Juiz aprova venda da Varig a funcionários
Onze dias após o leilão em que fez a única proposta para a compra da Varig, o consórcio NV Participações -formado pelo grupo TGV (Trabalhadores do Grupo Varig) e investidores estrangeiros- tornou-se o novo dono da empresa. A proposta foi homologada pelo juiz Luiz Roberto Ayoub, da 8ª Vara Empresarial da Justiça do Rio. “Entendemos que os esclarecimentos foram prestados e que foram apresentadas as garantias financeiras necessárias”, disse Ayoub sobre as exigências que a Justiça havia feito em relação à proposta de R$ 1,010 bilhão feita pelo consórcio. A NV vai gerenciar as linhas domésticas e internacionais da empresa e tem, a partir de hoje, 72 horas para depositar cerca de R$ 170 milhões como primeira parcela da compra. O prazo acaba na sexta-feira. Quinta, dia do jogo do Brasil na Copa do Mundo, não será computado. Se não for feito o depósito, poderá haver um novo leilão das operações da empresa (pág. 1).
– ELIANE CANTANHÊDE: Bolsa-Varig. O Planalto decidiu que vai bancar pelo menos dois micos no caso de falência da Varig: as passagens compradas e as milhas adquiridas. E poderá bancar outros. Quando a Encol quebrou, o governo FHC lavou as mãos, e cada um se virou como pôde. Agora, a ordem é segurar a onda do passageiro/eleitor, mas falta compatibilizar vontade política com disposições legais. Que lei ampara uma coisa assim, de o Estado honrar contratos de cidadãos vítimas de empresas privadas falidas? Ninguém sabe ao certo. A avaliação é que a resposta tem de ser rápida, porque o cerco está se fechando: a consultoria Carlyle negou interesse em comprar a Varig; a BR Distribuidora ameaça cortar o combustível; a Infraero ameaça impedir o uso de aeroportos; a Boeing exige a devolução de cinco aeronaves; outra empresa quer sete turbinas. E vôos continuam sendo cancelados (pág. 1).
– CLÓVIS ROSSI: Não é pecado. Principal manchete de ontem do “International Herald Tribune”, o mais global dos jornais, propriedade do “New York Times: “Airbus deve requerer ajuda estatal”. Para quem não sabe, trata-se do fabricante europeu de aviões, a megacompanhia que disputa o mercado com outro gigante, a Boeing, norte-americana. A Airbus não está quebrando. Está é com dificuldades com uma aeronave de médio porte, a A-350. Bom, lida a manchete, fui aos colunistas de economia da grande mídia internacional na certeza de que eles, unanimemente, esculhambariam a pretensão, diriam que esse “regresso ao populismo” é inaceitável, os mais extremados veriam até um dedo do coronel Hugo Chávez na história (pág. 1).
– Depois de assumir oficialmente a candidatura à reeleição no próximo sábado, na convenção do PT em Brasília, o presidente Luiz Inácio Lula da Silva trocará as inaugurações de obras por “vistorias”. Em conversas reservadas, Lula disse que seguirá o comportamento adotado em 1998 por Fernando Henrique Cardoso em sua campanha pela reeleição. Lula e auxiliares definiram que os compromissos explicitamente eleitorais do presidente serão realizados nos finais de semana. Durante a semana, fará as tais “vistorias”, que FHC chamava de “visitas”. “A legislação proíbe a inauguração, mas não proíbe, por exemplo, a presença do presidente realizando inspeções de trabalho, de obras”, disse o ministro das Relações Institucionais, Tarso Genro (pág. 1).
– MOEDA valiosa no balcão de negócios da política federal são as concessões de rádio e TV. Levantamento desta Folha mostrou que a gestão Luiz Inácio Lula da Silva não se diferenciou da anterior também nesse quesito. A administração petista aprovou a criação de 110 emissoras educativas (29 televisões e 81 rádios). De cada três concessões, ao menos uma foi destinada a políticos. Trocar apoio no Congresso por direitos de radiodifusão não é ruim apenas por viciar a relação entre o governo e sua base parlamentar. A prática conspurca o vínculo entre o eleitor e seus representantes. Em muitas regiões, um único grupo ou família detém o virtual monopólio das comunicações radiofônicas, o que lhe dá enorme poder para promover ou bloquear candidaturas a cargos públicos (pág. 1).
– A líder do MLST (Movimento de Libertação dos Sem-Terra) Jocélia Oliveira Costa, 31, foi assassinada anteontem à noite num acampamento na rodovia BR-369, em Cascavel (PR). Sua filha, de cinco anos, também foi morta -com um tiro na nuca. Outro integrante do MLST foi ferido na perna. A polícia diz que o principal suspeito é um sem-terra que Jocélia expulsou do acampamento -que reúne 230 famílias. Segundo testemunhas, a chacina ocorreu às 21h30 de anteontem, quando dois homens numa motocicleta chegaram atirando ao seu barraco. Jocélia levou um tiro nas costas. Segundo o delegado Amadeu de Araújo, a filha de Jocélia, Emanuelly, “deve ter reconhecido os agressores e foi assassinada”: “É uma cena típica de queima de arquivo” (pág. 1).
– Os advogados Sérgio Weslei da Cunha e Maria Cristina de Souza Rachado, acusados de repassar informações sigilosas da CPI do Tráfico de Armas a integrantes da facção criminosa PCC, não podem exercer a profissão nos próximos 90 dias. Com a suspensão, decidida em caráter preventivo pela OAB-SP (Ordem dos Advogados do Brasil), eles ficam impedidos de visitar clientes em presídios e de entrar com ações judiciais. Cunha (que nega ter clientes do PCC) e Maria Cristina Rachado, advogada de Marcos Willians Camacho, o Marcola, admitiram, em sessão da CPI, que tiveram acesso a uma gravação secreta com depoimentos de dois delegados que investigam a facção criminosa, Godofredo Bittencourt e Ruy Ferraz Fontes. Os parlamentares haviam pedido providências à OAB (pág. 1).
– A PASSAGEM de 30 dias do mais ousado ataque às forças de segurança do Estado de São Paulo já perpetrado pelo crime organizado foi marcada pela eclosão de novas rebeliões em presídios. Na tarde de sexta-feira, três motins foram iniciados, quase ao mesmo tempo, em unidades do interior paulista. Depois, princípios de revolta se alastraram para outras cinco unidades. Apesar de o surto de motins ter sido contido, com a intervenção da Tropa de Choque da PM nos casos mais graves, a facção que comandou os atentados de meados de maio, disseminou o pânico na população e quase subverteu a ordem pública conseguiu dar mais um de seus “recados”. Agora, segundo consta, as rebeliões se destinavam a protestar contra a internação de um dos líderes do bando no regime prisional mais duro que há. O evento serve para lembrar às autoridades e à sociedade que o substrato que deu origem à crise de um mês atrás continua preservado (pág. 1).
– Treze anos após o primeiro inquérito para apurar a contaminação de uma área da Vila Carioca, na zona sul de São Paulo, pela Shell, um relatório da Secretaria Municipal da Saúde apontou que 73 das 198 pessoas analisadas apresentam pesticidas potencialmente cancerígenos no organismo. O bairro tem 6.500 moradores. No local havia uma fábrica de pesticidas da Shell, que não considera o relatório conclusivo. O relatório aponta que essas 73 pessoas estão contaminadas por DDE, um subproduto do pesticida DDT, usado em fazendas contra as pestes agrícolas e proibido no país em 1985. Quatro dos moradores contaminados têm de sete a 13 anos. Já o pesticida dieldrin -que é tóxico e, por isso, também teve seu uso proibido em vários países- foi detectado em duas mulheres e um homem com mais de 60 anos. Sua concentração geralmente aumenta com a idade (pág. 1).
– “O Astrogildo Cravinhos, pai do Daniel, foi mentor do crime -estava interessado na herança”; “Cristian Cravinhos [irmão de Daniel] era um bobo, manipulado como eu. Travou na hora de matar”; “Daniel foi que bolou tudo. Ele me manipulava e me assustava com histórias de espíritos que ordenavam a morte dos meus pais.” As acusações são de Suzane von Richthofen, 22, ré confessa no assassinato dos pais Manfred e Marísia von Richthofen, em 30 de outubro de 2002. Foram transmitidas à Folha pelo advogado Mauro Otávio Nacif, 61, na saída de uma reunião com a jovem, no último sábado (pág. 1).
Fonte: Folha de São Paulo
