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SERÁ QUE VOU DAR CONTA? A expectativa irreal e a insegurança do retorno

Em um país com altas taxas de demissões em até dois anos após retorno de licença maternidade, fico muito feliz em lembrar de como tudo aconteceu… quando descobri minha gravidez, demorei algumas semanas para absorver a nova condição de vida e as consequências. Confesso que o medo tomou conta, mas tive pessoas incríveis ao meu lado, nesse momento tão especial da minha vida, afinal eu estava prestes a assumir outro grande desafio, pela primeira vez a responsabilidade como Head de Seguros de uma multinacional importante do ramo de Telecomunicações – o auge da minha carreira.

Sempre foi uma prioridade estar em boas organizações com benefícios interessantes, um plano de oportunidades equiparado ao meu plano de carreira e horário flexível para combinar com a minha nova realidade. Empresas com licença maternidade estendida, apoio à maternidade, apoio ao congelamento de óvulos, apoio ao horário flexível e ao home office são bases fundamentais para uma proposta de trabalho encantadora, cuja entrega de resultados e alto desempenho será proporcional ao esforço da empresa em trazer profissionais sérios e comprometidos. Então, ter sido contratada grávida foi uma surpresa, mas acima de tudo uma prova sobre minha performance e comprometimento profissional.

As palavras do meu gestor ecoam na minha mente até hoje “Jennifer, primeiro: parabéns! Curte e aproveita muito esse momento por que passa rápido (passa mesmo). Eu também tenho uma bebê de 5 meses… e eu entendo que a gravidez não interfere em nada seu profissional, por isso te vejo aqui na segunda-feira!”. Então, percebi que era só mais um desafio na minha carreira e pude ter o apoio especial do grupo 4IM (antigo WIM) com profissionais de ponta do mercado que me receberam de braços abertos como nova Risk Manager da Vtal Telecomunicações.

Quando procurei entender melhor o medo da gestação, entendi que o medo na verdade é da sobrecarga, é da cobrança excessiva (que vem de dentro e/ou de pessoas próximas), é da solidão e principalmente da falta da rede de apoio nesse momento tão único. Por isso, minha rede de apoio (minha família) fez total diferença nesse período delicado das primeiras semanas, enquanto Maitê estava aprendendo a viver fora do útero e eu aprendendo a ser mamãe de primeira viagem. Foram momentos especiais, uma coleção de primeiras vezes. Não esqueço nem por um instante do sentimento transcendente, quando ouvi seu chorinho pela primeira vez e seu papai dizendo quão pequenina ela nasceu. Ali eu renasci. É emocionante lembrar de cada detalhe e de cada noite que passamos em claro. Talvez, a partir de agora, eu não veja algumas coisas pela primeira vez, mas faz parte do nosso desenvolvimento essa separação na rotina (e será somente por algumas horas).

Pensando no retorno, algumas perguntas estão presentes na minha cabeça, “como será rotina?” e “será que vou dar conta?”. Eu e meu marido estamos estudando e tentando responder perguntas simples, como “quem vai levar e buscar na creche?” e “e o dia que não tiver aula?”. Embora tenhamos uma rede de apoio incrível, entendo que minha responsabilidade materna é única e compartilhada com a paternidade do meu marido que, quando exercida, torna a maternidade menos exaustiva. Minha carreira também é especial para mim, então equilibrar os pratinhos nesse momento será necessário, um novo aprendizado em que maternidade, matrimônio, família e carreira andam juntas.

Brincar, colocar para dormir, trocar fralda, fazer inalação, dar banho, deixar a mochila da creche organizada com fraldas, roupas limpas, água fervida, esterilizar as mamadeiras e chupetas… Ah! São tantas coisas que foram adicionadas na rotina, que até a pessoa mais organizada do mundo pode se sentir perdida em algum momento. E aquela pergunta ainda está na minha cabeça “será que vou conciliar tudo?” Talvez só tenha a resposta daqui algumas semanas… Enquanto isso, viver um dia de cada vez é a ação mais importante, entendendo que é apenas uma fase que vai passar, e sei que vou sentir saudades dos dias que pareciam não ter fim, bem como dos momentos inesquecíveis.

Além das cobranças, principalmente internas, precisamos falar sobre a preocupação do retorno, o medo que pode nos desligar agora, quando devemos estar totalmente dedicadas à nossa maternidade, ele aparece sorrateiramente. O medo da demissão pós retorno da licença maternidade é real e tenho certeza que todas as mulheres sentem essa insegurança agoniante. O aumento do prazo de estabilidade pós retorno pode ser uma solução para essa insegurança que acomete tantas de nós e a flexibilidade no horário de trabalho pós retorno também precisa de uma atenção especial, pelo menos no primeiro ano de vida do bebê e da nova mamãe. Infelizmente são discussões que precisam de amadurecimento.

E então, o questionamento “será que vou dar conta?” começa a se transformar numa grande reflexão sobre o teor da própria pergunta e seu contexto histórico. Talvez esses questionamentos sobre dar conta de tudo seja uma expectativa irreal da realidade, considerando que cada maternidade é única e geralmente é compartilhada com vários outros papeis que a mulher desempenha na sociedade.

Entendi que não é preciso dar conta de tudo e que, às vezes, o básico funciona, e estar presente funciona como o melhor que pode ser feito. O tempo de qualidade pode definir o futuro da minha família e da minha carreira. Por isso, os horários precisam ser definidos para que sejam melhor aproveitados, porque cada momento deve ser abundante e valorizado, seja o tempo no trabalho ou o tempo em casa com nossa família.

Jennifer Santos Fatimo
Especialista em Seguros at Vtal Telecomunicações

Mamãe da Maitê, bebê mais sorridente que conheci, esposa, dona de casa, filha, especialista em Seguros para Grandes Riscos e Head of Insurance da Vtal. Apaixonada por Seguros desde 2015, sou uma profissional dinâmica, movida por grandes desafios com experiências em estruturação de novos processos para a área de Seguros. 

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