Mulher

Pesquisa: empobrecimento das mulheres pode ter aumentado

Uma em cada quatro mulheres no Brasil acredita que ser mulher traz mais aspectos negativos do que positivos. Esse dado faz parte da 3ª edição da pesquisa Mulheres e Gênero nos Espaços Público e Privado, lançado pela Fundação Perseu Abramo e o Sesc São Paulo. O documento ainda apontou que o nível de desigualdade e empobrecimento das mulheres aumentou em comparação à última pesquisa, realizada em 2010.

Ao todo, foram realizadas três investigações sobre a situação das mulheres no Brasil. A primeira foi feita em 2001, com 2,5 mil entrevistas domiciliares nas cinco macrorregiões do Brasil. Em 2010, foram feitas entrevistas com 2.365 mulheres e 1.181 homens. Agora, para a terceira edição foram entrevistados 1.221 homens e 2.440 mulheres. A fase qualitativa foi feita virtualmente durante a pandemia da covid-19 em 2021, entrevistando 65 mulheres cis e transgêneros.

O que aconteceu

Ser mulher é mais negativo que positivo. A pesquisa mostrou que 1 a cada 4 mulheres apontaram mais elementos negativos sobre ser mulher do que positivos. Entre as piores coisas em ser mulher, estão o machismo, a descriminação social e a violência contra mulher. A maternidade, que antes era vista como um dos pontos positivos, teve uma queda significativa nesse posto.

Segundo o relatório, a diferença da percepção pode se dar pelo “deslocamento de prioridades entre as mulheres, sobretudo as mais jovens e mais escolarizadas.”

Para a maioria delas, hoje está melhor do que antes, mas essa percepção sofreu queda significativa. Um pouco mais da metade das entrevistadas (54%) disseram que a situação das mulheres está melhor atualmente em comparação ao passado.

No entanto, apesar da maioria concordar com a afirmação, o número é menor em comparação aos anos anteriores em que a pesquisa foi realizada. Em 2001, 65% das mulheres concordavam com essa afirmação e em 2010, o percentual era de 74%.

Mercado de trabalho é onde a desigualdade entre homens e mulheres se expressa. A renda média das mulheres é 40% inferior à dos homens. Além disso, a proporção de mulheres com renda inferior a um salário mínimo é o dobro da dos homens.

O relatório também cita que houve um “aprofundamento da informalidade entre as mulheres”, enquanto há uma maior formalização entre os homens.

No geral, pesquisa mostrou que empobrecimento atinge mais as mulheres negras. O relatório mostra que 59% delas têm renda familiar de até 2 salários mínimos, cujo piso atualmente é de R$ 1.518. Além disso, os dados sugerem que são as mulheres negras que enfrentam maiores situações de pobreza e vulnerabilidade.

Entre 2010 e 2023 houve um aumento de 50% de mulheres que são assistidas por benefícios e programas sociais. A maioria delas são mulheres negras.

Metade das mulheres diz já ter sofrido algum tipo de violência. O relatório diz que, a princípio, as mulheres não admitiram ter sofrido algum tipo de violência, mas que conforme as conversas evoluíam, quase todas as entrevistadas relataram algum tipo de violência por parte dos homens.

Além disso, o racismo e assédio também apareceram como fatores. De forma espontânea, o principal tipo de violência sofrida é o físico, com 11% de menções. Já na pesquisa estimulada, a violência psicológica é a mais citada, com 43% das respostas.

Para 69% delas, as consequências destas violências atingiram principalmente a saúde mental ou emocional.

A maior parte das mulheres não pede ajuda. 71% das entrevistadas vítimas de algum tipo de violência não registraram formalmente o caso. “Os principais argumentos para desencorajar as mulheres a denunciar foram ‘[ele é] o pai dos seus filhos’; ‘ficaria preso pra vida inteira'”, diz o relatório.

Já 58% das mulheres que sofreram violência sequer pediram ajuda para alguém. Duas a cada 10 mulheres que foram orientadas a não denunciar, sendo que essa orientação partiu majoritariamente de pessoas da família (11%).

Para 1 em cada 4 mulheres o interesse em política diminuiu. Houve uma redução na percepção da importância da política para as mulheres. Em 2010, 80% afirmavam que a política tinha importância. Agora, o valor recuou para 71%. Além disso, a taxa de participação política entre mulheres é de apenas 8%.

Essa participação engloba grupos, associações, coletivos, organizações, cooperativas, conselhos ou outros movimentos. Apenas um quarto das mulheres acham que a religião deve influenciar a política.

Número de gravidez entre meninas é significativo. Cerca de 4 em cada 10 mulheres têm a primeira gravidez antes de completarem a maioridade (39%). Entre os homens, menos de 2 em cada 10 (14%) têm o primeiro filho biológico antes dos 18 anos.

Interrupção da gravidez é sem orientação. 71% daquelas que interromperam a gravidez não tiveram acompanhamento ou orientação médica. Além disso, metade das mulheres e homens são a favor de que as leis atuais sobre o aborto fiquem como estão.

No Brasil, o aborto só é permitido nos casos gravidez causada por estupro, gestações que tragam riscos para a mãe e em casos de anencefalia (fetos sem cérebro).

Quase metade das mulheres com crianças criam elas sozinhas. Em comparação ao último levantamento, de 2010, cerca de metade das entrevistadas (50%) recebiam pensão alimentícia. Agora, o número regrediu para 46%.

Fonte: UOL

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