Previdência, opção para quem já está escaldado
Os planos de previdência voltaram a receber recursos em fevereiro: somando todos os tipos de fundos, a categoria teve uma captação líquida (aplicações menos resgates) positiva em R$ 1,001 bilhão no mês passado. Em janeiro, os saques haviam superado os depósitos em R$ 79 milhões.
Com exceção de dezembro – em que tradicionalmente os aportes aumentam por causa do décimo-terceiro salário -, fevereiro foi o melhor mês desde o agravamento da crise, em setembro, e já representa quase uma volta à normalidade.
Em agosto, a categoria havia captado R$ 1,081 bilhão. O número também supera o fluxo de recursos de fevereiro de 2008, de R$ 411 milhões.
Já nos fundos com parte (até 49%, segundo a legislação) em ações, os saques continuam predominando, ainda que num volume menor. Em fevereiro, a captação líquida foi negativa em R$ 10,863 milhões.
Desde outubro, este tipo de fundo de previdência tem registrado mais saídas do que entradas de recursos.
No entanto, o número do mês passado está próximo do registrado em fevereiro de 2008, quando estes fundos tiveram saída líquida de R$ 7,646 milhões.
Fundos com parte em ações representam até 8% do setor
Os números mostram o que os executivos têm notado: o apetite pelo risco do participante de previdência não será mais o mesmo. Ou levará um tempo para voltar ao que era e fazer o beneficiário que desistiu voltar a se arriscar com uma parcela em ações.
– A crise mexeu com a aversão a risco das pessoas. Demora um tempo para isso mudar, mas creio que, ao longo de 2009, deve voltar a haver investimentos em renda variável – avalia Luiz Martinez, gerente de produtos de previdência da Icatu Hartford.
Na sua seguradora, por exemplo, especializada em produtos de previdência mais sofisticados, até o primeiro semestre de 2008, 70% dos recursos recebidos iam para algum plano com alguma parcela em ações. Hoje, esse percentual é de 55%, calcula.
– A principal mudança foi o aumento da procura por fundos de renda fixa, mais conservadores.
Algumas pessoas, depois de verem a bolsa cair 40% (o Índice Bovespa caiu 41,22% em 2008), descobriram que, de repente, preferem investimentos mais conservadores – relata Martinez.
Um ponto importante é que, como a legislação limita a aplicação em ações a 49%, as perdas nestes fundos também foram limitadas e compensadas, ao menos parcialmente, pelos ganhos do resto da carteira, com títulos de renda fixa, por exemplo.
Luiz Martinez conta que a seguradora agora está voltando a ter conversas de novos negócios, tanto com empresas que oferecem os fundos para funcionários quanto com possíveis instituições distribuidoras dos planos de previdência.
Para o vice-presidente da Federação Nacional de Previdência Privada e Vida (Fenaprevi), Renato Russo, os solavancos no setor foram menores do que em outros fundos, como os de ações ou multimercados (que aplicam em diversos segmentos, como juros, câmbio e bolsa ao mesmo tempo). Atualmente, apenas de 7% a 8% do patrimônio dos fundos de previdência estão em carteiras com alguma parcela em ações, calcula Russo.
O executivo estima que, após o segmento ter crescido 13,3% em 2008, em 2009 deve ganhar entre 10% e 15%. Nos cinco anos antes de 2008, o setor vinha crescendo a uma taxa anual de cerca de 20%, diz Russo, também vice-presidente da SulAmérica Seguros de Vida e Previdência.
– A crise torna as pessoas cautelosas na decisão de investimento para o longo prazo.
O que mudou foi a velocidade das contribuições novas. Hoje, quem entra está se concentrando mais na renda fixa e há algum movimento de portabilidade (transferência entre fundos) de renda variável para a renda fixa – diz Russo.
Fabio Gallo Garcia, professor de Finanças da Fundação Getulio Vargas (FGV) e da PUC-SP, avalia que, com os juros altos no Brasil e os “sustos diários” da Bolsa, ainda é vantagem para o cidadão comum investir em fundos com foco na renda fixa, que tem acumulado altos ganhos nos últimos anos, mesmo quando a Bolsa cai.
Fonte: O Globo