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Brasil e Argentina afinam discurso para reunião do G20

Os governos brasileiro e argentino tentaram, sem sucesso, evitar o tema do protecionismo no encontro realizado entre o presidente Luiz Inácio Lula da Silva e a presidenta da Argentina, Cristina Kirchner, em São Paulo, na última sexta-feira. O objetivo era afinar o discurso para a próxima reunião, em Londres, do G-20, marcada para o dia 2 de abril e deixar as discussões sobre diferenças comerciais para a próxima quarta-feira, dia 25, quando será realizada em Buenos Aires uma nova reunião dos representantes de empresas brasileiras e argentinas. Entretanto, o tema das barreiras comercias não pôde ser evitado pelos mandatários.
Lula e Kirchner foram questionados se não seria anacrônico atacar o protecionismo dos países desenvolvidos, e ao mesmo tempo acatar medidas como as licenças não-automáticas impostas pela Argentina a alguns produtos brasileiros como têxteis, eletrodomésticos e máquinas agrícolas, procedimento que torna mais lento o desembarque destas mercadorias. “Uma licença não-automática pode parecer uma medida protecionista, mas, por exemplo, posso dizer que desvalorizar uma moeda ante ao dólar é uma medida protecionista, ou mesmo benefícios fiscais que vários estados brasileiros concedem às empresas”, respondeu a presidenta argentina, durante discurso de encerramento de seminário empresarial realizado na sede da Federação das Indústrias do Estado de São Paulo.
O déficit comercial que a Argentina tem com o Brasil, na casa dos US$ 4,3 bilhões em 2008, reflete um problema estrutural do país platino, “e é natural que as economias menores tomem algumas medidas para não aprofundar esse déficit”, disse Kirchner. Ela pediu ainda compreensão para sua “missão de reindustrializar a Argentina”, cujo setor industrial não foi tratado como uma questão econômica estratégica, algo que acontece no Brasil “desde a época da ditadura militar”. Para a presidenta argentina, é normal “proteger as empresas e setores menos pujantes”, e ao decidir a respeito de interesses comerciais “devemos ver o tamanho das economias”.
O protecionismo “é como quase como se fosse uma religião, e quando acontece qualquer coisa, em qualquer país, todo mundo quer defender suas empresas, seus empregos e sua economia. Isso é normal, mas não precisamos encarar como se fosse uma coisa insolúvel”, disse Lula. Em tom conciliador, o presidente preferiu falar em cooperação e de auxílio às economias menores: “os empresários brasileiros sabem que não adianta sermos um país rico cercado de países pobres”. Lula quer agora que seja colocado em prática o protocolo firmado entre o Banco Nacional de Desenvolvimento Econômico e Social (BNDES), Banco de La Nación Argentina e Banco de Integração e Comércio Exterior (BICE), para financiar empresas de ambos os países que atuem na Argentina.
“Precisamos acelerar a vigência desse convênio, que permitirá que o Brasil ultrapasse os US$ 3,6 bilhões de crédito aberto para empreendimentos na Argentina desde 2003”, argumentou o presidente.
Autoridade moral
Sobre o encontro do G-20, Lula ressaltou o discurso conjunto com o país vizinho, e disse que o evento será a primeira vez na história dos últimos dois séculos “que dois países em desenvolvimento vão chegar a uma reunião com mais autoridade moral que os países ricos. Nossas economias estão arrumadas, nossos bancos são mais sólidos. A crise aqui chegou menos violenta que nos países desenvolvidos”. A reformulação do sistema internacional de regulação financeira também deverá ser priorizada. “O G-8 mostrou-se aquém das necessidades atuais. O G-20 é parte da solução”, afirmou Lula.
O presidente também ressaltou que órgãos como o Banco Mundial e o Fundo Monetário Internacional só serão mais efetivos quando houver maior participação dos países em desenvolvimento. Entretanto, ponderou que “não faz sentido aumentarmos nossa contribuição para essas instituições enquanto os países ricos, responsáveis pela atual crise que afeta a todos, continuarem dando as cartas”. A “autoridade moral” do Brasil e da Argentina foi ocasionada porque ambos os países “não sucumbiram ao pensamento único conservador”, e fizeram justamente “o contrário do que foi descrito por aquela cartilha”, com atuação regulatória rigorosa do Estado sobre o sistema financeiro e de seguros..

Fonte: Gazeta Mercantil

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