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Brasil já acha que OMC perde o prazo de abril

O chanceler Celso Amorim mostrou ontem que tende a zero sua crença na
hipótese de que a OMC (Organização Mundial do Comércio) consiga de fato
chegar até o fim de abril a um acordo substancial na Rodada Doha de
Desenvolvimento.
A rodada foi lançada em 2001, na capital do Qatar, patinou desde então,
perdeu o prazo original para ser fechada (fim de 2005) e ganhou nova data
(30 de abril) para concluir não a negociação propriamente dita, mas as
chamadas “modalidades”, jargão para designar a delimitação dos objetivos e a
fixação de alguns números.
Amorim, em entrevista coletiva concedida ontem, após palestra na London
School of Economics, jogou para meados do ano a eventualidade de um acordo.
Por isso mesmo, o ministro insistiu muito na necessidade de uma reunião de
cúpula entre líderes que possam ser representativos do conjunto de 150
países da OMC para dar o impulso político que tire a rodada do pântano.
Amorim diz que o que chama de “a grande barganha” está longe de acontecer.
Funciona assim: os Estados Unidos, sem cujo apoio e entusiasmo não se vai a
lugar algum, quer que a União Européia ofereça uma derrubada maior de suas
tarifas de importação de bens agrícolas, para poder ceder em subsídios
domésticos, área em que a oferta norte-americana foi “importante, mas
insuficiente”, sempre segundo Amorim. Os europeus, por sua vez, dizem que,
para vender as concessões em agricultura a seu público interno, precisam que
os grandes países emergentes (Brasil e Índia, principalmente, criadores e
líderes do G20) ofereçam abertura mais suculenta de seus mercados de bens
industriais e serviços.
O Brasil está pronto a fazê-lo, como o próprio presidente Luiz Inácio Lula
da Silva afirmou anteontem em Londres, desde que mantida a proporcionalidade
na oferta agrícola do mundo rico.
E a proporcionalidade não é apenas igualar a abertura agrícola com a
abertura nas duas outras áreas, porque, nestas, já foi feita na negociação
anterior (a Rodada Uruguai), que, no entanto, pouco mexeu com agricultura.
Amorim dá exemplos: enquanto a tarifa máxima do Brasil para importação de
bens industriais é de 35% (para veículos), europeus e japoneses mantêm
barreiras na área agrícola que superam os 100% ou até 1.000%.
“O tipo de mudança que necessitamos em agricultura não pode ser equiparado à
oferta em serviços e bens industriais, mesmo que reduzíssemos a zero as
nossas tarifas”, exagera o chanceler.
Amorim faz outra comparação, esta com a fatia da população a ser afetada por
aberturas na agricultura e na indústria. No Reino Unido, calcula, a
população que vive da produção agrícola é de no máximo 2%, ao passo que, no
Brasil, 35% vivem da indústria.
Amorim já antecipa a resposta ao raciocínio de que a abertura é sempre
benéfica para o país que a faz, mesmo que seja unilateral. “Só os ingênuos
ou os que acreditam cegamente no Consenso de Washington, já em virtual
desuso, acreditam que a liberalização unilateral é benéfica. Nós acreditamos
em liberalização negociada.”
O problema com essa crença é que a negociação não anda. Mesmo a reunião de
cúpula proposta por Lula, apoiada por Tony Blair e enfatizada ontem por
Amorim, não obteve, até agora, mais que dois votos (Lula e Blair), como fez
questão de ironizar o repórter da BBC em pergunta ao ministro.

Fonte: Folha de São Paulo

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