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Deságio de títulos pode superar 50%

O pacote de socorro do governo norte-americano ao sistema financeiro do país estipula um deságio de ao menos 50% no valor atual dos ativos de crédito de subprime e de títulos lastreados por essas carteiras, o mortgage-backed security (MBS), informa Luís Miguel Santacreu, analista da Austin Rating, agência classificadora de risco de crédito. O executivo baseia a afirmação no montante de ajuda de US$ 700 bilhões proposto pelo governo em relação ao US$ 1,4 trilhão em perdas com crédito e títulos desde o início da crise do subprime estimados ontem pelo Fundo Monetário Internacional (FMI). Entretanto, para seguir o plano de compra de crédito e títulos e ao mesmo tempo capitalizar as instituições, o que será extremamente necessário para impulsionar o crescimento de bancos e da economia, o deságio poderá ser ainda maior.
Conforme o economista, o tesouro norte-americano – que deve estar na fase de formação das equipes que definirão os detalhes do plano, que poderá ser implementado dentro de duas ou três semanas – tem hoje um cardápio de ativos para compra enquadrados em quatro categorias: os créditos imobiliários considerados “podres”, os subprimes – que somam US$ 816 bilhões e representam 6,8% do estoque de crédito imobiliário norte-americano (US$ 12 trilhões em agosto) -; os MBS lastreados nas carteiras de subprimes; MBSs lastreados em carteiras de crédito não imobiliárias, como de veículos e cartões de crédito; e, finalmente, os derivativos de créditos, basicamente nas mãos das seguradoras. Estes últimos não estão contabilizados nas perdas. Por serem negociados em balcão, operações pouco reguladas nos Estados Unidos, não se sabe qual o montante dessas perdas, mas elas já foram suficientes para derrubar gigantes da área de seguros, como a AIG, incorporada pelo governo dos Estados Unidos no início de setembro.
Na opinião de Santacreu, o governo norte-americano deverá optar pela compra de títulos, uma operação que dará maior agilidade ao plano de salvamento, e poderá utilizar o sistema de leilão reverso para as negociações, tentando obter o máximo de desconto possível. O analista acredita que o deságio poderá chegar a 60% do valor de face dos títulos e, segundo as suas contas, se o governo dos Estados Unidos conseguir comprar todos os papéis, pagando apenas 40% do valor, gastará cerca de US$ 560 bilhões, restando US$ 140 bilhões, valor que paralelamente e simultaneamente deverá ser aplicado na capitalização das instituições.
Santacreu lembra que boa parte dos bancos vai precisar dessa injeção de capital, já que terão que reconhecer em seus balanços como prejuízo a diferença que deixaram de ganhar quando da venda dos títulos por valores muito inferiores ao de mercado. “Ao acumular prejuízos, os bancos terão redução de patrimônio”, explica. Com isso, as companhias terão capacidade de expansão bastante limitada, principalmente na concessão do crédito, já que as regras de Basiléia vinculam o crescimento dos ativos ao tamanho do patrimônio.
Com a compra dos títulos e a capitalização, o plano garante maior liquidez nos mercados, já que os bancos voltam a ter caixa e a conceder crédito, irrigando a economia dos Estados Unidos, que aos poucos voltará aos níveis de crescimento normal, alimentado a expansão de outros mercados, como o chinês, que tem puxado o crescimento de muitos países.

Fonte: Gazeta Mercantil

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