Ascensão do mercado securitário na América Latina
Apesar da crise econômica mundial, estudos apontaram que a indústria securitária da América Latina foi a que registrou maior aumento nas vendas: 11% em 2008, alcançando 69 bilhões de euros em volume de prêmios. Este resultado apontou o continente como uma das regiões mais promissoras do mundo pelos grupos seguradores, que por sua vez buscam expandir suas operações.A tendência de alta nas vendas permaneceu. Apenas no primeiro semestre de 2009, o mercado de seguros latinoamericano obteve crescimento de 7,3%, registrando 35,7 bilhões de euros em volumes de prêmios. Já o incremento do PIB para este ano deve atingir 5% (e em algumas regiões pode chegar a 6%), fazendo com que a região continue sendo o mercado certo para se apostar. Segundo dados do Centro de Estudos da Fundação Mapfre, os países que mais cresceram em volume de prêmios neste último ano foram Venezuela (36,3%), Paraguai (33,4%) e Uruguai (26,9%). Apesar destes números, os mercados mais desenvolvidos são Brasil, Venezuela, Argentina, Chile e Colômbia. Em compensação, o Chile é o país que mais gasta em seguros por habitante: 270 euros em média. Em seguida vem a Venezuela, com 254 euros e o Brasil, 186 euros. Além disso, o mercado securitário chileno é o que possui maior penetração na economia, alcançando taxas de 3,9%, seguidas pelas do Brasil e Venezuela, com 3,3% cada um.Mas o setor nem sempre foi tão proeminente como agora. Na década de 80, o mercado segurador não era tão popular. Os produtos eram restritos a seguros de vida, residência e automóvel, além de serem caros. Apenas, as grandes corporações e as pessoas de alto poder aquisitivo tinham acesso aos seguros e a seus canais de vendas, que se limitavam a corretores e instituições financeiras. Com a expansão do livre comércio, estabilização da economia, programa de privatizações de empresas estatais, eliminação de restrições ao capital estrangeiro, incentivos setoriais e a criação do Mercosul nos anos 90, a América Latina mudou sua posição econômica no mercado mundial, despertando o investimento dos Estados Unidos, Europa e Ásia. Segundo Michael Mortimore, diretor da Comissão Econômica das Nações Unidas para a América Latina e o Caribe, apenas no biênio 1997-1998, a média anual da entrada de investimentos foi cerca de US$ 70 bilhões, enquanto que a média anterior a década de 90 era de US$ 10 bilhões.Com o cenário favorável e o boom da economia, o que fez aumentar a classe média no Brasil, enxergou-se uma oportunidade: inserir as classes C, D e E no “mundo securitário”. Este foi o ponto de partida para que, em 1998, o programa de seguros massificados fosse lançado em parceria com uma empresa de utilities energia elétrica. Para obter sucesso neste tipo de modelo, a companhia precisou consolidar a base de clientes e oferecer apólices de acordo com o perfil de cada grupo consumidor, sempre a preços acessíveis que são cobrados de maneira simplificada, junto com a conta de luz do segurado.O modelo inovador mudou a forma de ofertar o produto no Brasil, promovendo a inclusão social da população. Para acompanhar a demanda do mercado, as empresas precisam oferecer muito mais do que apenas seguros, devem ser provedoras de soluções completas de negócio que abrangem produtos, desenho de estratégia de gestão, oferta de capital humano especializado e aplicação de inteligência na consultoria de projetos em produtos e serviços massificados.O projeto de seguros massificados no Brasil tornou-se referência e o modelo de negócio foi exportado para os demais países da América Latina. Um profundo estudo foi realizado no Chile, Peru, Colômbia, México e Argentina para que a cadeia de valor dos clientes de cada região fosse compreendida. Desta maneira, foram desenvolvidos produtos e serviços de acordo com as necessidades da população de cada local. Apesar de os massificados ainda terem espaço para expandir, na próxima década haverá um novo upgrade no mercado securitário: os microsseguros. Em breve, esta classe de produtos se tornará realidade no Brasil. Embora ainda não haja diretrizes delineadas para sua implementação, o que já foi definido é que será necessária a existência de seguradoras habilitadas para atuar nesse mercado e que a Susep (Superintendência de Seguros Privados) deverá normatizá-lo em todos os seus aspectos financeiros, processuais e jurídicos. Ainda existem algumas barreiras para o sucesso dos microsseguros, na sua maioria de questão cultural. Apesar de crescente, a cultura de seguros ainda não é forte em nosso país, especialmente entre as classes menos favorecidas. Será necessário encontrar os canais de distribuição e meios de contato com esse novo consumidor que mais se aproximem de sua realidade e “falem sua língua”, de forma a promover o correto entendimento sobre os produtos e benefícios deste tipo de serviço essencial para todos.
Fonte: Revista Apólice