BC sinaliza cautela em meio a incertezas
O Banco Central reforçou as indicações de que pisará no freio no ritmo de queda dos juros básicos da economia em meio às incertezas provocadas pela crise política. Na ata do encontro mais recente do Comitê de Política Monetária (Copom), publicada ontem, os diretores voltaram a citar a indefinição em relação às reformas econômicas como justificativa para a Selic não cair tão rapidamente.
Na semana passada, o BC reduziu a taxa em 1 ponto porcentual, para 10,25% ao ano, mas agora a expectativa entre a maior parte dos economistas do mercado é de que o corte seja de 0,75 ponto em julho.
Isso é resultado direto da crise política. Após as delações de executivos da JBS, que colocam em xeque o governo Michel Temer, o BC passou a enxergar riscos maiores de as reformas trabalhista e previdenciária não passarem no Congresso. E sem elas, na visão do BC, fica mais difícil controlar a inflação. A consequência é que o espaço para reduzir juros também cai.
“Em função do cenário básico e do atual balanço de riscos, o Copom entende que uma redução moderada do ritmo de flexibilização monetária em relação ao ritmo adotado hoje deve se mostrar adequada em sua próxima reunião”, informou a ata. A próxima decisão sobre juros ocorrerá em 26 de julho.
Incerteza. Em todo o documento de ontem, o BC citou 17 vezes os termos “incerteza” e “incertas” para se referir ao andamento das reformas e aos seus impactos sobre a atividade, a inflação, as projeções econômicas e a Selic. “O comitê entende como fator de risco principal o aumento de incerteza sobre a velocidade do processo de reformas e ajustes na economia”, resumiu uma das frases.
Para a equipe de economistas do Itaú Unibanco, a mensagem transmitida pelo BC é de que o mais provável, em função das incertezas, é um corte de apenas 0,75 ponto porcentual da Selic em julho, para 9,50% ao ano. A instituição projeta ainda uma Selic em 8% no fim de 2017.
O economista-chefe da Garde Asset Management, Daniel Weeks, avalia que o BC sinaliza um corte menor da Selic no próximo mês para tentar reduzir a volatilidade dos ativos no mercado brasileiro. “Neste momento, o BC tem razão em ser extremamente cauteloso.” Mas Weeks não descarta a possibilidade de o ritmo de cortes seguir em 1 ponto porcentual, justamente porque não há certezas sobre o futuro político do governo Temer e sobre o andamento das reformas. “O 1 ponto está longe de ser descartado.
A atividade está pior e a inflação está melhor. Os aspectos conjunturais são favoráveis ou a um corte mais extenso dos juros ou mais intenso”, disse.
Fonte: O Estado de São Paulo
