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Por que até mulheres “empoderadas” sofrem violência patrimonial

Trabalhar e nunca ter dinheiro. Não ter acesso às próprias contas bancárias. Ter bens furtados ou quebrados. Perder parte ou tudo que foi conquistado com anos de trabalho. Esses são exemplos de violência patrimonial.

Os casos da apresentadora Ana Hickmann e da cantora Naiara Azevedo jogaram luz sobre esse tipo de abuso que está na Lei Maria da Penha, apesar de pouco falado.

Segundo especialistas, o que leva mulheres independentes financeiramente a estarem sob a vigilância de homens e serem vítimas de violência patrimonial é a estrutura de abuso existente nos relacionamentos e tem como princípio a violência psicológica.

Origem da violência patrimonial

Referência na área de saúde mental e gênero, a pesquisadora Valeska Zanello, doutora em psicologia e professora na Universidade de Brasília (UnB), explica que a violência psicológica é o princípio desse tipo de abuso.

Segundo ela, o motivo para mulheres com poder e dinheiro ainda se verem vítimas de violência é a construção social da validação feminina na sociedade, que depende de ter um relacionamento ou um casamento. “Você pode ser a mulher mais famosa, não importa. A chancela de sucesso é ser escolhida e se manter naquele relacionamento. É muito fácil manipular essa vulnerabilidade da mulher e é uma violência que se traveste de cuidado, como se ele quisesse ajudar e apoiar. E, então, ainda que perceba algo estranho no comportamento do homem, a mulher se sente culpada por questionar”, diz Valeska Zanello, doutora em psicologia. 

Da violência psicológica à violência patrimonial

Os especialistas explicam que até o homem chegar a ter plenos poderes sobre o patrimônio da mulher é percorrido um ciclo de violência:

O relacionamento começa como qualquer outro, em fase de lua de mel, em que é estabelecida uma relação de confiança.

Ele, então, oferece ajuda para a administração.

Na sequência, a ajuda se torna controle e para que isso seja mantido, ele usa manipulação e violência psicológica.

Frases como “você não consegue fazer isso”, “você vai perder todo nosso dinheiro”, “você está desconfiando de mim?” ou “você não me ama mais?” são alguns dos discursos usados.

O tom do discurso violento vai aumentando e a mulher se vê encurralada.

No caso de Naiara Azevedo, ela conta que ele a ajudava na administração da carreira até que passou a controlá-la e mesmo que ela ganhasse milhões, só tinha acesso a R$ 1 mil por mês.

A cantora só foi se dar conta da violência ao se separar e perceber que alguns de seus bens não estavam em seu nome.

Com Ana Hickmann, após a denúncia de agressão contra o marido, passaram a viralizar vídeos públicos em que ele aparece criticando a aparência dela, desprezando-a e sendo grosseiro.

Eles passaram 25 anos juntos e ela conta que a discussão que precedeu o divórcio foi por descobrir dívidas em seu nome que não fazia ideia que existiam. “É uma violência psicológica que termina com a violação da vida íntima da mulher, porque as finanças são intimidade”, afirma Valeska Zanello, psicóloga.

Segundo ela, falta emancipação às mulheres: “Somos vítimas porque somos empoderadas, mas não emancipadas. Empoderamento é ter uma posição melhor nesse jogo assimétrico entre homens e mulheres, mas a emancipação é sermos individuais, sem a necessidade de validação que nos coloca em ciclos de violência”.  

Fonte: NULL

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