Brasil vive nova onda de fusões e aquisições
A pandemia do novo coronavírus forçou diversos fundos de investimentos e empresas a recalcularem as rotas e percorrerem um caminho mais digital e seus departamentos de fusões e aquisições nunca estiveram tão ocupados.
A tarefa não é apenas negociar e assinar um volume maior de M&As, mas também reaprender todo esse longo processo. Isso porque os alvos principais viraram outros: as startups.
As fusões e aquisições envolvendo negócios escaláveis, inovadores e tecnológicos deram um salto em 2021. Foram 247 M&As envolvendo startups, ante apenas seis transações do tipo em 2011, segundo estudo da empresa de inovação Distrito.
Foi um crescimento de 41 vezes em uma década. Os mundos das corporações e das startups nunca estiveram tão próximos. O que os conecta são as boas oportunidades, apesar dos bons desafios. É preciso falar a mesma língua para os negócios darem certo, analisou Rafael Assunção, sócio operador da Questum, uma assessoria para M&A envolvendo startups.
Assunção já participou de diversas fusões e aquisições, que ultrapassaram somadas a cifra de R$ 1 bilhão.
No evento de empreendedorismo Bossa Summit, Assunção traçou um panorama dos M&As no país e destacou o que muda com essa nova onda das fusões e aquisições envolvendo startups.
Antes e depois dos M&As com startups
Fusões e aquisições envolvendo startups não são movimentos novos no país: a novidade é o aumento do interesse nesses M&As.
O Do Zero Ao Topo, marca de empreendedorismo do InfoMoney, já mostrou em uma reportagem extensa que essas fusões e aquisições começaram há cerca de dez anos por aqui.
Mas, foi a partir de 2018 que atingiram um novo patamar, e explodiram nos últimos dois anos. Assunção destaca que existem grandes duas fases dos M&As envolvendo startups.
Na primeira fase, as poucas empresas que estavam interessadas em comprar startups eram as de tecnologia: TOTVS, Linx, Locaweb e Sinqia. Se a startup quisesse ser vendida, tinha que bater na porta de alguma dessas empresas, especialmente TOTVS e Linx. Era assim que o mercado funcionava: você resolvia com uma viagem para São Paulo, disse Assunção.
Os múltiplos de receita e os cheques assinados tinham valores similares nessas empresas de tecnologia.
E o objetivo era o tradicional dos M&As: fazer corporações similares expandirem suas bases de clientes, por meio de mais verticais de negócio ou de mais geografias.
Assunção pontua alguns exemplos de M&As mais recentes que seguiram esse mesmo objetivo: Rede DOr e SulAmérica; Evino e Grand Cru; e Grupo Soma e Hering.
Porém, o relacionamento entre corporações e startups mudou principalmente nos últimos três a quatro anos. Não apenas empresas de tecnologia de capital aberto prestaram atenção nos negócios escaláveis, inovadores e tecnológicos.
Empresas de tecnologia de capital fechado, startups maduras (scale-ups), empresas de setores tradicionais de capital aberto, search funds e SPACs manifestaram seu interesse comprador também.
As fusões e aquisições envolvendo startups miram outros objetivos: adquirir um novo produto ou tecnologia; adquirir um novo modelo de negócios; ou apenas para conseguir fundadores e funcionários talentosos.
Alguns exemplos foram as transações envolvendo Gerdau e Brasil Ao Cubo; TOTVS e Supplier; e Duratex e Viva Decora. Principalmente as empresas tradicionais se deram conta de que precisavam acessar esses ativos, desde bancos até varejistas. Estamos vendo uma revolução na relação entre corporações e startups, tanto em volume de transações quanto em diversidade de compradores, diz Assunção.
A varejista Magazine Luiza, por exemplo, foi a maior compradora de startups em 2021, segundo um ranking da base de dados Sling Hub Latam.
Fonte: NULL