Bancos brasileiros devem dar mais atenção para o exterior
Mesmo diante da turbulência da economia mundial, o sistema financeiro brasileiro continua a ampliação dos negócios além das fronteiras brasileiras, principalmente na América do Sul. Nos últimos dias, o Itaú Unibanco confirmou a compra da carteira de alta-renda do HSBC Chile. O movimento de internacionalização também é visto no Banco do Brasil e esperado no Bradesco, que ainda não optou por esta forma de crescimento. As ações em queda dos bancos no exterior também configuram em uma boa oportunidade, pois os preços ficam mais baixos.
Segundo Adriano Gomes, professor de finanças da ESPM, este é um processo inevitável para os três conglomerados bancários (Itaú Unibanco, Bradesco e Banco do Brasil). “Pelo crescimento orgânico, estes bancos já possuem boa capilaridade, com agências, postos de atendimento e oferta de produtos em todo o Brasil, inclusive em pequenas cidades. Na expansão orgânica, as oportunidades de aquisição no mercado interno estão menores, então é normal ir para o exterior.”
Em relação às oportunidades ainda não aproveitadas pelo Bradesco, Gomes acredita em um movimento inesperado, porque o banco precisa acompanhar os principais concorrentes. “Essa estratégia não está muito definida no Bradesco, mas é natural que não queira perder terreno para o Itaú. Mas alguma coisa grande está para acontecer. Porém, age absolutamente na surdina.”
Por outro lado, o analista de investimentos da Planner Corretora, Francisco Kops, afirma que há muito espaço para a expansão no mercado brasileiro. “O Bradesco acredita no potencial de bancarização e desenvolvimento econômico do País.”
Ao ser questionado sobre o impacto das incertezas mundiais diante dos problemas na Europa e Estados Unidos, Kops aponta que as instituições podem ficar mais receosas, principalmente ao preservar o funding em momentos de baixa captação de recursos. No entanto, os preços compensam. “As ações de bancos estrangeiros estão caindo e fica mais barato para comprar ativos lá fora.”
Até o atual momento, o Itaú Unibanco é o principal banco com operações no exterior, em 18 países. Até junho deste ano, o lucro líquido nessas localidades alcançou R$ 596 milhões, alta de 81% em comparação com 2010, quando somou R$ 328 milhões. Em postos de atendimento, o número de agências chega a 224, com 474 caixas eletrônicos e mais de 6 mil funcionários.
O maior volume de operações está no mercado latino-americano, com destaque para o Chile, que soma até o final de junho de 2011 R$ 12,3 bilhões em ativos totais, aumento de 4,1%, e 79 agências. Para ampliar sua atuação no país, o Itaú adquiriu a carteira de alta renda (ABC1) do HSBC no Chile, atingindo 84 agências. O total de ativos envolvidos na transação é superior a US$ 20 milhões e a 4 mil clientes.
Segundo o gerente-geral do banco Itaú Chile, Boris Buvinic, o processo de integração deve iniciar-se até o final deste ano. “Estamos muito satisfeitos por ter alcançado este acordo, que vai nos permitir consolidar a nossa liderança no segmento de alta renda no país. Atualmente, temos uma participação de 18% neste mercado e temos o objetivo de chegar a 25% nos próximos anos”, diz Buvinic.
No que se refere ao posicionamento do HSBC, o gerente-geral da subsidiária no Chile, Gustavo Costa, explica: “Hoje queremos nos concentrar nas áreas em que somos mais competitivos e, assim, continuar colocando toda nossa experiência e liderança internacional para oferecer melhores serviços aos nossos clientes corporativos e institucionais, como temos feito nos quase 30 anos do nosso banco no Chile, sendo o maior banco global no mundo”.
O analista Francisco Kops acredita que o interesse do Itaú no Chile está relacionado ao desenvolvimento econômico e sistema regulatório mais favorável em relação a outros países.
No Uruguai, o banco possui 167 mil clientes, 21 agências e R$ 3,7 bilhões em ativos totais no primeiro semestre de 2011. Já no Paraguai, o banco é líder no mercado local, com 19 agências, 569 funcionários, 272 mil clientes e ativos totais de R$ 2,8 bilhões até junho de 2011. Na Argentina, os ativos totais chegam a R$ 2,6 bilhões, com 271 mil clientes, 81 agências e 1,5 mil funcionários.
Durante o primeiro semestre, o Banco do Brasil também deu importantes passos, com o fechamento da operação de compra do Banco Patagonia e do Eurobank, nos Estados Unidos.
Saída
No setor de seguros, o movimento ocorre na possível saída da ING da SulAmérica, com a venda de 36% de participação. Se confirmados os rumores, seguradoras brasileiras e estrangeiras podem entrar no mercado. “Pode ser uma boa oportunidade para companhias interessadas no setor de saúde, pois a SulAmérica possui boa representatividade.”
Segundo boatos divulgados nos últimos dias, estariam interessadas no negócio a francesa Axa e a japonesa Tókio Marine. Por meio da assessoria de imprensa, a SulAmérica diz não comentar rumores de mercado.
Fonte: DCI OnLine