BRASÍLIA – O ministro da Defesa, Nelson Jobim, disse que entregará ao presidente Luiz Inác
BRASÍLIA – O ministro da Defesa, Nelson Jobim, disse que entregará ao presidente Luiz Inácio Lula da Silva, depois do Carnaval, a exposição de motivos com a posição da Defesa sobre a compra de um lote de 36 caças para a Força Aérea Brasileira (FAB). A análise da Defesa, afirmou Jobim, não privilegiará preço, mas dois aspectos ” fundamentais ” : transferência de tecnologia e capacitação nacional (produção no país). A preferência de Lula é pelo caça francês Rafale, da Dassault. ” Em primeiro lugar não é um processo licitatório ” , argumentou Jobim. ” Não sendo um processo licitatório você não tem a obrigação de optar pelo menor preço. ” Trata-se, na realidade, segundo o ministro, de um processo de seleção e, neste caso, ” o preço é um elemento componente ” . O preço é a principal desvantagem do Rafale em relação, sobretudo, a seu concorrente sueco Gripen NG, fabricado pela Saab.O ministro confirmou, pela primeira vez, que o último relatório da FAB sobre a compra dos caças declarou preferência pelo sueco Gripen. Mas segundo Jobim, a Força Aérea trabalhou ” com parâmetros que não coadunam com a Estratégia Nacional de Defesa ” , cujos textos legais só recentemente foram enviados ao Congresso. Jobim deixou claro que os americanos da Boeing, que decidiram fazer contraofensiva de última hora para tentar adiar a compra, não têm nenhuma chance na disputa. ” O portfólio de embargos americanos é muito rico ” , ironizou. Sobre a alegação de que o Gripen é um avião bem mais barato, Jobim respondeu que o que o ministério tem em relação ao caça sueco são orçamentos. ” Eu não sei se vai acontecer isso. ” Para ele é como a construção de uma casa: quase nunca gasta-se apenas o que foi orçado no projeto de construção.” Decisão sobre assunto dessa natureza não é voluntarista, é um processo ” , disse Jobim. No fim do processo, três empresas acabaram sendo selecionadas para a venda do lote de 36 caças à FAB, um dos maiores negócios atualmente em disputa no mundo, estimado entre US$ 4 bilhões e US$ 6 bilhões, de acordo com o pacote oferecido por cada fabricante: Dassault (Rafale), Saab (Gripen NG) e a americana Boeing, que entrou no páreo com sua melhor grife: o F-18.Jobim descartou a abertura de um novo processo de compra para a inclusão da Rússia. Os russos participaram da primeira fase do processo com o caça Sukhoi. A argumentação de Jobim em relação à anunciada nova versão de caças russos é a mesma que ele oferece em relação aos americanos. ” Os russos não transferem tecnologia. Ponto. ” Na viagem a Moscou, Jobim abordou a questão da transferência tecnológica, mas os russos só se dispunham a tratar do assunto após o fechamento do negócio.Jobim descartou a hipótese de a compra dos caças ficar para o próximo governo, como ocorreu no fim do mandato do ex-presidente Fernando Henrique Cardoso. Mas ele adverte para o fato de que depois da decisão de Lula, ouvido o Conselho de Defesa Nacional, o processo entra em uma nova etapa: a da negociação do contrato.” Uma coisa são as propostas que são feitas, outra é saber como isso funciona na prática. Pode, inclusive, haver um impasse na hora em que se estiver discutindo o contrato ” disse. Nessa fase mudarão os negociadores, que passarão a ser a Secretaria do Tesouro Nacional e a FAB. A discussão contratual para a compra dos submarinos franceses levou pelo menos três meses.Jobim tem um argumento pronto para o descarte eventual do caça sueco. ” A FAB trabalha com pesos que não coincidem com a Estratégia Nacional de Defesa, porque são coisas antigas. ” Ele explicou que a modelagem na qual a Força Aérea embasou seu parecer vem do governo Fernando Henrique Cardoso. ” Agora examinar basicamente essa coisa da transferência de tecnologia e capacitação nacional é o vetor fundamental. ” Jobim, cujo raciocínio sugere que indicará o Rafale ao presidente, escuda desde já em razões estratégicas a decisão a ser tomada em 15 dias: ” Quando a gente começa a raciocinar em termos de A, B, C, porque um está sendo assim e outro está sendo assado, isso é coisa de país pequeno, o que nós já não somos. ”
Fonte: Valor