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Fôlego do crescimento opõe economistas e ministro em debate

Um país que já entrou na fase do crescimento sustentado, exibindo solidez nas contas externas, inflação sob controle e redução das desigualdades sociais e regionais. Esse é o retrato do Brasil apresentado ontem pelo ministro da Fazenda, Guido Mantega, que esbanjou otimismo no 4 Fórum de Economia da Fundação Getúlio Vargas (FGV) de Sao Paulo, criticando o que considera “análises distorcidas” sobre os avanços recentes da economia brasileira. Já os outros participantes do evento – como Yoshiaki Nakano, Eliana Cardoso e Luiz Carlos Mendonça de Barros – disseram que de fato o país vive um momento positivo, com crescimento mais robusto, mas colocaram em xeque a idéia de que o ciclo atual é sustentado – sobraram críticas para a dupla juro alto e câmbio valorizado, assim como para a carga tributária elevada e a expansão firme dos gastos públicos.
Segundo Mantega, o governo Lula adota o modelo do social-desenvolvimentismo, marcado pelo “crescimento econômico mais vigoroso e mais equilibrado e pela redução das desigualdades sociais e regionais”. O ministro lembrou que o Produto Interno Bruto (PIB) cresce há 22 trimestres consecutivos na comparação com o mesmo trimestre do ano anterior. “É um ciclo sustentável. Não é mais um espasmo.”
O ministro também destacou a solidez das contas externas, caracterizada pelo superávit comercial superior a US$ 40 bilhões por ano e pelas reservas internacionais de US$ 163 bilhões. Desse modo, o país está bem menos vulnerável à piora do cenário externo. Segundo ele, mesmo se houver uma desaceleração mais acentuada da economia global, o Brasil deve deixar de crescer apenas 0,1 a 0,3 ponto percentual em 2008. “Em vez de 5%, o país cresceria 4,7%, 4,8%”, afirmou ele. Mantega disse ainda que o investimento no aumento da capacidade produtiva avança a um ritmo duas vezes superior ao do PIB, o que seria uma garantia de que não haverá desequilíbrios entre oferta e demanda. Mantega disse que o país “não está no Paraíso”, mas se queixou do que avalia como uma resistência dos analistas brasileiros em aceitar as melhoras do país. Segundo o ministro, os avanços do Brasil têm sido mais reconhecidos no exterior. Deu como exemplos a revista “The Economist” e o Fundo Monetário Internacional (FMI).
Nakano, diretor da Escola de Economia de São Paulo (EESP) da FGV, fez uma avaliação bem menos positiva. Ele acha possível que o país cresça mais “dois ou três anos” a um ritmo razoável, devido ao colchão de reservas e ao superávit nas contas externas, mas tem dúvidas quanto à sustentabilidade do atual ciclo de expansão. Para ele, a taxa de investimento como proporção do PIB, que deve terminar o ano na casa de 17,5%, é muito baixa para o Brasil avançar a 5% ao ano por períodos prolongados. A carga tributária, superior a 34% do PIB, também é um obstáculo.
Nakano reiterou suas críticas à combinação de juros elevados e câmbio valorizado. Segundo ele, países que cresceram por décadas a taxas expressivas mantiveram o câmbio desvalorizado, para estimular as exportações de manufaturados. Para ele, o país deveria mudar seu mix de política macroeconômica, passando a usar o câmbio – num nível desvalorizado e mais estável – para controlar a inflação e estimular o crescimento das exportações, enquanto os juros serviriam para equilibrar o fluxo de capitais. Para impedir que a desvalorização do câmbio gere inflação, seria necessário também forte ajuste fiscal, para diminuir a demanda por bens e serviços não-comercializáveis no exterior (“non tradables”, em economês).

Fonte: Valor

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