Positivo negocia máquinas com governo
A fabricante de computadores Positivo Informática conseguiu levar a melhor ontem no pregão eletrônico do projeto “Um Computador por Aluno” (UCA), realizado pelo Fundo Nacional de Desenvolvimento da Educação (FNDE), ligado ao Ministério da Educação.
Para fabricar e instalar 150 mil laptops em 300 escolas públicas do país, a Positivo fechou a disputa com a proposta de R$ 98,2 milhões, preço ligeiramente inferior ao apresentado pela Digibras, que cobrava R$ 98,8 milhões.
Quem acabou ficando fora da disputa foi o “XO”, mais conhecido como o laptop de US$ 100, idealizado pelo ex-professor do MIT (Massachusetts Institute of Technology), Nicholas Negroponte. O XO participou da concorrência representado pela Simm do Brasil, fábrica de equipamentos sediada em Campinas (SP), mas quem fez a melhor oferta foi a Positivo, com o laptop ClassMate, idealizado pela fabricante de chips Intel.
O pregão, no entanto, ainda não está oficialmente fechado. Hoje, o conselho de administração do FNDE voltará a negociar a licitação com a Positivo, com o objetivo de chegar a um preço que julgue mais interessante. Caso não se chegue a um acordo, o pregão pode, inclusive, ser cancelado.
A situação está atrelada à lógica de funcionamento dos pregões realizados pela internet. Quando está próximo de sua conclusão, a disputa entra na fase final que o governo denomina “encerramento aleatório”. A partir daí, quem assume a função de encerrar o pregão é um sistema, que poderá faze-lo em até 30 minutos. Na prática, é o momento em que os participantes sabem que têm de fazer a melhor oferta possível, sob risco de perderem a disputa. Ontem, quando o sistema fechou as negociações, a melhor proposta entre os concorrentes era a da Positivo.
No fim da tarde, encerrada a etapa de lances, o pregoeiro do FNDE ainda tentou negociar “um desconto bastante substancial” com a Positivo, mas não se chegou a um acordo. Em suas colocações, a fabricante argumentou que se trata de um projeto “extremamente complexo” e requer mais tempo para análise.
Dessa forma, o pregão será retomado mais uma vez na manhã de hoje. Neste fase, porém, já não cabe a participação de outras empresas na concorrência, isto é, ou o governo chega a um preço que julgue adequado e fecha com a Positivo, ou o pregão será simplesmente cancelado.
Caso o governo viesse a bater o martelo com a Positivo pela proposta fechada ontem, significa que iria desembolsar nada menos que R$ 654 por cada laptop educacional. Embora o MEC não divulgue quais seriam suas reais expectativas, estima-se que o governo estaria disposto a pagar cerca de R$ 300 pelo equipamento. Ainda assim, são valores que estão bem acima da proposta que deu origem ao projeto UCA: a OLPC (sigla em inglês para Um Laptop Por Criança), entidade responsável pelo laptop de US$ 100.
O Valor procurou os representantes da OLPC no Brasil e nos Estados Unido para comentar a derrota no pregão, mas não obteve resposta até o fechamento desta edição. Como o processo ainda está em andamento, a Positivo e o MEC também preferiram não se manifestar. Neste momento, ficam valendo as palavras que o senhor Negroponte já disse em algumas ocasiões: “Eu não sou bom em vender notebooks, sou bom em vender idéias.”
Fonte: Valor