Alfabetização financeira, uma necessidade urgente
Pesquisa realizada pela Confederação Nacional do Comércio de Bens, Serviços e Turismo (CNC) mostra que a parcela de famílias inadimplentes no Brasil aumentou consideravelmente em fevereiro de 2013. Tal situação não é nenhuma novidade em um país em que a mídia reforça o consumismo compulsivo, o imediatismo e estimula as “facilidades” de crédito e pagamentos a prazo. Além disso, o Brasil não possui uma cultura em que os pais ensinam seus filhos a serem empreendedores e a cuidarem de suas finanças, não importa o volume.
Nós nunca aprendemos com nossos pais e avós a investir ou a ter o próprio negócio. Sempre aprendemos a trabalhar para pagar as contas e não ficar no vermelho no fim do mês. Os tempos eram outros. As oportunidades eram menos numerosas. Ainda não havia a maratona tecnológica que opera um processo de mudanças constantes. Mas é hoje suficiente manter o ritmo de nossos pais e avós?
Creio que os indicadores de inadimplência provam que não. E ela é resultado palpável da pressão consumista dos dias de hoje.
Nesse cenário, a educação financeira não é somente uma questão de se ter uma planilha de controle de gastos e ou de se conseguir fazer sobrar um dinheirinho depois de pagar todas as contas do mês. É uma questão de disciplina e de escolhas. É saber fazer o dinheiro trabalhar a seu favor para a realização de sonhos e de um futuro sustentável. Por isso, educação financeira deve ser ensinada na escola, sim!
Em 2010, foi instituída a Estratégia Nacional de Educação Financeira (Enef), criada com o apoio do Banco Central do Brasil, da Comissão de Valores Mobiliários (CVM), da Secretaria de Previdência Complementar, da Superintendência de Seguros Privados (Susep), da Bolsa de Valores de SP ( BM&F Bovespa) e outras instituições. Tal estratégia tem como objetivo tornar a educação financeira uma nova disciplina na matriz curricular, a princípio, do ensino médio. Foram realizados projetos pilotos em algumas escolas do país, mas não houve a expansão necessária do projeto (até o momento). Por quê? Por falta de professores capacitados? Por falta de uma metodologia adequada? Provavelmente, sim. Precisamos formar nossos professores, ou novos professores, para esse tema específico e trabalhar de uma forma inovadora na sala de aula. Usar cartilhas e livros para passar a teoria (como no modelo tradicional de ensino) não é suficiente. O que nossos alunos precisam é de contextualização. Isso mesmo! Atividades que promovam situações reais. O jogo, por exemplo, é uma atividade de contextualização fantástica, pois faz com que os alunos absorvam, de fato, o conteúdo enquanto se divertem. Aliás, o jogo é muito eficaz até para ensinar adultos.
Nossos alunos precisam aprender sobre o nosso Sistema Financeiro Nacional, sobre poupança e investimentos, sobre ações e taxas que interferem nas nossas finanças etc. E, se isso não for passado de uma maneira prazerosa, não causará a transformação que esperamos. Segundo a educadora financeira Silvia Alambert, não importa quantos salários você ganha, e, sim, como você administra qualquer quantia que venha a receber. Quem sabe administrar bem R$ 1,00 saberá administrar bem R$ 1milhão. Para concluir, observe mais uma citação de Silvia Alambert: “É melhor dizer ao seu dinheiro para onde ele vai do que perguntar, depois, para onde ele foi”. Essa é a lição que nossos alunos precisam aprender.
*Andressa Costa, gestora e educadora financeira, é consultora de língua inglesa e orientadora educacional da Planeta Educação. – www.planetaeducacao.com.br
Fonte: JB ON LINE