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Alta temperatura exige novos modelos para seguros

O mercado de seguros rurais está em processo de crescimento no Brasil. O desempenho supera o alcançado em outras modalidades, como o seguro pecuário e o florestal, e a tendência é de performance positiva para os próximos anos, segundo especialistas. Dados de 2007 mostram que o volume total de prêmios pagos no segmento pulou de R$ 41,76 milhões em 2003 para R$ 130 milhões em 2007, uma expansão superior a 211%, informa o Ministério da Agricultura, Pecuária e Abastecimento. Apenas em 2007, a alta foi de 58,7% em relação ao ano anterior. Nessa fase de busca por mecanismos de proteção, um fator específico deve pesar mais no cálculo dos seguros nos próximos anos. Trata-se do risco de alteração nas temperaturas médias no campo, que interferem diretamente na colheita e cultivo de insumos, como ração.
O mercado segurador está acompanhando de perto essa discussão e estuda novos modelos matemáticos que reflitam de forma confiável essa variável no cálculo da proteção. Tudo por conta do temor de um aquecimento global persistente a curto e médio prazo. Quem afirma é Wady Cury, diretor técnico da Companhia de Seguros Aliança do Brasil, a maior empresa desse segmento no Brasil.
“Estamos tentando desenvolver alguns modelos novos que possam prever, de forma ainda mais apurada, riscos gerados com o aquecimento da Terra. Com isso, queremos criar um sistema mais completo e próximo da realidade para nós e para o agricultor”, afirma. Esse movimento conta com a participação de instituições parceiras da Aliança, hoje controlada pelo Banco do Brasil. Pesquisadores do Instituto Nacional de Pesquisas Espaciais (Inpe), Empresa Brasileira de Pesquisa Agropecuária (Embrapa), e Escola Superior de Agricultura “Luiz de Queiroz” (Esalq) integram o grupo.
A idéia é tentar desenhar sistemas com ferramentas que informem, com um detalhamento maior, se uma específica área de terra em certo período do ano terá probabilidades maiores ou menores de sofrerem efeitos de variações na temperatura – e que variações seriam essas. Ou seja, mensurar ao máximo os riscos de uma colheita.
Até o momento, os produtos contratados pelos agricultores no Brasil não levam em conta as previsões de elevação da temperatura. “A mudança climática que enfrentaremos ainda é pouco conhecida. Sabemos que será preciso lidar com o aquecimento de alguns graus, bem como redução hídrica, mas não exatamente quando e onde”, afirma Pedro Camargo Neto, presidente da Associação Brasileira da Indústria Produtora e Exportadora de Carne Suína (Abipecs).
“O fato é que esse risco ainda não foi embutido (nos cálculos dos seguros). Com o tumulto econômico de um ambiente de juros estratosféricos, elocubrações de política cambial que acarretam enormes custos para o produtor, crise de preços agrícolas e agora a crise financeira global, a questão climática está ficando para trás”, completa.
Diversos estudos têm sido publicados aqui e lá fora sobre o tema do aquecimento. Um dos mais polêmicos é um trabalho recente do Centro de Pesquisas Meteorológicas e Climáticas Aplicadas à Agricultura (Cepagri) da Unicamp em parceria com a Empresa Brasileira de Pesquisa Agropecuária (Embrapa). Ele aponta que o aquecimento global poderá transformar o semi-árido paraibano de plantios irregulares em áreas inaptas para as culturas tradicionais e de subsistência como o milho e feijão até o ano de 2020.
Já existem modelos em uso atualmente pelas grandes seguradoras para o cálculo dos riscos atuais, sendo que a espinha dorsal deles segue as normas do programa de Zoneamento Agrícola do Ministério da Agricultura e do Abastecimento. As recomendações do zoneamento identificam as áreas aptas para cultivo e épocas adequadas para semeadura, permitindo a redução dos riscos climáticos, como déficit hídrico e temperaturas elevadas e ameniza as possíveis perdas com rendimento de grãos.
De maneira geral, os produtos oferecem indenização pelos prejuízos causados, direta ou indiretamente, por chuvas excessivas, incêndio ou raio, tromba d´água, ventos fortes ou frios, granizo, seca, geada e variações excessivas de temperatura e também garantia do plantio até a colheita.
Pesquisa realizada pelo economista Gustavo Cunha Mello, sócio da Correcta Consultoria de Seguros e Riscos, revelou alguns impactos do aquecimento global no mercado de seguros. De 1970 a 2007, o volume de indenização cresceu a uma taxa de 12% ao ano em termos nominais e 7% em termos reais, informa Mello. “Em 2007, as catástrofes somaram 142 eventos, que causaram US$ 70 bilhões em prejuízos, dos quais US$ 28 bilhões eram segurados”, relata o economista. Segundo Wady Cury, da Seguros Aliança do Brasil, cerca de 52% das perdas da agricultura brasileira hoje são decorrentes da seca ou falta de chuva.

Fonte: Valor

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