Veja quais são as cinco principais razões para o brasileiro não contratar seguros
Até fevereiro deste ano, o setor de seguros teve um crescimento real de 4,10% na arrecadação de prêmios (quantia que as pessoas pagam regularmente às seguradoras para manter suas apólices e certificados ativos). O seguro de vida, por exemplo atingiu o montante de R$ 5,84 bilhões no ano, avanço real de 6,14% em relação ao mesmo período do ano anterior, de acordo com a Superintendência de Seguros Privados (Susep). Ainda assim, entidades e empresas do setor sabem que há barreiras para uma maior cultura de adesão a seguros no Brasil. Os cinco principais entraves foram mapeados e divulgados agora.
A falta de educação financeira, os produtos inadequados, o alto custo dos produtos, assim como a desconfiança e a burocracia são as principais barreiras para o acesso aos seguros, de acordo com o relatório final do Grupo de Trabalho (GT) “Política Nacional de Acesso ao Seguro”.
“Grande parte da população desconhece os benefícios do seguro e não compreende os contratos, que são muitas vezes técnicos e complexos. Não há campanhas eficazes para desmistificar o seguro como um produto acessível e útil para populações vulneráveis”, cita o documento. “A falta de educação financeira gera a falta de empoderamento do consumidor e dificulta o processo de escolha consciente, deixando o cidadão ou a empresa com maior probabilidade de sujeição a abusos”.
O documento traz um compilado de todas as discussões realizadas e das conclusões alcançadas depois de mais de dois meses de reuniões com mais de 35 participantes com representantes de seguradores, segurados, corretores de seguro, resseguradores, insurtechs, especialistas e autoridades públicas, como o Banco Central.
Em relação ao perfil dos produtos, a avaliação do GT é de que muitos seguros não atendem às necessidades específicas de públicos como mulheres, LGBTQI+, PCDs, microempreendedores e trabalhadores informais.
Em relação aos microempreendedores, o relatório cita que 20 milhões de microempreendedores operam sem acesso a orientação ou crédito. Quando há algum nível de recursos, muitos empreendedores priorizarem questões imediatas, como crédito e pagamento de dívidas, em detrimento de proteções de longo prazo.
Um dos pontos defendidos nos debates é que a criação de produtos que atendam às necessidades específicas das MPEs pode contribuir para aumentar a formalização e preparar microempreendedores para gerir crédito e seguros.
A ausência de coberturas personalizadas para realidades regionais e segmentos vulneráveis (preços elevados tornam o seguro inacessível para populações de baixa renda) também foram citadas.
“O Brasil tem um potencial enorme de crescimento para o mercado de seguros, mas, para alcançar o objetivo precisamos traçar as estratégias corretas, sempre levando em conta que o constante diálogo com todos aqueles que compõem o mercado de seguros em sentido amplo é essencial para que seja dada concretude a qualquer estratégia”, concluiu Júlia Normande Lins, diretora de Infraestrutura de Mercado e Supervisão de Conduta da Susep e coordenadora do GT.
As recomendações, agrupadas em oito grandes temas, ajudarão a embasar o aperfeiçoamento regulatório e a construção da Política Nacional de Acesso ao Seguro, a ser criada pela Susep.
Setor de seguros deve focar em ‘experiências inesquecíveis’
Os representantes do setor admitem que experiências ruins, como negativas injustificadas de cobertura e práticas abusivas, geram desconfiança entre os consumidores. Falta de transparência no atendimento e falta de clareza das cláusulas contratuais são gatilhos que aumentam a insatisfação. Esses fatores contribuem para uma baixa percepção de valor no produto securitário por parte dos consumidores.
Outro desafio melhorar a experiência do consumidor, especialmente em segmentos desassistidos. Para isso, o uso de ferramentas digitais para simplificar o acesso a informações e facilitar a mediação deconflitos foi sugerida.
A melhora da experiência do cliente na hora da contratação também é citada em um outro estudo, produzido pela consultoria McKinsey. Conforme o “Relatório Global de Seguros 2025”, os clientes querem uma experiência de contratação híbrida, em que ele consiga buscar opções de seguros digitalmente, por meio de sites, aplicativos e plataformas, mas com interação humana na hora de tirar dúvidas ou contratar efetivamente o produto.
Os dados mais recentes da Superintendência de Seguros Privados, até fevereiro, mostram que dentre os seguros de danos, um dos destaques foi o seguro compreensivo (conjuga vários ramos ou modalidades numa mesma apólice), com arrecadação de aproximadamente R$ 1,97 bilhão, crescimento real 8,36% na comparação com o primeiro bimestre de 2024.
Já os produtos de acumulação (previdência) obtiveram contribuições de R$ 30,50 bilhões no ano até fevereiro, uma redução nominal real de 7,18% na comparação com o mesmo período do ano anterior.
Fonte: Valor Investe