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Autoridades do Fed alimentam expectativa por alta de juros

Os investidores se acostumaram a contar que a presidente do Federal Reserve (Fed, BC dos EUA), Janet Yellen, vai protelar o máximo possível até apertar o botão da alta dos juros. Mas a era da protelação intencional pode estar chegando ao fim. Nesta semana, várias autoridades responsáveis pela definição dos juros disseram que uma alta em março é uma possibilidade significativa, o que levou a uma estridente mudança nas apostas de um movimento na próxima reunião, nos dias 14 e 15.
Uma das intervenções mais importantes foi a de William Dudley, o presidente do Fed de Nova York, que está sempre alinhado a Yellen. Ele disse que os argumentos a favor de uma terceira alta nas taxas desde que o ciclo começou estão se tornando convincentes.

Os pontos de vista de Janet Yellen só serão conhecidos amanhã, quando ela fará um pronunciamento bastante aguardado. Mas se as intervenções dos demais membros do Fed servirem de referência, os débeis aumentos anuais dos juros poderão abrir caminho para uma série mais acelerada de altas.

Isso poderá forçar o mercado a abandonar sua suposição de que o banco central tenderá a promover menos aumentos do que a média de suas previsões sugere – uma visão sustentada na experiência de 2016, quando ele abriu o ano prevendo quatro altas para entregar apenas uma.

Louis Crandall, economista-chefe da Wrightson Icap, disse que o Fed parece estar procurando caminhos para seguir com o aperto monetário. “Nas últimas semanas, as autoridades têm deixado claro que não estão mais buscando por gatilhos específicos nos dados para conduzir altas dos juros, e sim por janelas de oportunidade para continuarem com a normalização gradual das taxas”, afirmou. “Elas não estão mais no ritmo que depende dos dados, uma vez que suas ações estão agora sendo determinadas mais por previsões de médio prazo do que pelas rodadas mais recentes de dados mensais.”

Na noite de terça, vários analistas ajustaram suas avaliações sobre a data da próxima alta de juros. Os comentários de Dudley, e também de Robert Kaplan, o presidente do Fed de Dallas, e John Williams, do Fed de São Francisco, forneceram “evidências mais sólidas de que o Fomc [o comitê de mercado aberto] está considerando seriamente uma alta das taxas em março”, disseram Jan Hatzius e colegas economistas do Goldman Sachs. “Desse modo, aumentamos para 60% nossas apostas de que a próxima alta virá em março.”

Economistas do Société Générale disseram: “Embora continuemos mantendo a previsão de uma alta em junho, é de se admitir que as chances estão mudando a favor de março”.

Vários fatores combinaram para elevar as chances de o Fed cumprir a previsão média de seus planejadores, em dezembro, de que haverá três altas de juros neste ano. A questão crítica é a recuperação econômica, que parece não só estar tendo continuidade, como entrando em marcha acelerada.

Conforme disse Williams na terça, após sete anos de expansão os EUA estão com pleno emprego, com taxa de desemprego a 4,8%. A expectativa dos planejadores econômicos de que a inflação vai atingir a meta do Fed, está aumentando após a principal leitura do índice de preços ao consumidor subir 2,3% em janeiro, em relação ao mesmo período do ano passado.

Os cortes dos impostos pelo Partido Republicano, alimentados pelo déficit, poderão dar um estímulo à inflação nos próximos anos. Alguns planejadores já fizeram suposições de um estímulo fiscal em suas estimativas – mas nem todos. Conforme disse Kaplan ao “Financial Times” na terça, os responsáveis pela definição dos juros não precisam esperar por decisões políticas do Congresso para decidir se novas altas dos juros são necessárias. “Não acho que as incertezas sejam tamanhas a ponto de nos colocar em compasso de espera.”

Isso não significa que o caminho à frente está livre. Um relatório sobre emprego que será divulgado quatro dias antes da reunião de março, ainda poderá frustrar uma alta dos juros no curto prazo, se for desapontador. A possibilidade de uma maior alta do dólar, que poderia limitar a inflação se os preços das importações caírem, segue pairando sobre as conversas no Fed, mesmo que não esteja havendo uma repetição das instabilidades que fustigaram os mercados de câmbio no começo de 2016.

As eleições presidenciais francesas, em que a candidata de extrema-direita Marine Le Pen vem liderando as pesquisas, vão ofuscar a reunião de maio do Fed, uma vez que reacenderão as preocupações com o futuro da União Europeia – fazendo desse mês um momento menos propício para subir juros.

E embora uma grande atenção esteja sendo dada à possibilidade de um afrouxamento fiscal sob os republicanos, o perigo de uma inclinação ao protecionismo liderada por Trump está pesando como um risco para muitas das autoridades do Fed que definem os juros.

Alguns analistas afirmam que o Fed continua em modo conciliador, que não se justifica pela melhora dos dados econômicos. “Mesmo que o Fed eleve os juros na reunião de março – o que os dados econômicos e a inflação mais fortes praticamente o compelem a fazer -, a política monetária continuará excessivamente acomodativa”, diz Michey Levy, economista da Berenberg. Mesmo assim, o Fed está dando sinais de que está mais determinado do que os investidores imaginavam.

 

 

Fonte: Valor

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