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A rentabilidade das seguradoras deve cair

Antonio P. Mendonça*
Ao longo deste ano a rentabilidade das seguradoras em operação no Brasil deve ser menor que em 2008. As razões para isso são previsíveis e passam por regras aplicáveis em qualquer parte do mundo.
Uma seguradora tem as despesas distribuídas entre sinistros, custos comerciais, administrativos e carga tributária, que no Brasil pesa bastante.
De outro lado, ela tem três grandes grupos de receitas. O primeiro é a entrada dos prêmios, o segundo é o resultado da aplicação destes recursos e o terceiro é o resultado da rentabilidade do patrimônio e das reservas de capital.
Em 2008 o setor experimentou uma piora no resultado dos seguros de automóveis, fruto principalmente da redução do preço das apólices. O porquê disso está, basicamente, na tentativa de algumas seguradoras ganharem mercado, enquanto do outro lado acontecia o movimento de defesa das empresas que se sentiram ameaçadas pela política agressiva praticada pela concorrência.
O resultado foi a piora do desempenho da carteira, já que não havia nenhum fato que justificasse tecnicamente a redução do preço do seguro. Não houve diminuição nos índices de roubo e furto, não houve queda no preço das peças de reposição, não houve queda de preço, nem sobra de veículos novos no mercado.
Como o seguro de automóveis é um dos grandes responsáveis pela geração de caixa de boa parte das seguradoras, uma piora no seu desempenho significa também uma diminuição no volume de recursos para ser aplicado por elas, reduzindo sua rentabilidade, porque menos dinheiro significa menos renda para somar ao desempenho industrial, ou ao faturamento com a venda de seguros.
No fim de 2008 o setor sofreu mais dois impactos: a queda vertiginosa da Bolsa de Valores e a queda dos juros. Como a maior parte dos recursos das seguradoras é composta por títulos públicos, ao contrário do que acontece para a maioria das empresas, a queda dos juros é ruim para elas.
De outro lado, um bom porcentual das reservas não vinculadas é, normalmente, aplicado em ações. Assim, também a queda da bolsa contribuiu para afetar negativamente o desempenho das companhias de seguros no ano passado.
Como em 2009 a tendência dos juros e da bolsa parece ser manter a trajetória de queda iniciada no quarto trimestre de 2008, não há razão para o desempenho das aplicações financeiras, tanto dos prêmios, como do patrimônio, contribuírem com alguma coisa para melhorar os resultados finais das seguradoras.
A par disso, não é em época de crise que os preços são reajustados para cima. Pelo contrário, é nela que os preços costumam cair ainda mais, na tentativa de preservar o cliente.
Então, por esse lado, há pouco que pode ser feito, ainda mais se levarmos em conta que a situação brasileira está longe da marolinha inicialmente anunciada. O desemprego já atingiu centenas de milhares de pessoas, a inadimplência, de forma geral, está em alta, o crédito está mais caro e o dinheiro mais escasso.
Na sequência desse processo, os planos de saúde devem sentir dois problemas: a não renovação dos planos empresariais, que são os grandes contratantes desses produtos, e a luta dos que não têm mais condições de permanecerem neles para não perderem o benefício.
Além disso, a previdência privada aberta receberá, ao longo de 2009, menos recursos do que no ano passado, tanto porque há menos dinheiro sobrando, como pelo fato de que quem tem alguma sobra, neste momento, preferir aplicá-la em produtos de curto prazo, para a eventualidade de um resgate imediato.
Importante salientar que não há no horizonte a perspectiva de alguma quebra ou mesmo de dificuldades que possam afetar o dia a dia do setor. O que há de certo é que em 2009 as seguradoras ganharão menos, o que não quer dizer, sequer, que não vão ganhar.
De qualquer forma, desconfie de quem lhe oferecer seguro por preço muito menor do que o da concorrência. Nesse negócio não existe mágica e o cenário é complexo o suficiente para não permitir prêmios em valores bem mais baixos que a média.

Fonte: O Estado de São Paulo

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