Agenda econômica do governo desestabiliza lideranças
Considerada prioridade pelo governo do presidente Michel Temer, a agenda de reformas tem colocado em posição delicada alguns líderes de partidos da base de apoio ao governo no Congresso. Na semana passada, a primeira baixa ocorreu logo após a votação da reforma da Previdência na comissão especial na Câmara dos Deputados, com a renúncia do deputado Aelton Freitas (PR) da liderança da bancada do PR.
O desfecho da votação da reforma trabalhista na semana anterior desestabilizou lideranças na Câmara que antes eram incontestáveis, como a de Tereza Cristina (PSB-MS) e Arnaldo Jordy (PPS-PA). No Senado, aliados do governo chegaram a articular a destituição de Renan Calheiros (AL) da liderança do PMDB, em reação às críticas que o alagoano fez ao pacote de reformas proposto pelo governo.
A baixa adesão entre os correligionários, porém, está garantindo a sobrevida do ex-presidente do Senado à frente da legenda.
As primeiras mudanças, em resposta às dissidências na votação da reforma trabalhista, já começaram com a exoneração de alguns indicados por parlamentares dissidentes. De caráter preventivo, o Palácio do Planalto já expôs qual será a punição para os parlamentares que traírem o governo Temer na votação da reforma da Previdência.
Após votar pela aprovação da reforma da Previdência na comissão especial, Freitas divulgou nota para oficializar sua saída da liderança da legenda na Câmara. Oficialmente, o parlamentar alegou como motivo para não comandar o PR no Legislativo a necessidade de dedicação à tramitação de projetos de Segurança Pública na Casa.
Um dos correligionários de Freitas afirmou ao Valor, sob condição de anonimato, que as divergências internas sobre a agenda reformista teriam determinado a renúncia do deputado paranaense.
Ainda na Câmara, a líder do PSB, Tereza Cristina não traiu o governo, mas contrariou o partido durante a votação da reforma trabalhista no plenário da Casa. Mesmo tendo orientado o partido a votar não, seguindo decisão da Executiva Nacional do partido, a parlamentar votou a favor da reforma e irritou correligionários. Durante a votação, a parlamentar chegou a discutir com Júlio Delgado (MG), também do PSB, ao afirmar que mesmo sendo líder não seguiria a orientação da legenda.
Na ocasião, 13 deputados do PSB acompanharam o voto da líder, enquanto 16 parlamentares da sigla votaram contra o projeto. Interlocutores da parlamentar afirmaram que a própria Tereza Cristina “tem demonstrado que sente que seu tempo à frente da legenda está se esgotando”.
Ao Valor, Delgado destacou que “Tereza Cristina foi voto vencido quando a questão foi a agenda de reformas” e disse que a permanência dela na liderança do partido “dependerá de como será o transcorrer dessa semana”. “Uma coisa é certa. Se ela sair da liderança, deixa o PSB e deve levar a maioria dos parlamentares que não acompanharam o partido com ela”, afirmou o deputado de Minas Gerais.
Outro parlamentar do PSB afirmou que a posição do partido abre precedente para que deputados de outras siglas não sigam a orientação de seus partidos. Sob condição de anonimato, o deputado revelou que nomes do PSD e do próprio PMDB já comunicaram que pretendem votar contra a reforma previdenciária, contrariando a orientação das siglas, pelo fato do PSB apresentar um elevado índice de dissidência e ainda assim manter cargos no governo.
Os 16 votos contrários a reforma trabalhista não ameaçaram a permanência de Fernando Coelho Filho no comando do Ministério de Minas e Energia.
A possível saída de Tereza Cristina, porém, perdeu força no final da semana passada, quando 26 deputados federais aderiram à um abaixo-assinado à Direção Nacional do PSB declararam apoio irrestrito à manutenção de Tereza Cristina à frente da liderança, função para a qual foi eleita pela maioria dos seus pares.
Também estaria na linha de corte o líder do PPS, Arnaldo Jordy, que não acompanhou a orientação do partido e votou contra a reforma trabalhista. Aliados afirmaram ao Valor que há a intenção de se fechar questão sobre a reforma da Previdência para evitar dissidências que possam desestabilizar a relação entre a legenda e o governo. A recomendação que será feita ao deputado é que ele saia do partido, caso continue contrário à pauta econômica do governo.
Com esse mesmo problema está Renan Calheiros. Governista, o ex-presidente do Senado disparou críticas nas últimas semanas contra as reformas trabalhista e previdenciária. Recentemente, ele usou novamente o plenário do Senado para atacar a reforma trabalhista, aprovada na Câmara. O movimento determinou uma reação liderada por correligionários e líderes da base aliada, que chegaram a articular para que ele fosse destituído da liderança do PMDB. Mesmo diante da insatisfação, segundo relatos de parlamentares do partido, apenas um terço dos 22 senadores que compõe a bancada do PMDB no Senado defende a saída de Renan.
O líder do governo no Senado, Romero Jucá (PMDB-RR) negou em um comunicado que haja uma articulação entre o Palácio do Planalto e senadores da sigla para retirar Renan da liderança do partido do Senado, diante de notícias veiculadas na imprensa a esse respeito. “O presidente do PMDB, senador Romero Jucá, afirma que qualquer decisão sobre a liderança do partido no Senado cabe à bancada de senadores. E que não há qualquer discussão sobre o assunto. Jucá informa ainda que não houve nenhuma conversa neste sentido com o presidente Michel Temer”, diz a nota.
Ao Valor, Renan afirmou desconhecer qualquer tipo de mobilização contrária à sua permanência no posto. O ex-presidente do Senado disse ainda acreditar que seu papel como líder inclui fazer sugestões e críticas aos rumos escolhidos pelo Palácio do Planalto.
“Não estou sabendo de nada. Trabalhei diretamente na construção do consenso para a votação dos projetos de abuso de autoridade e do foro privilegiado. Sempre tive diferenças de pensamento com Michel e com setores da bancada do partido na Câmara”, disse Renan, por telefone.
Ainda que permaneça à frente do PMDB no Senado, Renan tem perdido prestígio entre os correligionários e no Palácio do Planalto. Não é de hoje que Temer não o utiliza como canal de comunicação do governo com os senadores da sigla. Prova disso é que o presidente pediu que Jucá organizasse nesta terça-feira um encontro entre ele e a bancada do PMDB do Senado no Palácio do Planalto.
Em reação às dissidências, o Palácio do Planalto já começou um movimento de exonerações de indicados por políticos que votaram contra a reforma trabalhista. De acordo com avaliação de aliados de Temer, o governo passa a ter novos espaços para negociar votos pela reforma da Previdência.
Alguns dos parlamentares que tiveram seus indicados exonerados sinalizaram que os novos passos do governo não serão suficientes para reverter a tendência de votação da reforma previdenciária. “Não estou com o governo. Não tem cargo no mundo que me faça votar como eles querem. Tomara que os demais deputados que eles retirarem cargos tomem consciência de que não precisam também”, disse Expedito Neto (PSD-RO).
No mesmo sentido, o deputado Deley (PTB-RJ) afirmou que não cederá ao que classificou como chantagens do presidente. ” Sabe quando vou aceitar chantagem de algum governo? Nunca”, ironizou o parlamentar do PTB.
Por outro lado, assessores do Planalto acreditam que a promessa de punição a futuras traições alavancará o índice de fidelidade dos parlamentares da base governista. Um auxiliar da presidência disse que o governo não oferecerá cargos sem garantias e lembrará os aliados dos cargos que já possuem e da possibilidade de perdê-los caso decidam votar contra a Previdência.
Fonte: Valor