Artigos

A ausência planejada é o indicador mais subestimado de uma liderança sólida

Introdução

Neste julho, decidi experimentar a pausa com mais inteireza. Foi uma escolha guiada pela consciência de que o corpo e a mente também são instrumentos de liderança, e que ambos precisam de descanso para seguir sustentando decisões, pessoas e estratégias com clareza. Estar presente, de fato, exige mais do que disponibilidade física. Exige presença emocional, discernimento e energia criativa. E nada disso se mantém sem pausas conscientes. Foi o que escolhi praticar.

Presença compulsiva ou liderança responsável?

Por muito tempo, fomos ensinados a associar prontidão constante à boa liderança. Responder rapidamente, antecipar problemas, manter o radar sempre ativo. Tudo isso foi valorizado como sinal de excelência.

Mas quando essa disponibilidade se torna automática, o que deveria ser presença consciente transforma-se em presença compulsiva. E a liderança, nesse cenário, deixa de ser estratégica para se tornar reativa.

Mesmo em períodos que exigiam pausa, como férias, momentos de saúde delicada ou licenças previstas, confesso que muitas vezes mantive a rotina de responder, orientar e decidir. Estar disponível parecia, à época, um compromisso inquestionável com a entrega e a confiança.

Durante as férias, decidi praticar algo diferente: descansar com responsabilidade. Minha ausência foi planejada com rigor e antecedência. Alinhei expectativas, deleguei com clareza, confiei nas pessoas que compõem a estrutura. Estive ausente, sim, mas com intenção e preparo.

Ausentar-se não significa abandonar. Significa confiar. E confiar não é improviso, é construção.

Essa é uma distinção essencial para quem ocupa posições de alta liderança. Há uma diferença concreta entre sumir e se retirar com responsabilidade. A ausência consciente coloca à prova a maturidade do time, a consistência dos processos e a solidez da cultura. E, quando bem conduzida, ela fortalece o sistema. Porque uma liderança que sabe se retirar com preparo é a mesma que sabe formar estruturas capazes de se sustentar sem vigilância constante.

O que a liderança ensina quando escolhe confiar

Controlar o impulso de checar mensagens, verificar e-mails ou perguntar ao time como as coisas estão exige mais do que disciplina. Exige inteligência emocional. É um esforço real conter o desejo de garantir, monitorar ou validar o andamento de tudo. Porque, no fundo, esse impulso está conectado a uma gestão que foi condicionada a controlar.

A liderança que se recusa a parar não é mais admirável. É, muitas vezes, uma liderança exausta, reativa e, sem perceber, refém do próprio controle. Frases como “ninguém faz tão bem quanto eu” ou “se eu parar, tudo para” são sintomas de um modelo que precisa evoluir.

A pausa consciente desafia esse modelo. Ela nos obriga a confiar de verdade nas pessoas, nos processos e na estrutura que ajudamos a construir. E isso não é simples. Requer preparo emocional e, sobretudo, coerência entre o que declaramos como cultura e o que praticamos como liderança.

Ao retornar, voltei com mais convicção. De que confiança não se declara, se constrói. E de que coerência entre o que se fala e o que se pratica é um dos pilares mais importantes da liderança contemporânea.

O executivo Kevin Cashman afirma que “o que o repouso é para o corpo e a mente, a pausa é para a liderança e a inovação”. Em um mundo que valoriza a ação incessante, eleva-se o líder que ousa desacelerar com propósito.

Foi nesse período que optei por esse caminho. Pausar com intenção. Estive mais presente com minha família, deleguei com clareza, confiei nas pessoas e na estrutura que construímos juntas. A ausência não fragilizou. Pelo contrário, revelou força, preparo e solidez organizacional. Ausentar-se com responsabilidade também abre espaço para que outras lideranças se testem, amadureçam e assumam protagonismo.

Pausar não anulou minha entrega. Não redefiniu minha identidade como executiva nem reverteu os resultados que venho construindo com consistência. Pelo contrário, reforçou uma nova forma de sustentar desempenho: mais madura, mais coletiva, mais inteligente. A liderança que transforma não é a que se mostra exausta, mas a que sabe fortalecer a estrutura sem estar sempre visível.

Essa experiência reforçou que a maturidade organizacional se comprova mais na ausência do que na presença. Que a confiança se manifesta nos acordos claros e nas estruturas sólidas. E que, muitas vezes, a pausa é o gesto mais potente de uma liderança que forma, fortalece e transforma.

Isabel Alves Azevedo

Isabel Alves Azevedo é uma líder com 20 anos de experiência na área de gente e gestão, reconhecida por sua capacidade de impulsionar mudanças transformacionais em organizações globais, especialmente nos setores de seguros e saúde.

Com um histórico de passagens por empresas renomadas como Pátria Investimentos, UnitedHealth Group, MDS Group e Grupo Dasa, Isabel Azevedo tem se destacado por alinhar a gestão de recursos humanos à cultura organizacional, gerando resultados financeiros significativos.

Atualmente, como Chief People Officer na FF Seguros, uma empresa do Grupo Fairfax Financial, ela colabora com a alta liderança para cultivar uma cultura de inovação e excelência. Isabel Azevedo é também uma referência na criação de estratégias que favorecem o crescimento individual e fortalecem a coesão organizacional, além de atuar como conselheira, colunista e coautora de livros de liderança. Ganhou o prêmio Mulher Destaque Sou Segura em 2025.

Isabel Alves Azevedo

Isabel Alves Azevedo é uma líder com 20 anos de experiência na área de gente e gestão, reconhecida por sua capacidade de impulsionar mudanças transformacionais em organizações globais, especialmente nos setores de seguros e saúde. Com um histórico de passagens por empresas renomadas como Pátria Investimentos, UnitedHealth Group, MDS Group e Grupo Dasa, Isabel Azevedo tem se destacado por alinhar a gestão de recursos humanos à cultura organizacional, gerando resultados financeiros significativos. Atualmente, como Chief People Officer na FF Seguros, uma empresa do Grupo Fairfax Financial, ela colabora com a alta liderança para cultivar uma cultura de inovação e excelência. Isabel Azevedo é também uma referência na criação de estratégias que favorecem o crescimento individual e fortalecem a coesão organizacional, além de atuar como conselheira, colunista e coautora de livros de liderança. Ganhou o prêmio Mulher Destaque Sou Segura em 2025.

Falar agora
Olá 👋
Como podemos ajudá-la(o)?