Setor de serviços cai 0,7% em março
O volume do setor de serviços caiu 0,7% em março frente a fevereiro, segundo divulgou nesta terça-feira (14) o Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE). Trata-se da terceira queda mensal seguida do indicador, confirmando a perda de ritmo da economia neste início de ano e reforçando a expectativa de uma possível retração do PIB (Produto Interno Bruto) no 1º trimestre.
Na comparação com março do ano passado, a queda foi de 2,3%, a mais intensa desde maio de 2018 (-3,8%), interrompendo uma sequência de 7 taxas positivas nessa base de comparação.
O resultado veio pior que o esperado. As expectativas em pesquisa da Reuters eram de recuos de 0,1% na comparação mensal e de 0,8% na base anual.
Com o resultado de março, “o setor acumula queda de 1,7% nos três primeiros meses do ano e elimina a alta de 0,9% entre outubro e dezembro de 2018”, destacou o IBGE na divulgação.
O gerente da Pesquisa Mensal de serviços, do IBGE, Rodrigo Lobo, destacou que o resultado de março foi a queda mais intensa desde maio de 2018, quando houve a greve dos caminhoneiros.
A receita nominal de serviços caiu 0,6% em março, frente ao mês imediatamente anterior, mas aumentou 1,1% em relação a um ano antes. No ano, houve expansão de 4,3% e, em 12 meses, elevação de 3,5%.
Queda de 0,6% no 1º trimestre
Segundo o IBGE, o setor de serviços teve queda de 0,6% no 1º trimestre, na comparação com o 4º trimestre. Foi a primeira queda trimestral após uma sequência de 2 altas (1% no 3º trimestre e 0,6% no 4º trimestre).
O resultado do setor de serviços, que representa cerca de 70% do PIB do país, reforça a leitura feita por diversos analistas de que a economia deve ter registrado retração no 1º trimestre.
O Comitê de Política Monetária do Banco Central (Copom) avaliou nesta terça-feira que os indicadores apontam para um desempenho da economia brasileira “aquém do esperado” no primeiro trimestre, com “probabilidade relevante” de queda do PIB no período.
“O poder público está sem fôlego para investir e o setor privado não está compensando e preenchendo essa lacuna. A nova aposta para uma abertura de portas aos investimentos e para a atividade econômica é a aprovação da reforma da Previdência, mas quem garante que isso vai realmente acontecer?”, afirmou à Reuters o gerente da pesquisa.
Resultado por atividades
A queda de 0,7% em março, foi acompanhada por 3 dos 5 grandes ramos pesquisados, com destaque para o recuo de 1,7% em serviços de informação e comunicação. O volume de serviços profissionais, administrativos e complementares caiu 0,1% e o de outros serviços contraiu 0,2%.
Na outra ponta, serviços prestados às famílias aumentaram 1,4%, enquanto transportes, serviços auxiliares aos transportes e correio tiveram ganhos de 0,5%.
“Provavelmente por causa do carnaval em março, os principais impactos positivos foram os setores de transporte aéreo e de concessionárias de rodovias, já que as pessoa viajaram mais nesse período”, avaliou Lobo.
Variação do volume de serviços em março, por atividades:
Serviços prestados às famílias: 1,4%
Serviços de alojamento e alimentação: 1,7%
Outros serviços prestados às famílias: 0,7%
Serviços de informação e comunicação: -1,7%
Serviços de tecnologia da informação e comunicação: -0,7%
Telecomunicações: -1,4%
Serviços de tecnologia da informação: -2%
Serviços audiovisuais: -0,5%
Serviços profissionais, administrativos e complementares: -0,1%
Serviços técnico-profissionais: zero
Serviços administrativos e complementares: -1,4%
Transportes, serviços auxiliares aos transportes e correio: 0,5%
Transporte terrestre: -1,9%
Transporte aquaviário: -2%
Transporte aéreo: 12,2%
Armazenagem, serviços auxiliares aos transportes e correio: 2,1%
Outros serviços: -0,2%
“O setor de serviços mostra uma clara perda de dinamismo… As perdas mais importantes se observa em transporte rodoviário de cargas e em telecomunicações, que em conjunto representam 25% dos 166 serviços investigados”, destacou o pesquisador do IBGE.
Das 27 unidades da federação, 16 tiveram queda no volume dos serviços em março. Entre as localidades com resultados negativos, destaque para São Paulo (-0,9%), Rio Grande do Sul (-4,0%) e Mato Grosso (-7,7%). Já o principal resultado positivo veio do Rio de Janeiro (1%).
Risco de retração no 1º trimestre e perspectivas
Os primeiros meses de 2019 ano têm sido marcados por uma perda de força da recuperação econômica em meio a uma frustração de expectativas de empresários e percepção de que a tramitação da reforma da Previdência deverá levar mais tempo do que o inicialmente esperado.
O setor de serviços vem mostrando dificuldades em apresentar uma recuperação contínua em um ambiente de desemprego elevado, e acompanha os resultados fracos já vistos na indústria e no comércio.
A produção industrial caiu 1,3% em março, pior resultado desde setembro, e acumulou queda de 0,7% no 1º trimestre, na comparação com o 4º trimestre de 2018.
As vendas do comércio cresceram 0,3% em março, mas mostraram uma perda de dinamismo. O setor fechou o 1º trimestre com alta de 0,2% , após avanço de 0,6% no 4º trimestre.
Já a taxa de desemprego subiu para 12,7% em março, atingindo 13,4 milhões de brasileiros.
De acordo com a última pesquisa Focus do Banco Central, os economistas dos bancos passaram a estimar crescimento de 1,45% para este ano, após alta de 1,1% em 2018 e em 2017. Foi a 11ª queda seguida na previsão. Parte do mercado, entretanto, já fala em uma alta do PIB em 2019 ao redor de 1%, abaixo do observado no ano passado.
Fonte: NULL