais 10% do salário em convênios com planos de saúde, farmácias, previdência privada e seguros.
Segundo a Anefac, o consignado é um empréstimo que tem custo mais baixo mas a possibilidade de desconto de cartão em folha pode estimular a falta de consciência no uso
Fonte: Brasil Econômico