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Bradesco tem 1ª queda no lucro desde 2008

A forte recessão econômica, que eliminou empregos e drenou receitas das empresas, derrubou o lucro do Bradesco no ano passado. O segundo maior banco privado do país fechou 2016 com lucro líquido contábil de R$ 15,08 bilhões, valor 12,27% menor que o ganho do ano anterior e a primeira queda desde 2008. O resultado foi afetado principalmente pela retração da carteira de crédito do banco – algo que não ocorria em quase duas décadas -, e pelo aumento da inadimplência, movimento que deve retardar o ritmo de queda dos juros das linhas de crédito do banco este ano.

Luiz Carlos Trabuco, presidente do banco, avalia que 2016 foi “um ano de travessia” – Tínhamos consciência de que 2016 era um ano de travessia. Assim, o balanço deve ser entendido no contexto de um processo de mudança de ciclo da economia brasileira – disse Luiz Carlos Trabuco Cappi, presidente do Bradesco, sobre o balanço: – Foi um ano de muitos desafios, por isso o resultado é sólido e equilibrado.

O Bradesco concluiu a aquisição do HSBC Brasil em 1º de julho, quando obteve a autorização de todos os órgãos reguladores e incorporou a instituição às suas operações. No caso das operações de crédito, agregou à carteira as operações do HSBC. Isso fez com que o saldo total dessas operações subisse a R$ 514,9 bilhões ao fim de dezembro, o que representou um avanço de 8,6% na comparação com o saldo de um ano antes. Contudo, quando se excluem as operações do HSBC, o resultado foi uma retração de 9,2% no volume de empréstimos do banco no ano.

A postura cautelosa e mais restritiva na concessão de novos empréstimos ao longo do ano, porém, não foi suficiente para evitar o aumento dos calotes. A inadimplência, medida pelos atrasos de mais de 90 dias em pagamentos em relação ao total de financiamentos do banco, atingiu o patamar de 5,5% no final de dezembro, bem acima dos 4,1% de um ano antes.

– Nossa percepção é que estamos no pico de perdas (com inadimplência) e não devemos ter uma queda significativa neste primeiro semestre, mas só a partir do segundo – afirmou o diretor de Relações com Investidores (RI) do banco, Carlos Firetti, ao comentar as perspectivas do banco para a inadimplência.

Nesse ambiente de calote em alta, mesmo que o Banco Central mantenha sua estratégia de acelerar os cortes na taxa Selic, que já recuou de 14,25% para 13% nos últimos meses, o executivo admitiu que a diminuição dos juros dos financiamentos do banco se dará em um ritmo menor que o da queda da taxa básica.

– Sim, é algo esperado, a aceleração da queda das taxas de juros. Mas o custo de captação é apenas um dos componentes das taxas, outro é o risco de crédito. Na medida em que o juro básico (Selic) cai, repassamos para o crédito. Mas não podemos deixar de considerar que há outros componentes de custo e, como a inadimplência tende a cair num período mais longo, só deve ser incorporada mais adiante – disse Alexandre Glüher, vice-presidente executivo do Bradesco.

Além de retardar a diminuição dos juros do crédito, a ascensão da inadimplência forçou o banco a reforçar fortemente as provisões contra perdas. No total, foram provisionados R$ 21,7 bilhões ao longo de 2016, montante 43,3% maior que o montante de recursos que o banco tirou dos seus ganhos em 2015.

– Estamos muito bem provisionados, com um índice de cobertura de 207% sobre as perdas esperadas p ara os próximo 12 meses – salientou Firetti.

Com as receitas do crédito encolhendo, o banco seguiu investindo forte na cobrança por serviços (tarifas). As chamadas receitas com prestação de serviços somaram R$ 28 bilhões em 2016, valor 12,8% superior aos R$ 24,8 bilhões auferidos pelo banco no ano anterior.

Nas previsões apresentadas para este ano, o Bradesco projeta uma expansão entre 7% e 11% para as receitas com serviços, enquanto para a carteira de crédito a expectativa é de um avanço mais modesto, de 1%a 5%.

Outro segmento de negócios que contribuiu para atenuar a queda nos lucros do banco foi o de seguros e previdência. A Bradesco Seguros registrou lucro líquido de R$ 5,5 bilhões no ano passado, 5,5% maior que o de 2015. Assim, do resultado anual consolidado do banco, 67,6% do lucro vieram das atividades financeiras, ao passo que 32,4% foram gerados da área de seguros.

O resultado do banco também foi afetado pela revisão dos valores de alguns ativos. O ambiente adverso e a queda no lucro afetaram a rentabilidade do banco (medida pela relação entre lucro e patrimônio líquido), que ficou em 17,6%, em 2016, abaixo dos 20,5% de um ano antes.

Os resultados do Bradesco em 2016 foram recebidos com cautela pelos analistas. Em relatório, o Deutsche Bank destacou que os resultados do quarto trimestre vieram muito abaixo do esperado, afetados pelos ajustes de ativos (impairment). Como positivo, a instituição destacou uma pequena queda, de 4%, nas provisões no último trimestre ante o terceiro.

Já os analistas da Brasil Plural destacaram o valor entre R$ 21 bilhões e R$ 24 bilhões para as provisões contra perdas este ano, acima das reservas feitas este ano, como algo negativo.

As ações preferenciais do Bradesco fecharam ontem cotadas a R$ 31,20, com queda de 3,73%. Mas ainda acumulam alta de 7,7% no ano, e de 94,5% em 12 meses.

Fonte: O Globo

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