Resultados com tarifas vão começar a cair ano que vem
Renato Carvalho
Com o aumento da concorrência e a limitação de crescimento do número de correntistas, os bancos estão prevendo o início de uma queda nas receitas com prestação de serviços a partir do próximo ano.
“O aumento no número de correntistas não vai passar dos 4% a 5% ao ano, o que certamente faz com que haja uma desaceleração e até mesmo uma queda no nível de receitas com prestação de serviços”, projetou Roberto Setúbal, presidente do banco Itaú .
Para compensar esta perda, o caminho é recorrer a outras fontes de receita. “Os bancos terão de focar mais em produtos como seguros, previdência privada e capitalização, que são muito rentáveis e compensarão esta diminuição nas tarifas”, afirma Pedro Bastos, CEO do HSBC .
Setúbal lembra também que o aumento no volume de crédito pode compensar esta perda. “É nisso que apostamos. Estamos esperando um crescimento entre 20% e 25% para 2007, e as receitas apuradas com estas operações devem continuar crescendo nos próximos anos, pela carência de crédito das pessoas e também das empresas, principalmente as de pequeno porte”.
A receita com prestação de serviços é utilizada principalmente para cobrir as despesas administrativas dos bancos, e a maioria estabelece como meta para cada agência apurar um volume de tarifas acima da folha de pagamento, ou seja, para uma agência ser viável, ela precisa obter receitas com tarifas acima do total de salários de seus funcionários.
Os três maiores bancos privados do País tiveram uma alta de arrecadação este ano em relação ao ano passado, de janeiro a setembro, que variam entre 15% e 20%. Nos nove primeiros meses do ano, Unibanco , Itaú e arrecadaram, juntos, R$ 16 bilhões com tarifas. No mesmo período do ano passado, foram R$ 13,9 bilhões. Ou seja, uma evolução de 15%. Este crescimento já significa uma desaceleração, já que o ritmo de crescimento nos anos anteriores não era inferior a 20%. Mas este resultado tende a piorar ainda mais. Para o professor da Trevisan Escola de Negócios , Alcides Domingues Leite, os bancos terão de adotar uma estratégia parecida com a do varejo. “Para aumentar sua base de clientes a um ritmo maior que o projetado, a rentabilidade vai ter que cair. Não há mais espaço para o reajuste de tarifas, que já estão altas demais”, explica.
Setúbal afirma ainda que esta limitação no crescimento vai provocar outras medidas por parte do Itaú. “Com certeza vamos diminuir o ritmo de abertura de agências nos próximos anos. Nós sabemos que os níveis de retorno atuais não são sustentáveis por muitos anos, mas vamos continuar trabalhando para que eles se mantenham no maior nível possível”, diz Setubal.
Lado positivo
No entanto, este cenário traçado pelos analistas não deve ser encarado com tanto pessimismo. Além das alternativas disponíveis aos bancos atualmente, a diminuição do ritmo de crescimento é considerada natural. “Na verdade, os bancos estão voltando a atuar no ramo para o qual foram feitos originalmente: emprestar dinheiro. Os bancos estão endireitando seus caminhos”, afirma Leite, da Trevisan.
Pedro Bastos, do HSBC, lembra ainda que, apesar de menor, o incremento do número de clientes projetado por Setúbal ainda é bem significativo. ?Se pensarmos que o crescimento vegetativo da população brasileira está girando em torno de 2% ao ano, veremos que o número de correntistas vai subir em um ritmo pelo menos duas vezes maior, e isso não é pouco para um banco”, explicou o executivo.
Mas ele afirma também que esta mudança de cenário será um grande teste para os bancos. ?O sistema vai precisar de criatividade e, falando do HSBC, nós já estamos preparados para isso.
A atividade bancária continua sendo muito rentável, e os resultados ainda serão muito bons. Mas também sabemos que à noite, nem todos os gatos são pardos”.
Fonte: CQCS