Brasil avança em desenvolvimento humano e emprego: frutos de escolhas e o risco do retrocesso
O Brasil acaba de registrar avanços importantes em dois dos principais indicadores socioeconômicos do planeta. Subimos cinco posições no ranking global do Índice de Desenvolvimento Humano (IDH), alcançando a 84ª colocação entre 193 países, segundo o PNUD. O índice brasileiro atingiu 0,786 em 2023 — superando o patamar pré-pandemia — com destaque para a melhora na expectativa de vida, que chegou a 75,8 anos, e o crescimento do PIB per capita, agora em US$ 18.011.
No mesmo período, o país registrou a menor taxa de desemprego para os meses de janeiro a março desde o início da série histórica do IBGE em 2012: 7%. Embora tenha subido em relação ao trimestre anterior (6,2%), o dado revela consistência na recuperação econômica e na formalização do trabalho. Também o rendimento médio dos trabalhadores alcançou R$ 3.410 — o maior já registrado para o período.
Esses avanços merecem ser celebrados. Mas, mais do que isso, precisam ser compreendidos como consequência direta de um conjunto de políticas públicas e privadas implementadas ao longo dos últimos anos com base nos princípios de ESG (Ambiental, Social e Governança) e DEI (Diversidade, Equidade e Inclusão). A agenda social do ESG e a pauta DEI não são apenas “corretas” do ponto de vista ético — elas são eficazes. São estruturantes para o desenvolvimento.
Ao incentivar a inclusão de grupos historicamente excluídos do mercado de trabalho — mulheres, pessoas negras, pessoas com deficiência, LGBTQIAPN+, pessoas 50+ —, ampliamos a base de talentos, fomentamos a inovação, movimentamos o consumo e elevamos a produtividade. Isso é impacto econômico. Isso é retorno social. Isso é sustentabilidade real.
Entretanto, paradoxalmente, assistimos hoje a um perigoso esvaziamento dessa agenda. Diversas empresas estão desmobilizando áreas de DEI, substituindo políticas estruturadas por iniciativas pontuais, sem orçamento ou metas claras. No setor público, ações afirmativas e programas de inclusão têm sido silenciados ou dissolvidos, às vezes sob o argumento de uma suposta neutralidade ou “meritocracia pura”, que ignora desigualdades históricas.
Esse esvaziamento não é apenas simbólico. Ele produz efeitos concretos. No curto prazo, pode parecer redução de custos. Mas no médio e longo prazo, o custo da omissão será alto: aumento da desigualdade, perda de produtividade, exclusão de talentos e intensificação da polarização social. Mais do que isso: será um retrocesso no pacto coletivo de uma sociedade mais justa e inovadora.
É preciso lembrar que sociedades diversas e inclusivas não são apenas mais éticas — são também mais resilientes. Em um mundo pressionado por transformações climáticas, rupturas tecnológicas e instabilidade política, sobreviverão os países e empresas que forem capazes de combinar competitividade com inclusão. Que entenderem que o futuro não se constrói com os mesmos filtros do passado.
O Brasil está colhendo frutos de escolhas certas feitas no passado recente. Mas, se não protegermos e renovarmos esse compromisso com a inclusão e a equidade, corremos o risco de colher escassez onde hoje vemos progresso. O que estamos testemunhando hoje — melhora de indicadores, aumento do emprego, crescimento do IDH — não é acaso. É projeto. E projetos precisam ser mantidos, revisados, financiados.
Seguiremos avançando como sociedade se, e somente se, não deixarmos que a pauta DEI se transforme em retórica vazia. Incluir é estratégia de futuro. Equidade é motor de desenvolvimento. E ESG precisa ser mais do que uma sigla — precisa ser prática cotidiana. Ignorar isso é comprometer o Brasil do amanhã.