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As vantagens de controlar o desperdício

Muito já se comentou nesta coluna sobre a importância da inspeção técnica veicular (ITV). É inadmissível que o Brasil com 27 milhões de autoveículos e 7 milhões de motocicletas (cálculos estatísticos do Sindipeças e Anfavea) nem mesmo consiga ter informações oficiais sobre a frota real. Segundo o Denatran são mais de 45 milhões, algo fora da realidade porque poucos suportam a burocracia de registrar o fim da vida de um veículo. Todas as estatísticas de trânsito ficam distorcidas, inclusive a de mortos e feridos em acidentes: o divisor maior mascara a realidade.
Entre os 15 países com maiores frotas, apenas o Brasil e a Rússia deixaram de implantar esse serviço capaz de melhorar segurança, poluição e fluidez do trânsito ao mesmo tempo. Só o Estado do Rio de Janeiro, com inspeção precária e cara, e o município de São Paulo (restrito a emissões) providenciaram algum controle. Há iniciativas nobres, como campanhas Carro 100% e Caminhão 100%, do Grupo de Manutenção Automotiva, mas com abrangência restrita pelas limitações previsíveis.
Antes, porém, de implantar a ITV seria necessário agir mais rápido num programa de reciclagem e reaproveitamento de peças e sucata. Trata-se de ações complementares de grande importância. A reciclagem de pneus já está estabelecida por lei desde 2002 e nada existe sobre a de veículos. Na Europa, EUA e Japão os fabricantes identificam mais de 95% das 5.000 peças que compõem, em média, um automóvel para facilitar programas de reaproveitamento e destinação final de componentes. Em alguns países já se prevê que fábricas de veículos participem do processo num ensaio para futuras exigências, semelhante ao que acontece com pneus.
Recentemente se realizou em São Paulo um congresso internacional de negócios da indústria de reciclagem de sucatas. O sindicato do setor ressaltou que uma pequena parte de quase 8 milhões de toneladas mensais de sucata ferrosa e não-ferrosa no Estado tem origem em veículos. Poderia ser muito mais, pois até 75% de um carro é composto por ligas metálicas.
Criar linhas de desmontagem e reciclagem interessa e bem além da indústria de sucatas. Torna-se suporte indispensável para política séria de renovação de frota ajustada à ITV. Por outro lado, empresas especializadas poderiam classificar e reaproveitar componentes sem danos mesmo em veículos acidentados com perda total (PT). O conceito de PT, criado pelas seguradoras, refere-se à extensão do prejuízo em carros cujo valor de mercado não compensa a recuperação com peças novas. Em alguns países da Europa e até na Argentina esse processo permite vender componentes salvados com até 50% de desconto.
É necessário legislação específica e que, ao mesmo tempo, regulasse a suspeitíssima atividade de desmanches. Estima-se que em torno de 30% dos veículos furtados e roubados, sem recuperação pela polícia, desaparecem em desmanches clandestinos ou não. A “eficiência” dos desmontadores chega a impressionar.
Como se vê, controlar a cultura do desperdício traria vantagens inequívocas em vários setores da cadeia automobilística, com benefícios para todos.
kicker: Estima-se que 30% dos veículos furtados e roubados desaparecem em desmanches clandestinos ou não

Fonte: Gazeta Mercantil

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