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O caminho do resseguro da Índia

Todas as noites, o sotaque esquisito do brâmane Shankar, vivido por Lima Duarte, ou o excesso de puritanismo da linda Maya, personagem de Juliana Paes, trazem um pouco da rica cultura indiana a milhões de brasileiros. A novela das oito “Caminho das Índias” também mostra galãs brasileiros na pele de homens de negócio indianos. Na vida real, esse papel é cada vez mais comum no mundo globalizado. Recentemente, empresas da Índia ganharam destaque internacional, principalmente nos setores tecnológico, automotivo, farmacêutico, energético e têxtil.Outra atividade em evidência é o resseguro, que colocou a General Insurance Corporation of India (GIC Re) no caminho do Brasil. Coincidentemente, a gigante estatal indiana foi autorizada a fazer negócios no novo ambiente de concorrência entre resseguradoras privadas no País em 19 de janeiro deste ano, data da estreia da novela da TV Globo. Em entrevista exclusiva à Gazeta Mercantil, concedida por e-mail, Yogesh Lohiya, presidente do conselho de administração e diretor executivo da GIC Re, revela que as apostas no mercado brasileiro são altas. “O Brasil é a porta de entrada para negócios na América Latina, por isso vamos destinar alta capacidade de resseguro para riscos patrimoniais, aviação, energia e seguros marítimos.”
Detentora do monopólio do resseguro na Índia, a GIC Re quer usar o Brasil como trampolim para aumentar sua participação no mercado mundial. “Em 2008, os negócios no exterior representaram 27% da nossa receita. Esperamos que esse número fique em 50% até 2015”, acrescenta Lohiya. Ao explicar por que a resseguradora sediada em Mumbai se manteve intacta durante a crise financeira, o executivo destaca as duras regras do mercado indiano, bastante similares às regulações brasileiras, que proíbem, por exemplo, uma seguradora de investir suas reservas no exterior. A GIC Re fechou 2008 com lucro de US$ 415 milhões, alta de quase 55% sobre 2007, e faturamento em prêmios de US$ 2,3 bilhões.
Gazeta Mercantil – O que levou a GIC Re a aportar no Brasil?
Há alguns anos temos dado suporte de resseguro ao IRB-Brasil Re. Depois da outorga da lei 126/07, em janeiro de 2007, marcando a abertura do mercado local de resseguros, a GIC Re decidiu entrar oficialmente no País e recebeu o status de resseguradora eventual. Com a autorização da Susep (Superintendência de Seguros Privados, reguladora do mercado segurador brasileiro), a GIC Re já fechou contratos facultativos (carteira de seguradoras) por meio de outras resseguradoras locais. O Brasil é um ótimo mercado para nós por muitas razões: 1) estamos nos Brics (Brasil, Rússia, Índia e China), que compreendem os mercados mais promissores hoje; 2) o potencial do mercado de seguros brasileiro e a taxa de crescimento da economia geral; 3) o Brasil talvez seja o melhor ponto de entrada para qualquer um que esteja olhando para os mercados da América Latina; 4) já temos um envolvimento com o País por meio do nosso escritório de Londres, que agora está solicitando o reconhecimento local da Susep.
Gazeta Mercantil – Como vão operar no País?
Definitivamente temos o objetivo de ter uma área de cobertura maior no Brasil, ou por meio de uma divisão ou de um escritório de representação. Gostaria de enfatizar que a GIC RE acredita em relacionamentos e compromissos de longo prazo. Nossa taxa de retenção de clientes e empresas tem sido muito alta nos últimos anos. Estamos abordando o Brasil com um compromisso similar.
Gazeta Mercantil – Em quais campos de resseguro focarão o trabalho?
O portfólio da GIC Re está focado em grandes riscos patrimoniais, energia, seguros marítimos e transportes, aviação, ramos elementares e riscos diversos.
Gazeta Mercantil – A GIC Re já determinou a capacidade de resseguro destinada aos riscos brasileiros?
Vamos disponibilizar capacidade total para os setores de propriedade, aviação, energia e riscos da indústria naval. Claro que a utilização dos nossos limites vai depender da qualidade do risco.
Gazeta Mercantil – A crise financeira internacional prejudicou muitas resseguradoras. Como ficou a capacidade da GIC Re com as turbulências nos mercados?
Não sofremos o impacto da crise global. Temos um balanço forte e no que tange os ativos está praticamente intacto. Investimos pesadamente em mercados de dívida, mantendo as aplicações até o vencimento, de acordo com critérios da Insurance Regulatory and Development Authority of India (Irda, a Susep indiana). Computamos nossos ativos de operações com ações somente com valor contábil, por isso quase não tivemos desgaste. Portanto, continuamos com alta margem de solvência, boa liquidez e a oferecer o mesmo nível de capacidade de resseguro. A agência de rating AM Best confirmou nossa classificação “A-” pelo oitavo ano seguido.
Gazeta Mercantil – Desde a abertura do mercado brasileiro de resseguro, em abril de 2008, mais de 50 companhias estrangeiras estão autorizadas a fazer negócios com seguradoras locais. O sr. prevê grande concorrência e qual será o diferencial da GIC Re?
São três pontos que nos diferenciam das concorrentes. O primeiro é a nossa flexibilidade quanto à aceitação de riscos (underwriting), ao passo que a maior parte das companhias resseguradoras está trabalhando dentro de uma camisa-de-força por causa da crise. O segundo é a nossa disposição e boa vontade para pagar prontamente as indenizações. Por último, a solidez de nosso balanço, que conseguiu resistir à atual crise financeira, é outra vantagem.
Gazeta Mercantil – Qual a relevância dos negócios internacionais para a composição do resultado da GIC Re?
No período 2007-08, as operações internacionais responderam por 27% da receita da empresa. Esperamos que os negócios no exterior contribuam com 50% até 2015. Nós estamos nos maiores mercados de resseguro do mundo, competindo em preço, serviço e expertise com todas as companhias globais. Conquistamos o título de resseguradora-líder nos mercados da África e da Ásia, onde agora passamos por uma fase de consolidação.
Gazeta Mercantil – Nos últimos dez anos, o mercado segurador indiano atravessou um processo de reestrututração similar ao que ocorreu no Brasil, com a estabilização da economia e a abertura do resseguro. Em sua opinião, quais os avanços?
As mudanças conduzidas fizeram parte de uma reforma mais ampla de todo o setor financeiro da Índia, no início da década de 1990. Em 2000, a Irda foi criada e os mercados de seguro e resseguro foram abertos à iniciativa privada, permitindo a participação estrangeira. Atualmente há 22 companhias de seguro de vida e 21 seguradoras no segmento patrimonial no país. Em resseguro, a GIC Re é a única na Índia e de propriedade estatal. Nosso sistema de regulação – chamado de “conservador” – nos ajudou a atravessar ilesos a crise mundial. Na Índia, nenhuma companhia doméstica de seguros, de vida ou não, possui qualquer grau de exposição no exterior. As margens de solvência, de 150%, para as seguradoras indianas também são bastante confortáveis.

Fonte: Gazeta Mercantil

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