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Saúde individual cada vez mais fora dos planos

A medicina supletiva, citada no passado como um dos nichos para puxar o crescimento do mercado de seguros, faz cada vez menos parte dos planos estratégicos de um bom número de seguradoras. Desde a aprovação da lei para disciplinar as operações do setor, em junho de 1998, seguida de sua vigência no início de 1999, as operadoras encontram dificuldades para gerar resultado operacional positivo e, entre empresas controladas por seguradoras, decisões extremas foram adotadas para retirar os tons vermelhos da carteira: a mera venda da carteira de saúde ou uma atuação limitada aos planos corporativos (coberturas médico-hospitalar e odontológica).
A alegação de não vender planos individuais ou mantê-lo com uma participação minoritária dos negócios é justificada como a necessidade de ter previsibilidade do negócio. Nas ante-salas dessas empresas, o que se diz é que o segmento de pessoas físicas, que era sem lei até 98, tornou-se desgovernado a partir da implementação da legislação, dada a ampliação da gama de coberturas, sem a contrapartida de preços, já que os reajustes são controlados pela Agência Nacional de Saúde Suplementar (ANS) e considerados insuficientes para atingir o equilíbrio financeiro da carteira. Nos planos corporativos, os reajustes são pactuados entre as partes e constata-se um uso mais austero.
_ De fato, alguns fatores contribuíram para frear o crescimento das seguradoras e outras operadoras no segmento de saúde individual. Um dos mais importantes foi sem dúvida o aumento das coberturas mínimas obrigatórias a partir de 1999, acompanhado do controle dos reajustes dos planos_ explica João Alceu Amoroso Lima, da Comissão de Saúde da Federação Nacional das Empresas de Seguros Privados e de Capitalização (Fenaseg).
O diretor geral da Bradesco Saúde, Heráclito de Brito Junior, concorda que, para avaliar o mercado de medicina privada, é necessário separá-lo em dois segmentos com realidades distintas. O primeiro é de planos individuais, onde as operadoras coligadas a seguradoras têm evitado atuar ou tornaram-se bastante conservadoras na tomada de riscos. Já o outro filão, o corporativo, é disputado com vigor entre todas os players do mercado, tendo em vista que a negociação é mais flexível.
Em razão disso e em busca de equilíbrio financeiro da carteira, a Bradesco Saúde, do total de planos administrados, 88% referem-se a planos corporativos. Em números de junho, significa dizer que, dos quase 2,6 milhões de segurados, 304.566 eram de planos individuais (12%). Não está só nessa tendência que se consolida. Também empresas como Golden Cross, Amil e Assim hoje têm uma parcela significativa dos negócios na linha dos seguros empresariais.
Na Assim, por exemplo, uma rede que inicialmente tinha uma forte vocação para os planos individuais, a participação é declinante nos últimos dois anos, com a decisão da operadora de ser mais agressiva no segmento empresarial. Antes da guinada, os planos individuais respondiam por 80% da carteira; e os empresariais, por 20%. Hoje, seu quinhão é de 60% e o restante de pessoas jurídicas.
_ É um caminho para buscar o equilíbrio financeiro da carteira_ afirma Gianni Azevedo, diretora financeira da Assim, apesar de a sinistralidade situar-se em 70% contra uma média de mais de 80% entre as operadoras de medicina de grupo.
A meta da Assim é fechar o ano com um faturamento de R$ 320 milhões, cerca de 20% acima do totalizado no ano passado. O plano é de elevar de 210 mil para 240 mil o número de segurados. Na Bradesco Saúde, a previsão é de um crescimento médio 10% ou pouco mais que isso, chegando a casa de R$ 4 bilhões, de acordo com o orçamento da seguradora. A operadora quer deter 12,5% do market share de saúde. Na Golden Cross, onde também são oferecidas todas as modalidades de seguros, a perspectiva é de que o faturamento atinja R$ 1 bilhão, um crescimento de 15% sobre o ano passado. No seu caso, boa parte da receita a mais será puxada pelos nichos de planos corporativos, um dos nichos mais atraentes, sobretudo para produtos para pequenas e médias empresas, e odontógico,
Cláudio Brabo, diretor da Golden Cross, diz a opção pelo segmento corporativo (planos de saúde e odontológico) é uma resposta do mercado a uma legislação que criou problemas inesperados para as empresas. Para ele, o grande desafio dos próximos anos será conciliar interesses de todos os pares do mercado e, ao mesmo tempo, paralisar o esvaziamento dos planos individuais.
_ O problema é que a legislação criou um problema: o de impedir que sejam criados planos alternativos para atender às diferentes classes sociais. Tendo em vista que os planos foram elitizados em termos de coberturas, os preços precisam estar de acordo com essa realidade, mas o poder de compra das pessoas não é suficiente_ explica ele, referindo-se aos planos individuais.
_ Antes da ANS, pode-se dizer que o mercado operava com regras próprias, mas que, às vezes, não eram justas ou claras com todos os pares do sistema. O mercado ganhou com a regulamentação, o que não significa haver brechas. Não é razoável trabalhar com um reajuste uniforme das mensalidades no país, desconsiderando as realidades regionais, porque é sabido que o custo de um transplante em uma unidade de São Paulo ou do Rio de Janeiro não é igual ao cobrado pelo procedimento realizado em Manaus_ lembra Gianni.
Redução de margem alimenta insatisfação geral
Para especialistas, a margem de ganho reduzida na carteira obriga hoje ajustes em toda a cadeia, gerando uma crescente insatisfação tanto dos prestadores de serviços quanto dos usuários individuais. A suspensão de atendimento por médicos a clientes de algumas marcas de planos nos últimos anos e a ida à Justiça de clientes insatisfeitos com os serviços dão a dimensão dos problemas enfrentados pela medicina supletiva.
_ Tradicionalmente os custos médicos, não só no Brasil, mas no mundo todo, superam a inflação medida pelos principais índices de custo de vida, como IPC ou IGP, e preocupam as operadoras. Tanto que a grande maioria das empresas usa modelos de gestão para conter o avanço das despesas, com ações que incluem exigência de crescente profissionalização e melhora da produtividade dos prestadores de serviço e, na área administrativa, adoção de procedimentos para racionalizar custos_ afirma Bravo.
Dados da Associação Brasileira de Medicina de Grupo (Abrange) indicam que os reajustes autorizados pela ANS somaram 68,32%, ao passo que o IGP-M teve variação de 111,3%. Para a entidade, as empresas do setor encontram-se numa encruzilhada: ou seja, conviver com custos crescentes e, na outra ponta, ter um usuário incapaz de absorver as altas.
O mercado ainda exibe números vistosos à primeira vista: mais de dois mil operadores e faturamento projetado em R$ 38 bilhões. Só que, nos bastidores, os operadores convivem com a falta de crescimento do mercado nos últimos e travam uma disputa cada vez mais acirrada para aumentar o número de segurados corporativos. O resultado disso é uma forte migração dos negócios entre as operadoras. “Até junho, a Bradesco Saúde gerou prêmios de R$ 2,048 bilhões, crescendo cerca de 10% sobre o mesmo período do ano passado. Mas como o mercado está praticamente estagnado nos últimos anos, a conclusão é que nossos novos clientes são frutos de migração de outras operadoras”, reconhece o diretor geral da Bradesco, Heráclito de Brito Junior, que agora atua agressivamente no mercado corporativo.
Faz sentido. As marcas mais conhecidas de planos de saúde continuam a ampliar seu market share nos últimos anos, a ponto de um seleto grupo das maiores operadoras responder por 80% dos negócios. O resultado disso é o enfraquecimento das menores e ameaça de sua sobrevivência. Números da ANS mostram que , das 2090 operadoras registradas, 740 tem até mil segurados, outras 757 entre mil e 10 mil. Isso significa dizer que cerca de 70% das empresas contam com até 10 mil vidas seguradas, número insuficiente para ter economia de escala e suportar uma virada para cima da sinistralidade da carteira. Daí porque a depuração do mercado é considerada uma realidade e a tendência de concentração dos negócios em poucos players consolida-se gradualmente, segundo especialistas.
_ É óbvio que este mercado vai continuar a ter incorporações, fusões ou mesmo desaparecimento de empresas, porque grande parte das operadoras tem pouca solidez financeira para suportar os elevados custos operacionais_ afirma um graduado executivo de uma das principais operadoras do mercado.
É melhor prevenir do que remediar
As principais operadoras de saúde decidiram apostar as fichas em programas de medicina preventiva. A intenção é monitorar as doenças crônicas e evitar o número de internações dos pacientes. A Golden, Assim, e Bradesco Saúde, entre outras grandes, avaliam positivamente a iniciativa.
O programa de atendimento aos doentes crônicos da Golden Cross, iniciado há três anos em Belo Horizonte, começa a ser ampliado para todo o país. Mais de 100 pacientes por mês fazem a inscrição no programa, que atualmente atende a cerce de 2,5 mil doentes crônicos. Trata-se de segurados que padecem de diabetes, colesterol alto, hipertensão arterial. Eles são atendidos por uma equipe de saúde_ médicos, enfermeiros, nutricionistas, psicólogos e fisioterapeutas, encarregados de orientar pacientes e seus familiares.
Na Bradesco Saúde, que detém 32 das 100 empresas com maior número de empregados no país, o programa de prevenção de doenças e promoção da saúde engloba grande parte dos trabalhadores. Se algum tipo de doença começa a aparecer em determinada empresa, a Bradesco, por meio de seu Sistema de Informações Gerenciais (SIGE) informa a contratante e a orienta a adotar procedimentos para minorar a incidência do mal, por meio de projetos de prevenção e promoção de saúde.
A Assim também criou seu programa. A operadora que concentra as atividades apenas na Região Metropolitana do Rio de Janeiro mantém uma unidade de atendimento na cidade, onde são atendidos cerca de 4 mil pessoas. Agora está em via de inaugurar sua nova unidade no Centro de Niterói também para o atendimento multidisciplinar dos doentes crônicos, como hipertensos e obesos entre outros. O Assim Special Life chegará à Barra da Tijuca em 2007.
Para a Golden Cross, a iniciativa de criar os programa proporciona uma melhora da qualidade de vida dos pacientes e impacta positivamente nos custos. No caso dos pacientes que são acompanhados, a operadora constatou uma redução de até 50% nos gastos com eles.

Fonte: Jornal do Commercio

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