Mercado de Seguros

FIDES mostra força da América Latina e reúne grande delegação brasileira

A edição 2025 da FIDES, realizada na Costa Rica, confirmou o novo patamar da indústria de seguros e resseguros da América Latina. Durante quatro dias de debates, executivos de todo o mundo discutiram inovação, proteção de riscos, mudança climática, tecnologia e as transformações estruturais que estão redesenhando o mercado. O Brasil, mais uma vez, marcou presença com uma das maiores delegações do evento, reunindo líderes de seguradoras, resseguradoras, brokers, consultorias e insurtechs, que acompanharam de perto as tendências globais e a crescente relevância do mercado latino-americano no mapa internacional do seguro.

Segundo Alexandre Leal, diretor da CNseg, confederação nacional das seguradoras, o encontro mais uma vez cumpriu seu papel como espaço estratégico para negócios, networking e alinhamento das prioridades regionais. “A Fides cumpriu seu papel com três eixos principais: um lugar de intenso networking, um ambiente de negócios e um fórum de discussões estruturantes para o setor. É ali que muitas empresas analisam a colocação de riscos junto a resseguradoras”, afirmou. Com mais de 1.500 participantes, ele destacou a importância da Declaração de San José, documento final da conferência, que reafirma o compromisso das entidades seguradoras com o desenvolvimento sustentável do setor na região. “Seis eixos foram identificados, entre eles o aumento da participação do setor na proteção social. O gap na América Latina é muito alto, como mostramos na COP30 no estudo sobre o gap de proteção em catástrofes naturais.”

Alexandre Leal também ressaltou os demais pilares do documento. O segundo eixo trata do desenho de soluções alinhadas aos novos riscos, como o cibernético e os associados às mudanças climáticas. O terceiro define como prioridade fomentar a inovação e o uso responsável da tecnologia, incluindo inteligência artificial, mas com princípios éticos claros. Para ele, o quarto eixo – a experiência do cliente – reforça transparência, comunicação clara e atenção em todas as etapas da jornada, premissas que dialogam com iniciativas técnicas da CNseg no âmbito do PDMF. O quinto pilar trata do desenvolvimento de uma cultura de seguros em todo o continente, especialmente entre populações menos assistidas. E, por fim, o sexto eixo reforça o papel ativo do setor no desenvolvimento sustentável, em linha com as discussões que o Brasil levou à COP30. Leal lembrou ainda que temas como governança e prevenção à lavagem de dinheiro foram debatidos, com avanços regulatórios que fortalecem a avaliação de risco em produtos financeiros mais sensíveis.

Um dos destaques da programação foi a perspectiva apresentada pelo Lloyd’s. Para a plataforma global, a América Latina está entre as regiões mais dinâmicas e com maior potencial de expansão, apesar do expressivo gap de proteção. Segundo Marc Lipman, presidente do Lloyd’s Americas, a região representa apenas 6% dos prêmios globais do Lloyd’s, mas já responde por mais de 60% da operação nas Américas. Com o hub em Miami, inaugurado no ano passado, o Lloyd’s vem ampliando a proximidade regulatória e comercial, apoiando coverholders, desenvolvendo novas estruturas de distribuição e fomentando inovação técnica através de programas de formação, como a Lloyd’s Academy, e do Lloyd’s Lab Accelerator.

A transformação digital também ganhou espaço na agenda. A MS Re destacou que a maturidade tecnológica da América Latina avança mais rápido do que se imaginava. Louis de Segonzac, CUO para as Américas, alertou que reinvenção digital já não é opcional. A companhia reconstruiu seus sistemas do zero, adotando uma plataforma de underwriting capaz de acompanhar um negócio desde o primeiro contato até a contratação final, sem retrabalho. Para ele, a automação libera os profissionais para atividades de maior valor, aproximando clientes e underwriters e dando velocidade ao mercado.

Outra frente em expansão é o seguro paramétrico, apresentado pela Liberty Mutual Re como um eixo fundamental para reduzir o gap de proteção em riscos de difícil segurabilidade. Crescente na América Latina, o modelo permite indenizações rápidas, baseadas em parâmetros pré-definidos, sem perícia tradicional – um recurso essencial diante do aumento de catástrofes naturais. Para a LM Re, soluções paramétricas agrícolas e coberturas para terremotos já mostram o potencial de escala na região.

O pano de fundo de toda a FIDES foi a urgência climática. Com eventos extremos cada vez mais severos e frequentes, resseguradoras e seguradoras reforçaram a necessidade de novas modelagens, produtos híbridos e cooperação entre setor privado e governos. A visão compartilhada é que a América Latina tem forte demanda reprimida, e que inovação, dados e capital serão determinantes para ampliar a proteção financeira da população. Esse debate se conectou diretamente com temas que o Brasil levou para a COP30, reforçando a convergência entre adaptação climática, inclusão financeira e resiliência econômica.

A participação brasileira acompanhou esse movimento. Além de painéis, reuniões e apresentações técnicas, executivos do Brasil circularam intensamente pelo evento, reforçando a interlocução regional em seguros gerais, vida, saúde, P&C, infraestrutura, agro e catástrofes naturais. A delegação destacou o papel crescente do país como polo de tecnologia, regulação moderna e experimentação de novos modelos de negócio.

O IRB(Re) teve um dos papéis mais ativos. A resseguradora levou ao evento dez executivos e patrocinou a conferência, reforçando sua estratégia de diversificação geográfica e expansão internacional. Ao longo da FIDES, a equipe cumpriu cerca de 70 reuniões e observou forte interesse do mercado na operação brasileira. Segundo Daniel Castillo, vice-presidente de Resseguros, a América Latina é prioridade nos planos de crescimento internacional do IRB(Re). Nos últimos 12 meses, 14% do prêmio retido veio de países da região, um volume de R$ 508 milhões, com alta de 22%. O executivo afirmou que o efeito da FIDES é imediato, com a oferta de negócios facultativos quadruplicando durante o evento. Para Castillo, encontros como o da Costa Rica reforçam a reputação técnica da companhia e consolidam novas oportunidades comerciais.

Fonte: Sonho Seguro – Denise Bueno

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