BC repete que deve baixar juro só mais uma vez e parar
Apesar de a inflação oficial ter vindo baixa em março, o presidente do Banco Central, Ilan Goldfajn, manteve o discurso de que o Comitê de Política Monetária (Copom) deve promover somente mais uma redução na taxa básica de juros da economia, atualmente na mínima histórica de 6,5% ao ano, e depois parar de cortar a taxa Selic.
“Para reuniões além da próxima, salvo mudanças adicionais relevantes no cenário básico e no balanço de riscos para a inflação, o Comitê vê como adequada a interrupção do processo de flexibilização monetária [corte de juros], visando avaliar os próximos passos, tendo em vista o horizonte relevante naquele momento”, declarou ele, durante audiência pública na Comissão de Assuntos Econômicos (CAE) do Senado Federal, nesta terça-feira (10).
Segundo Goldfajn, os próximos passos da política monetária, ou seja, da definição de juros para atingir as metas predeterminadas de inflação, “continuarão dependendo da evolução da atividade econômica, do balanço de riscos, de possíveis reavaliações da estimativa da extensão do ciclo e das projeções e expectativas de inflação”.
Mais cedo nesta terça-feira, o Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE) informou que o IPCA, considerado a inflação oficial do país, ficou em 0,09% em março, bem abaixo dos 0,32% de fevereiro, e foi ao nível mais baixo para o mês em 24 anos. Em doze meses até março, o índice somou 2,68%, abaixo do piso de 3% do sistema de metas para este ano. A meta, porém, vale para o ano de 2018 fechado.
O presidente do BC afirmou ainda que as taxas de juros bancárias, e também o chamado “spread” (diferença entre o que os bancos pagam pelos recursos e o que cobram de seus clientes) estão em uma tendência de queda, em linha com a redução da taxa básica da economia, definida pelo Banco central – que vem recuando desde outubro de 2016.
Entretanto, ele ponderou que esse ritmo não está adequado. “Queremos que a redução seja mais rápida, para que tenhamos logo crédito mais barato para famílias e empresas. Esse é um assunto da maior importância para nós, e o Banco Central tem se empenhado na implementação de ações para baixar o custo do crédito”, declarou ele.
Golfajn acrescentou que o objetivo é atacar, “de forma estrutural, não voluntariosa”, todas as causas que tornam o custo de crédito alto no Brasil. Segundo ele, essas causas são: o alto custo operacional e regulatório,a falta de boas garantias, a necessidade de mais informação no sistema, os subsídios cruzados, os altos compulsórios, a necessidade de estimular a concorrência, entre outros.
Cheque especial
Depois de tomar medidas para baixar os juros no cartão de crédito rotativo, o presidente do Banco Central reafirmou que a Federação Brasileira de Bancos (Febraban) deve propor, ainda em abril, medidas de autorregulação com mudanças nas regras desse produto.
Goldfajn não deu mais informações sobre o assunto. A Febraban informou, no começo de 2018, que as medidas em estudo visam “melhorar o ambiente de crédito no país e reduzir o spread, que é a diferença entre os juros cobrados no crédito e pagos pelos bancos nos investimentos.
O cheque especial é uma das modalidades de crédito mais caras do país, atrás apenas do rotativo do cartão de crédito. Em fevereiro, o juro médio do cheque especial somou 324,1% ao ano.
Autonomia do Banco Central
Ilan Goldfajn, chefe do BC, também voltou a defender a autonomia da instituição, ou seja, a definição de mandatos fixos para os diretores e para o presidente do Banco Central.
“A condução da política monetária [definição dos juros para atingir as metas de inflação] tem gozado de autonomia de facto, mas é preciso construir uma autonomia de jure [na lei]. Temos que criar instituições que dependam menos de pessoas e mais de regras”, afirmou ele aos senadores.
Ele acrescentou que, caso seja aprovada pelo Congresso Nacional, a autonomia do BC representará um “avanço institucional importante, com ganhos para o país, através da queda do risco pais e da queda da taxa de juros estrutural”.
Fonte: G1