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Empresas brasileiras convivem com riscos e oportunidades

Rio, 4 de Setembro de 2006 – Pobreza, falta de mão-de-obra e vírus da Aids desafiam as multinacionais. Foi debaixo de um Baobá que a Companhia Vale do Rio Doce teve de efetuar o pagamento de um geólogo africano religioso. A crença de que a árvore proporciona benção, inclusive nas finanças, é uma das centenas de ritos que norteiam o povo da África – palco de bilionários empreendimentos de empresas brasileiras. Além da Vale, empregados de companhias como Petrobras, Odebrecht e Camargo Côrrea trabalham como antropólogos para conviver com a diversidade cultural do continente. Pobreza, falta de mão-de-obra e disseminação do vírus da Aids desafiam as multinacionais a investir mais em projetos sociais nas regiões onde atuam.
Mesmo antes de começar a desenvolver projeto de exploração de carvão no norte de Moçambique, em Moatize, a Vale destinou US$ 6,47 milhões em ações sociais na região. O valor começou a ser aplicado em 2004, quando a Vale deu início à fase de estudo de viabilidade comercial do projeto, a ser concluída no final deste ano. Estão previstos no pacote de ações sociais a reabilitação hospitais e a construção de creches e orfanatos.
“A África toda tem tipo de realidade social que demanda ação grande. O grande desafio que nós temos é buscar solução em conjunto com a comunidade”, afirmou a diretora da Fundação Companhia Vale do Rio Doce, Olinta Cardoso. Há duas semanas, a Vale entregou pronto o Centro Orfanato Acoma, que abriga cerca de 60 crianças desassistidas pelos anos de guerra civil. O orfanato já existia em precárias condições e foi resgatado pela mineradora. A guerra produziu centenas de mutilados e órfãos na região.
Foram meses de estudo na companhia para definir como e quais ações seriam tomadas. “Buscamos referências de séculos passados até chegar no presente para que tivéssemos condições de realmente entender as perspectivas futuras que essas comunidades têm, buscando solução para etnias diferentes”, completou Olinta.
A executiva relata experiências de empregados que pediram para receber o salário debaixo do Baobá, árvore considerada sagrada na região. “O Baobá tem valor simbólico muito grande; eles enterram entes queridos debaixo desta árvore. São considerados sagrados e alguns funcionários pedem para receber naquele local e nós seguimos os rituais”, disse, contando o caso de um geólogo. “Ele só queria estar debaixo do que considera sagrado”, completou.
“Quando se ouve um doutor com formação internacional falando que acredita que mexer em ossos de quem já morreu leva à loucura, percebe-se que lá as crenças não podem ser as mesmas que as nossas”.
Somente na província de Tete, onde a Vale atua, são 15 línguas diferentes. Quando começar a explorar as minas de carvão, a companhia terá de contratar 3,5 mil funcionários.
Para o gerente-executivo da Área Internacional da Petrobras, João Figueira, a capacitação de mão-de-obra na África, sobretudo no setor de petróleo, é um desafio. O executivo, que trabalhou em Angola na década de 80, quando o país agonizava sem infra-estrutura, nem escolaridade. “As coisas estão mudando. Naquela época, ficamos sem água e sem luz durante uma semana”, diz Figueira. A África, junto com o Golfo do México, é o principal foco da empresa em exploração e produção de petróleo e gás.
A companhia venceu licitações para ficar com áreas exploratórias na Nigéria e também estuda negócios em Moçambique. Em Angola, a estatal possui participação em cinco blocos exploratórios.
A Odebrecht é uma das principais empresas em Angola. Após a guerra que terminou recentemente, a empresa está reconstruindo a infra-estrutura do país. Pontes, hidrelétricas e até um shopping center constituem carteira bilionária da companhia no local. “O nosso principal desafio em Angola é a formação de mão-de-obra. Trazer escolaridade para uma população que sofreu anos de guerra não é fácil. Nunca ninguém se importou com eles”, afirma um diretor que pede anonimato. A companhia possui na região programas de capacitação profissional.
A construtora desenvolveu um programa de combate à Aids que consiste na distribuição de camisinhas e cartazes explicativos. Outro projeto social trata da repatriação de angolanos afastados do país por causa da guerra. O “Movimento Havemos de Voltar” permite o regresso de angolanos que não têm condições nem informações para retornar à pátria. “Com essas ações, acabamos tendo mão-de-obra com pessoas mais felizes, mais contentes e com menos despesas de saúde”, completou o executivo.
Até o final do mês, a Camargo Côrrea deve começar obras de reurbanização do sistema viário de Boavista, região Portuária de Luanda. Angola e Moçambique são alvos principais no exterior.
kicker: “O Baobá tem valor simbólico muito grande; eles enterram entes queridos debaixo desta árvore”, diz executiva da Vale

Fonte: Gazeta Mercantil

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