Fenômenos naturais
O aquecimento global é a bola da vez. O grande tema. A discussão do momento. Carregada de enorme dose de demagogia e de interesses contrariados, a conversa deixa o tom sereno necessário para enfrentar eficientemente o problema e mergulha no emocional, no pânico, na ameaça de um futuro mais negro do que o futuro prometido pela ficção científica para o mundo pós-guerra nuclear.
O problema é que, deixando de lado os interesses contrariados e entrando de cabeça no que vai acontecendo no mundo, não há como deixar de reconhecer que as coisas se põem negras, como diriam os espanhóis, responsáveis, aliás, por um trabalho consistente sobre o tema, publicado não faz muito tempo, na revista da Fundación Mapfre, órgão de estudos e pesquisa da maior seguradora daquele país.
A leitura destes artigos dá uma bela idéia do tamanho da encrenca. E ela não é pequena. O que pode ser confirmado empiricamente por uma série de eventos que começam a pipocar pelo planeta, causando profundas mudanças no clima e afetando a saúde do seres vivos, com pragas e doenças novas e não tão novas, que cobram um alto preço pela nossa liberdade em atacar o planeta.
Falar de terremotos ou erupções vulcânicas no anel de fogo que cerca o Oceano Pacífico é chover no molhado. Todo mundo sabe que nessa imensa região estes fenômenos são normais e fazem parte do cotidiano de terras tão distantes uma das outras quanto a costa chilena e as ilhas do Havaí, ou São Francisco e Tóquio. Ano após ano, terremotos, erupções vulcânicas e tsunamis cobram seu preço em vidas e patrimônios destruídos, mostrando que somos muito pequenos diante da natureza.
O cenário se agrava quando o Brasil, tido durante décadas como livre destes eventos, começa a sentir na pele o que quer dizer um tornado ou um furacão e, coroando a série, um terremoto de mais de 5 graus na escala Richter.
Não que a população brasileira desconheça o significado das catástrofes naturais. Tempestades de verão são rotina entre nós. Daí deslizamentos de terra, enchentes e ventos fortes das mais diversas origens serem presença constante nos primeiros meses do ano, atingindo aleatoriamente as mais variadas regiões do nosso território.
Além dos estragos causados pelas tempestades de verão, a seca colhe frutos e dividendos em regiões tradicionais como o Nordeste e também em antigos celeiros, famosos pela produtividade, como o Rio Grande do Sul. E as pragas e doenças endêmicas e epidêmicas fazem sua parte para aumentar os prejuízos que afetam diretamente a riqueza nacional, atingindo seres humanos, lavouras e animais, indistintamente, em patamares que somam bilhões de dólares.
Com relação aos eventos novos, ou pelo menos com os quais estamos menos habituados, como tornados, furacões e terremotos, o drama é que o país não está preparado para recebê-los.
Nossas construções não levam em conta a possibilidade de sua ocorrência, o que nos fragiliza ainda mais, porque a nova realidade vem se somar às nossas antigas deficiências, aumentando a certeza das perdas colossais para as quais não estamos preparados e contra as quais não temos proteção efetiva.
Simplesmente não há como construir um novo Brasil, substituindo tudo que foi erguido ao longo de nossa história para adequar a engenharia e a arquitetura aos riscos de desmoronamento que a partir de agora são bastante concretos.
Não custa lembrar que faz poucos meses que o norte de Minas Gerais foi sacudido por um tremor de terra bem mais fraco que o sentido recentemente em grande parte de São Paulo e do Rio de Janeiro.
O curioso é que as apólices de seguros brasileiras oferecem cobertura para estes riscos. Mas, como raramente elas são contratadas, a experiência real é bastante precária, o que, com certeza, permite afirmar que as seguradoras deverão rever os clausulados e taxas de suas apólices e suas políticas de aceitação de riscos. Num mercado com resseguro livre, não têm como prevalecer as condições atuais.
Fonte: O Estado de São Paulo
