AIG estuda cisão para se manter em atividade
A AIG e as autoridades dos Estados Unidos estão mantendo discussões adiantadas sobre uma reestruturação radical que poderá fracionar a seguradora abalada em pelos menos três unidades controladas pelo governo, numa tentativa de mantê-la em operação, de acordo com pessoas próximas à situação.
A reestruturação, descrita por uma pessoa bem informada como uma “cisão controlada”, poderá por um fim aos 90 anos de história da AIG como um conglomerado global de seguros independente.
Ela também poderá oferecer um modelo para repartir outros grupos financeiros em dificuldades – como o Citigroup – na eventualidade de elas serem colocadas sob controle governamental, dizem as pessoas envolvidas.
A AIG, que se transformou numa potência como seguradora global por décadas de negociações articuladas por seu ex-executivo-chefe Hank Greenberg, disse na quarta-feira que a empresa estava atuando “com o Fed (banco central dos EUA) para avaliar novas alternativas potenciais para lidar com os desafios financeiros do AIG”. Procurado, o Federal Reserve se absteve de comentar.
Segundo o plano, o governo trocará os seus 80% de controle na seguradora por grandes participações nas três unidades – as operações da AIG na Ásia, seu segmento de seguro de vida internacional e o setor de seguro pessoal nos Estados Unidos. Uma quarta unidade, que engloba as demais unidades de negócios e ativos problemáticos da AIG, também poderá ser formada.
Em troca, as autoridades afrouxariam os termos, ou até cancelariam uma grande parcela, de um empréstimo de US$ 60 bilhões de cinco anos, e converteriam ações preferenciais no valor de US$ 40 bilhões em ações, numa tentativa de aliviar o ônus da empresa.
Se o plano for adiante, a AIG manteria sua condição de controladora por enquanto. Pessoas envolvidas nas conversas disseram, porém, que a empresa poderá desaparecer, se o governo decidir ressarcir os investimentos dos contribuintes na seguradora por meio da venda ou abertura de capital das três unidades em separado.
O contorno final da nova tentativa de resgate – terceiro socorro promovido pelo governo à AIG em cinco meses – ainda poderá mudar, à medida que prosseguem as conversas entre executivos da companhia, Tesouro dos Estados Unidos, banco central e agências de classificação de crédito.
Pessoas próximas da situação disseram, porém, que a AIG estaria prestes a anunciar a reforma na segunda-feira, quando deverá comunicar um prejuízo de US$ 60 bilhões, junto com os seus resultados para o quarto trimestre. O conselho de administração deverá reunir-se no domingo.
Pessoas a par da situação disseram que o novo plano de resgate foi precipitado pelo agravamento dos infortúnios financeiros da AIG, que foram causados por uma alta acentuada nas perdas escriturais na sua carteira de investimentos, e por suas dificuldades em vender ativos volumosos para saldar o empréstimo atual.
Um dos ativos mais apreciados da AIG, sua unidade de negócios asiática American International Assurance, que já foi avaliada em mais de US$ 20 bilhões, atraiu interesse morno. Compradores potenciais foram dissuadidos pelas condições turbulentas nos mercados de seguro e de crédito.
A venda da área de seguro pessoal nos Estados Unidos, que esteve perto de ser adquirida pela Zurich Financial, também enfrentou dificuldades na medida em que a pressão se intensificou nos mercados de financiamento dos Estados Unidos, de acordo com pessoas familiarizadas com o processo.
As duas unidades provavelmente serão separadas. A terceira unidade a ser fragmentada, a American Life Insurance Company, é uma seguradora global no ramo de seguro de vida, com operações em mais de 50 países e uma extensa presença no Japão.
Ainda não está claro se o setor de seguro de vida nos Estados Unidos e a Foreign General, a seguradora internacional de acidentes e de patrimônio da AIG, serão incluídas em uma das três unidades, ou vendidas separadamente.
A International Lease Finance Corporation, unidade de arrendamento de grandes aeronaves, provavelmente receberá uma linha de crédito do governo e será colocada à venda.
Fonte: Valor