Seguro para executivos ganha destaque com crise e perdas
A crise financeira internacional vai aquecer o mercado de seguro de responsabilidade civil para administradores e diretores (D&O), tanto pelo aumento da demanda quanto pela elevação do preço das apólices. Segundo executivos do setor, a turbulência do mercado estimula a contratação de seguro para a proteção de funcionários, principalmente para empresas financeiras. A tendência é de que o número de apólices para este tipo de seguro continue crescendo no ritmo de 40%.
A crise também vai atingir os preços dos prêmios devido ao aumento da sinistralidade. O preço dessa modalidade no começo deste ano havia sofrido redução de entre 15% e 40% – dependendo do perfil da empresa – devido à concorrência entre as seguradoras. Essa redução do preço se refletiu nos resultados da arrecadação dos prêmios de seguro nesse ramo, que até agosto deste ano somou R$ 55 milhões, uma queda de 18% em relação ao mesmo período do ano passado, quando atingiu R$ 65 milhões.
Segundo João Botelho, gerente de Produtos de Linhas Financeiras da Unibanco AIG, líder do ramo de D&O no Brasil, a sinistralidade vai corrigir o preço do seguro, já neste último trimestre. “O mercado de D&O vai aumentar devido à maior exposição do administrador a fatores de risco causados pela turbulência do mercado financeiro”, explica.
Para Leandro Martinez, gerente de linhas financeiras da Chubb do Brasil, pioneira no ramo de D&O no País, a crise tem demonstrado que o administrador pode ser responsabilizado por conta dos seus atos de gestão, principalmente nas empresas de capital aberto. “Já percebemos uma maior movimentação nesse setor, as empresas solicitam mais informações, a corretores e seguradoras, quanto à análise de riscos e pedidos de cotações de seguros para este ramo”, salienta.
Segundo ele, a idéia que se tinha de que esse ramo não oferecia sinistro é equivocada. Além disso, os sinistros são de “altíssima” complexidade. Para ele, a tendência é de que haja um aumento do valor dos prêmios devido à maior sinistralidade. “O número de avisos de sinistro tem aumentado”, afirma. Segundo Martinez, as seguradoras devem estar preparadas para a análise dos riscos que uma empresa pode oferecer no ramo de D&O. “É uma análise mais complexa em relação a outros ramos”, afirma.
Para o executivo, o mercado de seguro D&O é ainda novo no País, com cerca de 10 anos. A Chubb, por exemplo, veio ao Brasil para atender as empresas de telecomunicações, depois da desestatização, que trouxeram executivos estrangeiros para assumirem posição de gestão. “Outro fator foi o aumento da demanda pelo seguro das empresas de capital aberto, que começaram a buscar exposição no mercado internacional.”
Segundo Rafael Yamato, gerente de Linhas Financeiras da Zurich, a mais recente seguradora a entrar no mercado de D&O, o seguro é um mercado de ciclo e está é a vez de a crise internacional se refletir na expansão do ramo de D&O. Para ele, os preços devem aumentar por causa do maior risco de sinistralidade e do aumento da demanda.
“Antigamente só grandes empresas faziam esse tipo de seguro. Hoje temos apólices de pequenas e médias empresas, que já sabem reconhecer a importância e o valor mais acessível desse ramo”, afirma. Para Yamato, o D&O é um benefício para o administrador que, a partir do momento que assume o cargo, também assume o ônus de responder na decisão tomada pela essa empresa. “Hoje temos 200 empresas seguradas no ramo de D&O, e já crescemos 300% no setor, em relação ao ano passado, com 11% de representação nesse mercado.”
A turbulência do mercado já causa demissões em setores-chave de grandes empresas, como a Aracruz e a Sadia. Recentemente, a Sadia demitiu o diretor de Finanças e Desenvolvimento Corporativo, depois de anunciar perdas de R$ 760 milhões ao liquidar operações financeiras no mercado de câmbio. A Previ, acionista minoritário da Sadia, já solicita a convocação de assembléia de acionistas para votar a análise de uma ação contra os administradores para ressarcimento das perdas da empresa.
A Aracruz e a Votorantim também anunciaram perdas com derivativos. O diretor financeiro da primeira foi demitido.
Fonte: DCI OnLine