A falta de liquidez e os mercados do Brasil
A atividade em mercados de capitais não se limitou a negócios com ações. Tivemos um desenvolvimento muito importante de fundos imobiliários, recebíveis, bônus corporativos etc. Durante 2006 e 2007, a contribuição de recursos mobilizados via mercados de capitais foi mais importante que os recursos fornecidos pelo sistema BNDES. Infelizmente, esse período em que os mercados de capitais pareciam estar se consolidando como um importante supridor de recursos para o desenvolvimento da economia brasileira foi bruscamente interrompido, desde o fim de 2007, pela crise financeira que estamos enfrentando.
No caso brasileiro, os investidores estrangeiros, os mais importantes em mercados de capitais nos anos de abundância de recursos foram também os primeiros a saltar fora deles. Em 2008, a Bolsa de Valores brasileira foi esvaziada pela saída de investidores que procuravam levantar recursos para atender aos resgates em seus países de origem. O mercado de ofertas públicas de ações praticamente ficou paralisado desde então.
Nas últimas semanas, no entanto foi possível notar um sopro de vida no mercado. O Citi fez uma oferta secundária bem-sucedida pela Redecard, que, como no passado, foi adquirida principalmente por investidores estrangeiros. A Odebrecht conseguiu colocar uma emissão de dívida de US$ 200 milhões (por cinco anos) quando inicialmente planejava colocar somente US$ 150 milhões. O mercado de crédito está gradualmente se descongelando, como se verificou recentemente em resposta a incentivos no caso dos automóveis. A queda das taxas de juros, já ocorrida, e a que esta por vir, certamente será positiva.
Isso, entretanto não basta para alimentar ilusões. O crédito continuará escasso e caro em comparação com o passado recente, embora mais acessível que durante dezembro de 2008 e janeiro de 2009. Não há como imaginar que, de repente, o panorama possa mudar radicalmente. As sequelas da crise ainda nos acompanharão por algum tempo e o restabelecimento da confiança é um elo essencial nessa cadeia do crédito.
O espaço previamente preenchido por mercados de capitais foi agressivamente ocupado pelo setor público, e, no caso brasileiro, muito particularmente pelo BNDES, instrumento usado pelo governo para irrigar o sistema. Medidas políticas foram adotadas para aprovar programas do governo como o Programa de Aceleração do Crescimento (PAC) ou para amparar os setores mais diretamente afetados pela crise.
As decisões recentemente tomadas na reunião do G-20, quando implantadas, podem trazer um novo estímulo para a região, particularmente a capitalização do FMI, mas também a linha de crédito anunciada de US$ 200 bilhões para o comércio exterior. Também deve ser considerado o possível impacto de países centrais entrando no mercado para financiar seus programas contra-cíclicos. Nos próximos três meses será possível determinar se o pior da crise já passou.
Concluindo, na semana do World Economic Fórum on Latin América, ainda é prematuro prever o fim das dificuldades econômicas. O fato de que alguns mercados de capitais, particularmente o do Brasil (o mais importante da América Latina), vêm operando no ano com resultados positivos é um indicador favorável. A volta de investidores estrangeiros ao mercado de ações é apenas um dos fatores importantes. Outro sinal encorajador é o número de visitantes interessados em saber mais sobre oportunidades de investimento no Brasil, incluindo investidores em private equity. Em virtude de diferenças existentes em nossa região, é difícil falar pelos outros países latino-americanos. Acredito que se formos capazes de revitalizar o mercado de capitais no Brasil, oportunidades seguramente aparecerão no Chile, Colômbia e México.
Fonte: Gazeta Mercantil
