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Previdência privada tira sossego de aplicador

Se o objetivo de fazer um plano de previdência privada é ter uma aposentadoria tranqüila, ao menos por enquanto tudo o que alguns adeptos destes fundos não estão tendo é sossego. É o caso dos que optaram por aplicar uma parcela – de até 49% permitida pela lei – dos aportes mensais ou esporádicos em ações. Diante das quedas recentes, e de mais de 40% no ano, da Bolsa, os portadores desses fundos começam a procurar as seguradoras, responsáveis pelos planos, para saber o que fazer. A busca também acontece nas áreas de Recursos Humanos (RH) das empresas patrocinadoras de parte dos planos.
As áreas de RH repassam as consultas e as dúvidas às seguradoras.
É o que conta Luiz Fernando Butori, diretor da Unibanco Seguros e Previdência: – Temos recebido muitas consultas de pessoas físicas, mas principalmente das áreas de RH dos clientes pessoas jurídicas da seguradora. Os funcionários perguntam a eles se devem ficar mais em renda fixa por causa da turbulência e os departamentos têm procurado a gente.
Segundo a Associação Nacional dos Bancos de Investimento (Anbid), os fundos de previdência com ações acumulam, em média, rendimento negativo de 22,95% no ano (até dia 28 de outubro), enquanto os que aplicam apenas em renda fixa registram rentabilidade em torno de 9%.
Recuperação pode levar três anos na renda fixa
As seguradoras evitam dar uma resposta, pois a decisão de riscos a correr deve ser do dono do plano. Mas, para quem está sofrendo com as oscilações, o momento pode ser de reavaliar o perfil de risco que o investidor aceita, diz Aquiles Mosca, estrategista de investimentos da gestora de fundos do Banco Real, autor de “Investimento sob Medida: Faça o Seu Dinheiro Trabalhar para Você” (Editora Campus-Elsevier).
– Na previdência, é um senhor momento de oportunidade para ter parte em ações. Por definição, previdência é uma aplicação para 20 ou 30 anos. Em dez anos, a pessoa já vai ter saído dessa crise e entrado e saído de várias outras. Se há um investimento para ter risco em bolsa, é esse – diz.
Ele avalia que os investidores ficaram mal-acostumados, em especial os que entraram a partir de 2003, desde quando a Bolsa praticamente só fez subir.
– Não tem nada de errado em ficar na renda fixa se a pessoa chega à conclusão de que vai dormir mais sossegada. Só precisa saber que vai perder a chance de ganhos maiores e vai levar três anos na renda fixa para ficar no zero-a-zero com o que perdeu com ações esse ano – afirma.
O único caso em que ele recomenda o saque – ou mudança para a renda fixa – é se a pessoa tem a aquisição de algum bem com compromisso de pagamento programado para menos de 12 meses.
O diretor de Previdência da MetLife, Maurício Ferreira, reconhece que a movimentação maior de saída de fundos com ações é mesmo de quem tem necessidades de curto prazo: – Quando vendemos um plano, orientamos que é para longo prazo, a pessoa tem que pensar num horizonte de quatro a cinco anos para mais. Quem precisa do dinheiro a curto prazo comprou produto errado ou não foi bem orientado.
Apesar das consultas intensas às seguradoras, essa busca por informação ainda não se transformou num fluxo negativo (saída de recursos maior do que a entrada) nos fundos com ações em carteira, avalia Luís Martinez, gerente de produtos de previdência da Icatu Hartford.
Para ele, houve uma redução do fluxo a favor dos fundos com ações. No primeiro semestre, aproximadamente 75% da movimentação entre fundos da Icatu tinham como destino alguma carteira com ações. Agora, apenas 45% estão indo para fundos com este perfil, segundo Martinez.
Ou seja, há investidores acreditando que a hora é de entrar, mesmo indiretamente, no mercado de ações, após as quedas recentes.
– A central de atendimento tem recebido mais ligações de pessoas querendo entender o impacto da Bolsa na aplicação dela – constata o executivo.
A economista Rita Mundim recomenda perguntar o que o fundo tem na carteira antes de aplicar.
Para ela, o momento é de manter ou até aumentar a parcela em ações. Outra possibilidade é administrar o próprio dinheiro da aposentadoria.
– As pessoas têm plenas condições de fazer elas mesmas, investindo em ações e em títulos públicos, pelo sistema do Tesouro Direto, e evitar as taxas de carregamento e de administração dos fundos – comenta.
Investidor preferiu manter parcela em ações
O microempresário Felipe Cabral Velho, dono de uma franquia de curso de inglês e outra de pizzaria, foi um dos que pensou em mudar. Ele tem um plano de previdência com 60% da carteira em renda fixa e 40% em renda variável (ações) para o filho de cinco anos. O patrimônio no fundo já está inferior ao aplicado seis meses atrás, quando a Bolsa estava no pico.
– Mas continuo acreditando. Ao longo do tempo, é a melhor aplicação. Como é para uma criança muito pequena, ainda vale a pena deixar. O banco até disse que eu poderia mudar, mas preferi manter – conta.

Fonte: O Globo

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