Brasil volta a atrair as múltis de resseguros
Ao desembarcar no Rio de Janeiro, no dia 28 de março, procedente dos Estados
Unidos, o americano Patrick Thiele, presidente e CEO da companhia de
resseguros Partner Re, foi avisado de que a principal parte de sua visita ao
Brasil havia sido cancelada: um encontro com o ex-presidente do IRB-Brasil
Re, Marcos Lisboa. É que poucas horas antes do avião de Thiele pousar em
solo brasileiro, Lisboa havia pedido demissão do cargo, em meio à crise
política que derrubou o ministro da Fazenda, Antonio Palocci – a quem Lisboa
era subordinado.
Thiele trazia uma boa notícia, a de que a Partner tem planos de investir no
Brasil, assim que for aprovado o projeto de lei que regulamenta a quebra do
monopólio de resseguros e abre o mercado à participação privada, nacional e
estrangeira. Não é a única. Também no fim de março, a Transamerica Re, uma
resseguradora americana especializada em seguros de vida, inaugurou seus
dois primeiros escritórios de representação no Brasil, um no Rio, outro em
São Paulo. Há dois meses, a XL, com sede nas Bermudas como a Partner,
anunciou uma sociedade com a Itaú Seguros em uma nova companhia de ramos
elementares.
São empresas que operam há anos com clientes brasileiros através do
IRB-Brasil Re – estatal e monopólio do resseguro no país -, como
participantes de um “pool” de 100 resseguradoras que dividem os riscos
assumidos pelo IRB e distribuídos no mercado internacional. Elas não podem
operar como resseguradoras aqui por causa do monopólio, mas garantem que
assim que o Congresso aprovar a regulamentação da abertura, vão aumentar
seus investimentos e parcerias.
Sem ter para quem dar a notícia no governo, Thiele falou com a direção da
Federação Nacional das Empresas de Seguros, Previdência e Capitalização
(Fenaseg) e aproveitou para visitar seguradoras e clientes, além de
participar do Fórum Econômico Mundial.
A Partner Re é uma companhia especializada em resseguros nos ramos
industriais, aviação e transportes e opera em 140 países. No ano passado
subscreveu riscos no valor total em prêmios de US$ 3,6 bilhões, mas, por
causa da catástrofe dos furacões Rita e Katrina, fechou o ano com prejuízo
de US$ 50 milhões.
“O Brasil é um mercado muito atraente para resseguros”, afirmou Thiele em
entrevista ao Valor antes de sua volta na semana passada. “É um grande país,
tem grandes complexos industriais e seguradoras muito sofisticadas, que têm
grande expertise e precisam de capacidade para assumir riscos maiores”,
afirmou o executivo. Esse é o negócio das resseguradoras, assumir parte dos
riscos das seguradoras.
Segundo Thiele, a Partner está no aguardo apenas da aprovação do projeto no
Congresso para decidir de que forma entrará no mercado brasileiro (veja
matéria ao lado). “Temos grande interesse no mercado brasileiro porque é uma
oportunidade única”, reforçou Thiele.
Eduardo Marques, diretor executivo da Marsh Corretora, filial brasileira do
maior grupo de corretagem e gerenciamento de riscos do mundo, confirma que
os resseguradores estrangeiros têm procurado mais informações sobre o
mercado brasileiro desde que o projeto de abertura começou a andar mais
rápido no Congresso.
“Porém, agora eles estão mais cautelosos”, diz Marques. Ele se refere à
frustração com o processo de privatização do IRB, iniciado em 1997 e
abortado no ano 2000 por uma decisão do Supremo Tribunal Federal (STF), que
impediu a transferência das atribuições reguladoras do IRB para a
Superintendência de Seguros Privados (Susep). Na época várias resseguradoras
fecharam suas portas ou reduziram muito sua presença no país.
“O fato de termos aqui os escritórios das maiores empresas do mundo é o
sinal de que o mercado brasileiro tem credibilidade e transparência”,
comentou Maria Elena Bidino, diretora de Ramos Elementares e Resseguros da
Fenaseg. Uma das grandes que diminuíram mas se mantiveram no país é a Swiss
Re. Henrique Abreu de Oliveira, que comanda a filial da resseguradora suíça,
disse que também espera uma definição do Congresso para decidir sobre sua
ampliação ou não. “Nossa expectativa é a mesma que nos move desde que
chegamos há dez anos: a abertura do mercado”, frisa Oliveira.
Fonte: Valor