BC mais alinhado com mercado
A recente mudança de discurso do Banco Central, indicando uma postura mais dura em relação à inflação, deu espaço para que o prognóstico para que o Índice de Preços ao Consumidor Amplo (IPCA) recuasse na pesquisa Focus, mostrando um mercado mais confiante na estratégia da política monetária.
Pela primeira vez após oito semanas de alta, a projeção do mercado para o índice em 2011 recuou no boletim divulgado na segunda-feira.
O prognóstico para a inflação nos próximos 12 meses caiu pela segunda semana seguida, enquanto o cenário para 2012 foi mantido pela quinta semana. Além disso, o mercado de juros futuros vêm reduzindo o prêmio nos contratos mais longos e operado com poucas variações, mostrando que o ceticismo do mercado com a condução da política monetária diminuiu.
Segundo economistas, isso resulta da nova postura do BC, com mais ênfase ao aumento da Selic no combate à inflação e menor peso das medidas macroprudenciais. Embora economistas ponderem que a queda na previsão para o IPCA em 2011 está mais ligada ao dado de abril divulgado na semana passada, que veio melhor que o esperado, o prognóstico para 12 meses é um reflexo deste novo momento.
Outro ponto é a elevação da projeção para a Selic em 2012.
Enquanto o cenário para o final deste ano se manteve em 12,5%, a projeção para o ano que vem subiu pela segunda semana seguida.
“O BC está dando uma sinalização de que vai continuar subindo a Selic quantas vezes julgar necessário para trazer a inflação para o centro da meta ano que vem. Esse discurso ajuda o mercado a reorganizar as expectativas”, comentou Newton Rosa, economistachefe da SulAmérica Investimentos.
“É muito importante uma boa comunicação com o mercado nesse sentido de ancorar as expectativas para a inflação”, acrescentou.
Há algumas semanas, o mercado mostrava mais dúvidas sobre a capacidade do BC de trazer a inflação para o centro da meta, entre outros motivos pelo fato de que a autoridade monetária mencionava o uso de medidas macroprudenciais, mas não anunciava novas medidas. Sem conseguir mensurar o quanto essas medidas representariam em termos de aperto monetário, o mercado vinha embutindo prêmio nos contratos mais longos de DIs, temendo que um esforço menor para subir a Selic este ano levasse à necessidade de mais aperto no futuro.
POSTURA MAIS AGRESSIVA.
Desde o Relatório de Inflação, porém, passando por recentes declarações de membros do Banco Central, incluindo do presidente Alexandre Tombini, e pela ata da última reunião do Comitê de Política Monetária (Copom), a autoridade monetária adotou uma postura mais agressiva no combate a inflação, ao que o mercado reagiu positivamente.
“O BC voltou a dar peso um pouco maior na política monetária convencional, e o mercado estava muito cético nessa estratégia de mix. O BC não sinalizou uso de mais medidas não convencionais e apontou mais (uso dos) juros, isso agradou porque o mercado acredita na necessidade de mais juros”, explicou Luciano Rostagno, estrategista-chefe da CM Capital Markets. Na terça-feira, o diretor de Política Monetária do BC, Aldo Luiz Mendes, afirmou que o “objetivo principal das medidas macroprudenciais não é substituir a política monetária”. Ele acrescentou que o ajuste monetário vai durar o tempo que for necessário.
Rostagno, da CM, acredita que o mercado está interrompendo o movimento de deterioração das expectativas inflacionárias no relatório Focus.
Rosa, da SulAmérica Investimentos, também vê espaço para declínio na previsão para a inflação em 2012. Em relatório, a LCA avaliou a expectativa de inflação implícita no mercado de títulos e o movimento das últimas leituras do Focus para a inflação em 12 meses. “Este indicador costuma antecipar os ajustes nas projeções captadas pelo BC, de modo que poderemos observar novo arrefecimento das expectativas para o IPCA nas próximas leituras do Focus”, afirmou a LCA.
Com base na última ata do Copom e na “mudança na forma de agir do BC, concomitante à deterioração nos cenários traçados pela autoridade monetária para o IPCA em 2012”, a LCA revisou a projeção para a Selic este ano e espera mais duas elevações de 0,25 ponto percentual.
Fonte: Jornal do Commercio