Sucesso tem replay
Ao recolocar o setor privado como protagonista dos investimentos em infraestrutura no país, condição aberta pelo pacote de medidas lançado há uma semana, o governo conquistou uma corrente de formadores de opinião e de expectativas composta por empresários, investidores e especialistas. Deu certo. E um replay pode ocorrer em duas semanas, com o anúncio do PAC de concessões de portos, aeroportos e energia. Na agenda oficial, 5 de setembro está reservado para as formalidades.
A positiva reação às medidas de infraestrutura surpreenderam até alguns observadores mais céticos do próprio governo e instalaram de fato expectativas mais otimistas que permanecem, a despeito de o clima de euforia no mercado financeiro já ter se atenuado. Os mercados, após um auê alimentado por indicadores inesperados de atividade, caíram na real. E a realidade de dois dos principais ativos financeiros negociados no Brasil (câmbio e juro) não reflete exatamente forças de mercado, mas engessamentos.
No câmbio, o engessamento decorre de intervenções operacionais do BC e retóricas do Ministério da Fazenda. No juro, pela previsibilidade do próximo passo a ser tomado pelo Copom na condução da política monetária neste fim de um longo ciclo de afrouxamento monetário. Na semana que vem, o Copom deve cortar a taxa Selic mais uma vez, em 0,5 ponto percentual, para 7,5% ao ano. Essa é a expectativa de analistas e indicação sacramentada na curva de juros.
Embora os indicadores disponíveis não apontem, por ora, uma recuperação retumbante da economia, pipocam as informações que reforçam a visão de melhora até o fim do ano, ainda que em função do benefício resultante do IPI mais baixo na venda de carros novos. Ontem, o Itaú Unibanco informou que a economia retomou em junho o movimento de aceleração interrompido em maio. O PIB mensal apurado pela instituição cresceu 0,8% em junho sobre o mês anterior, já descontados os efeitos sazonais, revertendo a queda de 0,2% registrada em maio, na mesma base de comparação.
Aurélio Bicalho, economista do Itaú, explica que o resultado é reflexo da redução do IPI. Mas, calcula, se a medida não tivesse sido adotada, o PIB mensal medido pela instituição teria tido queda de 0,1% no período. Para Bicalho, isso mostra a importância da medida e uma certa fragilidade da expansão da atividade, mas também indica que a economia está reagindo aos estímulos promovidos pelo governo. Isso é importante para olharmos à frente, já que há muitos incentivos via redução das taxas de juros e benefícios fiscais que devem contribuir para a aceleração da economia nos próximos meses.
Sondagem Industrial de julho, divulgada ontem pela Confederação Nacional da Indústria (CNI), apontou cenário de lenta recuperação, mas capaz de levar a economia a um crescimento de 3% a 4% no fim deste ano. Outra sondagem, esta da indústria de transformação monitorada pela Fundação Getulio Vargas, indica que, em agosto, o setor ainda não mostra retomada generalizada da produção. Os sinais de recuperação seguem concentrados em bens duráveis, como automóveis. Mas a mesma pesquisa traz aumento de confiança dos empresários.
Fonte: Valor