Colapso climático já começou e exige medidas urgentes
Cientistas apontaram quadro de colapso climático no planeta e cobraram medidas concretas no Brasil, durante audiência pública nesta terça-feira (5) da Comissão Especial de Prevenção e Auxílio a Desastres Naturais da Câmara dos Deputados.
Diante do aquecimento global em velocidade acima da esperada e do pouco avanço em acordos internacionais, eles mostraram a urgência de descarbonização, reflorestamento e monitoramento dos biomas, a fim de enfrentar a sucessão de eventos extremos. Doutor em ciências atmosféricas, o físico Alexandre Araújo da Costa comparou a atual elevada concentração de gases do efeito estufa a bombas atômicas. Esses gases se acumulam ao ponto de hoje termos 50% a mais de CO2, duas vezes e meia mais de metano e acima de 30% a mais de óxido nitroso do que tínhamos, por exemplo, em 1800. Esse desequilíbrio climático é tão grande que equivale a pegar a energia de 21 bombas de Hiroshima por segundo, alterando o ciclo hidrológico, aumentando as temperaturas globais, multiplicando eventos extremos, dilatando os oceanos e derretendo geleiras, explicou.
Costa também é professor da Universidade Federal do Ceará e integrou a equipe de cientistas que elaborou o primeiro relatório brasileiro de mudanças climáticas.
Segundo ele, a manutenção do atual cenário de emissões de gases poluentes leva a um futuro catastrófico. A opinião é compartilhada com a coordenadora do Laboratório de Gases do Efeito Estufa do Instituto Nacional de Pesquisas Espaciais (LaGEE/INPE), Luciana Gatti.
Ela apresentou mapas de anomalias de temperatura para provar que o recente aquecimento da superfície dos oceanos vai muito além do fenômeno El Niño, que tem ação mais específica no Pacífico equatorial. Estamos presenciando aumento de temperatura nos oceanos como a gente nunca viu. E, neste ano, está pior ainda. Dá para dizer que o colapso climático ainda não começou? Desculpa. Não dá. Pelo que estamos vendo, parece que está incontrolável e escapando da mão, afirmou. Gatti é química e coautora de um dos artigos mais lidos na revista científica Nature sobre o impacto do desmatamento na Amazônia Legal, impedindo a floresta de absorver CO2.
A situação é mais crítica no leste da região, em áreas de Pará e Mato Grosso. Se a gente pega o aumento da temperatura em 40 anos e o compara com os últimos 20 anos, o aumento é de 50%. Isso é o ponto de não-retorno chegando. Deveria ser decretado estado de emergência no sudeste da Amazônia, disse Luciana Gatti. Umidade Há também impacto negativo na evapotranspiração que alimenta os chamados rios voadores e espalha a umidade amazônica para os outros biomas. Entre as sugestões urgentes, Luciana Gatti pede redução do desmatamento e da produção de combustíveis fósseis (petróleo e natural), além do resfriamento da superfície terrestre por meio de reflorestamento com vegetação nativa. Relator da comissão especial, o deputado Gilson Daniel (Podemos-ES) prometeu avaliar a sugestão de apoio à rede de monitoramento dos biomas por meio de emendas parlamentares ao orçamento da União.
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