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Famílias das vítimas do 447 criam associação

São pessoas que nunca se viram antes, e jamais tiveram qualquer relacionamento pessoal ou profissional. Mas, de repente, elas parecem mais unidas do que jamais imaginaram poder estar. E mais decididas a lutar pelos seus direitos. São os parentes das vítimas do fatídico voo 447 da Air France, do Rio para Paris, na noite de 31 de maio deste ano, operado por um Airbus A330-200 de fabricação francesa.
Esta foi a maior tragédia aérea ocorrida no Atlântico Sul, pois significou a perda de 228 vidas humanas – 216 passageiros e 12 tripulantes. Dos corpos que estavam a bordo quando o avião mergulhou no mar, apenas 51 foram encontrados. Isso significa, já que as buscas estão encerradas, que pelo menos 177 famílias jamais vão receber os restos mortais de seus entes queridos – maridos, filhos, irmãos ou netos – e lhes dar uma sepultura digna. Talvez não haja frustração maior no coração e na mente de uma pessoa.
Mas as famílias das vítimas brasileiras estão decididas a lutar, até o fim, para receber uma compensação financeira que pelo menos amenize a dor de sua perda, e a falta de seus parentes desaparecidos na imensidão do oceano. Terminado o prazo de 30 dias, já não há mais esperanças do resgate das duas caixas pretas contendo os principais dados técnicos e as vozes dos tripulantes no momento da tragédia.
Os parentes desses mortos na tragédia estão em fase final de organização da Associação das Famílias das Vítimas do Voo AF-447. Um grupo já esteve em Paris, onde fez importantes contatos com autoridades francesas. O mais importante: falou e foi ouvido.
Nelson Faria Marinho, que perdeu um filho, é um dos líderes do movimento. Outra presença de destaque é do gestor de hotelaria Maarten van Sluijs, irmão da passageira Adriana Francisca van Sluijs – da área de Comunicação da Petrobras -, que foi sepultada anteontem no cemitério Parque da Colina, em Niterói, depois que a identificação de seu corpo foi feita no Instituto Médico Legal (IML) de Recife.
Maarten vem lutando desde o início, e explica que a razão maior de seu esforço é fazer com que a aviação civil fique mais segura, e que as companhias aéreas assumam suas responsabilidades. Em contato com este Caderno de Turismo, no começo da semana, Maarten ressaltou o valor da contribuição dos meios de comunicação no Brasil: Ao levar ao leitor ou ouvinte nossas petições e mensagens, vocês representam nossa única força diante dos Golias, sinalizando a disparidade de forças entre uma poderosa corporação aérea, o gigantismo do fabricante Airbus e todos os interesses econômicos envolvidos num acidente de tais proporções.
As famílias têm evitado falar em cifras. Muitas delas se recusaram a receber a ajuda de custo inicial da Air France, calculada em R$ 49 mil. A empresa francesa, através de uma seguradora europeia, se dispõe a pagar cerca de R$ 250 mil à família de cada vítima brasileira, dizendo que se baseia em tratados internacionais. Tudo indica, entretanto, que este valor também será contestado.
Acredita-se que o valor mínimo de cada causa a ser ajuizada será de R$ 1 milhão – e daí para cima. Serão o equivalente a mais de 300 mil euros, quando a companhia aérea se dispunha a pagar menos de 100 mil.
Os parentes das vítimas estarão assistidos pelos maiores escritórios de advocacia no país, e algumas famílias pretendem processar não só a Air France, como também a Airbus Industrie e todos os fabricantes de componentes utilizados no jato A330-200.
Fontes que pediram para não serem identificadas, garantem que as famílias não vão ceder ou afrouxar, ainda que a demanda judicial dure muitos anos. O bem mais valioso nós já perdemos, que foram nossos irmãos, filhos, pais, esposas ou maridos.
Gerard Depardieu é solidário
No regresso de Paris, um grupo de 4 parentes das vítimas citou um fato que deixou a todos bastante comovidos: o ator Gerard Depardieu, em companhia de sua colega Fanny Ardant, esteve no Hotel Lutetia, na Rive Gauche, para visitá-los e levar-lhes sua solidariedade. Depardieu disse que eles estão muito certos em defender seus direitos, e não podem desistir de sua luta. Maarten van Sluijs ouviu isto dele e lhe agradeceu, emocionado.
Os parentes das vítimas participaram de reunião oficial do BEA, o órgão francês que coordena as investigações sobre causas dos acidentes, tendo recebido de seu presidente. sr. Aslasnian, a garantia de que serão oficialmente informados a cada fato novo que ocorrer no rastro das investigações. E falaram também com o embaixador Vandoorne, que foi escalado pelo Ministério do Exterior francês para acompanhar o caso.
Os brasileiros participaram de assembleia ordinária da Associação das Famílias das Vítimas Francesas, presidida por Christophe Guillot-Noel, recebendo solidariedade deles, e tiveram uma reunião na Embaixada do Brasil, onde a cônsul Maria Celina de Azevedo Rodrigues lhes deu a garantia da atuação do Ministério das Relações Exteriores e a certeza de que as autoridades brasileiras não vão ficar indiferentes.

Fonte: Hoje em Dia

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